Cotidiano

Ameaçada pela elevação dos mares, vila indígena no Alasca vai se mudar

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NOVA YORK – Os cerca de 600 moradores de uma vila nativa americana no estado americano do Alasca votaram e decidiram se mudar para fugir da elevação dos mares causada pelo aquecimento global, anunciaram as autoridades locais nesta quinta-feira.

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Shishmaref fica num minúscula ilha ao norte do Estreito de Bering, que separa os EUA da Rússia. A vila está perdendo três metros de costa marítima por ano, afirma um relatório do Corpo de Engenheiro do Exército Americano e da Universidade de Auburn, no Alabama.

A comunidade é apenas uma das dezenas de vilas indígenas do Alasca que enfrentam a ameaça crescente de enchentes e erosão de seu solo devido ao aquecimento global. Nesta semana, 89 dos moradores votaram a favor de mudar toda a vila de lugar. Foram 78 votos contra, informou à Reuters Donna Barr, secretária do conselho da vila. A contagem dos votos ainda não foi fechada porque alguns moradores votaram por carta e seus votos ainda não foram abertos.

Não é a primeira vez que os moradores decidem se mudar: eles também votaram em 2002, mas o processo foi parado pela burocracia. Outras comunidades no Alasca e nos estados de Washington e da Louisiana decidiram recentemente mudar de lugar para lidar com problemas similares.

“Não será última vez que os EUA terão que lidar com comunidades extremamente ameaçadas por mudanças climáticas e impactos e se podemos ficar aqui em meio à isso”, disse ela.

Na vila, Tommy Richter, pastor da Igreja Luterana, a única do local, diz que a comunidade está dividida sobre deixar sua história para trás.

“Há pessoas que estão aqui há gerações e não querem deixar suas casas, as heranças de seus antepassados”, diz ele.

Os moradores ainda não decidiram para onde se mudarão. Dois terrenos vazios no Alasca continental estão sendo considerados. Mas já se sabe quanto vai custar: a estimativa está em cerca de US$ 180 milhões (R$ 579 milhões). As autoridades locais estão pedindo ajuda dos governos estadual e federal com as verbas. O trabalho deve demorar mais de dez anos, diz um estudo preliminar.

A ilha tem 18 quilômetros quadrados e fica a oito quilômetros do continente. Sua economia é quase completamente dependente da pesca e da caça. Esses são alguns dos motivos que fazem com que muitos moradores queiram ficar: a construção de barreiras também seria cara, mas menos disruptiva para o meio de vida local do que a relocação da vila inteira.

“A maior parte da nossa dieta vem da terra e do mar. Caçamos renas, alces, bois selvagens, focas, leões marinhos e coletamos frutas tradicionais”, diz o morador Esau Sinnok.

Jane Stevenson, uma das coordenadoras da tribo, afirma que “está tendendo a firma porque aqui nosso povo está mais próximo dos alimentos que são a base da nossa dieta há centenas de anos”.

Sinnok afirma que alguns dos que querem ficar são das gerações mais velhas, que dizem “que querem ficar onde sempre viveram suas vidas, onde cresceram, onde seus pais e avós e os pais de seus avós cresceram e morreram”.

O prefeito, Howard Weyiouanna, é um dos que diz que ficar lá e lutar contra a erosão seria melhor e mais barato: “Qualquer das duas opções vai custar milhões, dinheiro que nós não temos”.