Cotidiano

Alunos da Amaro Cavalcanti organizam saraus na escola ocupada

f3f53573-d448-4d53-b8b3-c35aa5410397.jpgRIO ? O colchão macio, a comida caseira e até o banho quente foram deixados para trás, há um mês e três semanas, por alunos do Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, que participam do movimento de ocupação da unidade. O motivo? Chamar a atenção das autoridades. Eles querem, entre outras coisas, ter mais participação nas decisões da escola. Nesse tempo, porém, as reivindicações ainda não foram atendidas, mas, em contrapartida, a turma que participa do ato ? cerca de 40 jovens ? passou a ter contato com uma vasta atividade cultural, que antes não fazia parte da grade escolar.

Apesar da falta de direção ? afastada por recomendação da Secretaria Estadual de Educação ?, o grupo tenta manter uma disciplina diária. Todos acordam cedo, por volta das 8h, e já começam a divisão de tarefas: preparação da comida, limpeza, entre outras obrigações de casa. “Esse virou meu novo lar”, lembra um dos alunos. “Meu endereço agora é Largo do Machado”, diz outra, quando questionada sobre onde morava.

Na hora de dormir, os 40 adolescentes se acomodam na única sala de aula que tem câmera de segurança. Os colchões espalhados pelo cômodo são todos de doação, assim como os alimentos, a pasta de dente, o papel higiênico e os outros itens de “sobrevivência”. Os pais, é claro, também ajudam, mas, na hora do banho, não tem jeito. A água é fria mesmo, e aí é cada um por si.

A rotina dentro do Amaro Cavalcanti não se restringe, apenas, aos serviços domésticos. Vez ou outra, o grupo organiza visitas guiadas dentro da unidade para moradores, turistas ou qualquer pessoa que queira conhecer o lado histórico do prédio, que foi construído em 1874 e leva o nome de um jurista e político brasileiro. Estudar também faz parte do roteiro. Quem pensa que a greve de professores e antecipação das férias emperrou o avanço das matérias está enganado. De segunda à sexta-feira, professores voluntários, da escola ou não, continuam repassando os conteúdos tradicionais. O que mudou, dizem os jovens, foi a maneira de ensinar:

? Não é mais uma aula padrão, chata. Os professores perceberam que a forma de ensinar estava sendo muito massante. Agora, estamos aprendendo mais. O ensinamento está mais lúdico, os professores se tornaram nossos amigos. Também deixamos a internet de lado e estamos interagindo mais uns com os outros. ? contou uma estudante do 3º ano do ensino médio.

A grade da escola também ganhou disciplinas extras. Aulas de dança contemporânea, de capoeira, de fotografia, de música e de ioga passaram a fazer parte do currículo, tanto quanto as atividades culturais. Como exemplo mais recente, os alunos contam, empolgados, sobre o sarau organizado por eles, neste último fim de semana, que teve peça de teatro e shows das bandas Maracatu e Orquestra Voadora. A ideia do evento, segundo o grupo, foi restaurar o clima de tranquilidade do movimento, interrompido durante as ações inversas das polícia de desocupação.

Entre banhos frios e aulas de ioga, os adolescentes prometem continuar acampados na escola até que, pelo menos, parte das reivindicações seja atendida. Sair sem que o movimento dê retorno “é um tiro no pé”, eles concluem.