Cotidiano

Aliança para vitória de Maia passou por acordo por comando do Senado

BRASÍLIA — Temendo ter sua hegemonia afetada e tentando eliminar a influência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre o Congresso, o PMDB do Senado atuou de forma decisiva pela eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara. O acordo que possibilitou a vitória do deputado teve como pano de fundo a ameaça velada de que, caso não ajudassem a eleger Maia, o acordo para que os peemedebistas fiquem com a presidência do Senado no próximo ano estaria comprometido.

As mensagens foram levadas por lideranças do DEM e do PSDB. Os senadores José Agripino (DEM-RN) e Aécio Neves (PSDB-MG), presidentes de seus respectivos partidos, estiveram na linha de frente desta negociação. A interlocução foi feita, principalmente, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com o líder do partido, Eunício Oliveira (PMDB-CE), candidato a presidir a Casa no próximo ano.

— Na hora que o PMDB fizesse o presidente da Câmara, a presidência do Senado estaria com um obstáculo criado de graça. Se fosse o Rogério Rosso eleito, também não haveria reciprocidade da nossa parte. Então, eles trabalharam em legítima defesa dos interesses deles — afirma um aliado de Maia.

Hoje, há um amplo acordo para eleger Eunício Oliveira em 2017, mas o PMDB foi informado de que haveria rebelião na base contra a eleição dele caso a velha oposição continuasse escanteada dos cargos de comando. Nas contas dos senadores, o trabalho, que incluiu, além de Renan e Eunício, Romero Jucá (PMDB-RR) e Jader Barbalho (PMDB-PA), serviu para “virar” ao menos 20 votos entre os deputados do PMDB. Na operação, o filho de Jader, o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, disparou telefonemas pedindo votos para Maia.

Mas, além do próprio partido, Renan Calheiros influenciou de forma definitiva a formação da aliança do PCdoB com Rodrigo Maia, por meio de seu aliado histórico Aldo Rebelo. No primeiro turno da disputa, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) lançou sua candidatura para rachar a esquerda, que tendia a apoiar Marcelo Castro (PMDB-PI). No segundo turno, o PCdoB fechou apoio a Rodrigo Maia.

Outra legenda que sofreu influência dos senadores do PMDB para apoiar Maia foi o PR. Eles conversaram com o ex-ministro dos Transportes de Dilma Rousseff, o ex-senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), que é secretário-geral do partido, em busca de suporte. A candidatura do PR com o deputado Fernando Giacobo (PR-PR) foi derrotada no primeiro turno e a tendência era que seus votos migrassem para o outro candidato do centrão, Rogério Rosso (PSD-DF), no segundo turno. Mas, em troca dos votos do PR a Rodrigo Maia, foi prometido algum espaço na Mesa Diretora do Senado para os três senadores do partido.

Na quinta-feira, após receber a visita do novo presidente da Câmara em seu primeiro dia no cargo, Renan Calheiros comemorou:

— A vitória do Rodrigo Maia é uma demonstração sobeja de que a boa política não morreu. Ela está vivíssima e competitiva. Estou muito satisfeito com a vitória de Rodrigo Maia — disse Renan, completando que, desde a eleição de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara, em 2005, não ficava tão satisfeito com uma eleição na Casa.

Segundo interlocutores de Renan, o sentimento “anti-Cunha” e a ideia de expurgá-lo da Câmara também contribuiu para que o presidente do Senado assumisse a tarefa. Seus aliados lembram que, durante todo o período em que foi alvejado pelas denúncias de corrupção na Lava-Jato, Cunha fez cobranças públicas sobre Renan Calheiros, com o intuito de trazê-lo também para o olho do furacão.

Os senadores avaliaram ainda que, com o acordo, que tira poder do centrão, as pautas transitarão com maior fluidez entre as duas Casas e será mais fácil aprovar as medidas econômicas que o presidente interino Michel Temer deseja enviar ao Congresso:

— Como tem o acordo já feito no Senado, o natural é que encaminhássemos a Câmara para um entendimento. É verdade que todos nós trabalhamos pelo Rodrigo. Trabalhamos por uma alternativa de pacificar a Câmara em troca desse compromisso no Senado. Foi uma espécie de reciprocidade no que já está acordado — diz um dos articuladores do movimento.