Cotidiano

40% dos casos de dengue estão no oeste do Paraná

Foz do Iguaçu – O calor nem chegou depois da chuvarada das últimas semanas – lembrando que só neste mês já foram quase 600 milímetros de precipitação, enquanto a média histórica é de 210 mm para a região – e o alerta geral está sendo reforçado pela saúde pública diante de um risco de epidemias de doenças como a dengue, o zika vírus e a febre chikungunya.

O oeste do Paraná aparece numa relação preocupante de casos de dengue no atual período epidemiológico. Pelo menos 40% de todos os casos autóctones da doença registrados de 1º de agosto deste ano até a semana que terminou ontem estão nas Regionais da Saúde de Foz do Iguaçu (9ª Regional com abrangência de nove municípios), de Cascavel (10ª Regional com 25 municípios) e na de Toledo (20ª Regional, com 18 municípios).

Em todo o Paraná há 115 registros da doença, dos quais 45 no oeste.

Foz do Iguaçu tem o quadro mais preocupante. Sozinha, a cidade já soma 30 diagnósticos autóctones da doença, seguida por Cascavel, com cinco casos positivos para a dengue e três em Toledo.

Os números são da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) e indicam ainda outra informação que merece atenção dobrada: dos sete casos importados confirmados no Paraná de agosto até agora, cinco foram na região. Dois desses casos estão na regional de Foz do Iguaçu, um na de Cascavel e dois na de Toledo.

Elevado índice de residências fechadas

Para a agente do combate à dengue de Toledo, Loriane Zanotto, a preocupação é constante e, apesar de o último Liraa (Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti) concluído dia 18 de outubro apresentar uma infestação de apenas 0,6%, os casos estão aparecendo e com preocupação. E como explicar isso?

Para Loriane, a prática tem ensinado que esse antagonismo pode estar sendo provocado por duas situações e que certamente se repetem em diversas cidades do oeste.

Uma delas está no elevado índice identificado em bairros bem pontuais, enquanto em outros locais não há registros. “Temos o caso do Bairro Santa Maria, onde o índice de infestação foi de 5,5%, enquanto outros tantos foi zerado, o que, na média, derruba o índice lá para baixo. O outro fator diz respeito ao elevado número de imóveis fechados. Temos casos de bairros universitários onde até 60% das casas estão fechadas. Deixamos bilhetes pedindo para que nos liguem e agendem a visita, mas nem sempre isso ocorre e nessas casas pode haver criadouros que não são registrados. No mês passado atendemos 50 ligações para esses agendamentos, mas muitos sequer retornam”, reconhece.

Em Cascavel, o problema alertado pela Secretaria de Saúde, apesar de um índice do Liraa divulgado semana passada apontar apenas 0,77% de infestação do mosquito transmissor, estaria na dificuldade para os agentes entrarem em condomínios para fazerem as vistorias.

Risco de epidemia segue até junho de 2018

Para o enfermeiro do setor de epidemiologia da 10ª Regional da Saúde de Cascavel, Daniel Loss, o período mais crítico só está começando e se o monitoramento não for incessante e muito bem feito com os primeiros casos, pode haver uma explosão de registros já nos próximos dias. “Se estes primeiros casos não forem trabalhados minuciosamente, eliminando todos os focos dos mosquitos, a gente vai lamentar essa falta de ação em pouco tempo. Os primeiros casos são o alerta, se isso não for bem feito, de sete casos logo elas podem se tornar 500”.

Essa perspectiva de epidemia neste verão pode se fazer sentir assim que a chuva passar e o sol voltar a brilhar com força, tornando o momento extremamente propício para a proliferação do Aedes aegypti. “Mas não é só o clima que contribui. A falta de atenção e o envolvimento de todos no combate e no monitoramento são essenciais”, reforça o enfermeiro ao lembrar que, além da dengue, é grande o risco do zika vírus, da febre chikungunya e da febre amarela, que pode ser reintroduzida no ambiente urbano.

Municípios desatentos

Parece repetitivo, mas ainda há locais onde os gestores não despertaram para o enfrentamento ao vetor. Na região oest6e existem diversas cidades nessas condições. Elas não são a maioria, mas podem jogar por terra o trabalho de todas as outras que estão em sentinela. “Ainda há municípios que não despertaram essa atenção e não têm equipes mínimas de trabalho para o combate ao mosquito. A maioria tem se empenhado, mas infelizmente não são todos e não se depende só do poder público. Hoje vivemos uma situação muito preocupante porque a dengue na região é endêmica e esse risco de epidemia segue até junho de 2018, quando deve começar a esfriar novamente”, reforça, ao lembrar que são pelo menos sete meses de intensa vigília.

A reportagem tentou contato com o Combate à Dengue em Foz do Iguaçu, mas a pessoa responsável pelas informações não foi localizada.

Zika e chikungunya

Quanto ao zika e à febre chikungunya, não há casos confirmados na região no atual ciclo epidemiológico. Em todo o Estado foram identificadas, de agosto até agora, duas pessoas com chikungunya, uma em Paranavaí e outra em Rio Bom. Não há registro de zika vírus no Estado.