A palavra offshore, do jeito que vem aparecendo no noticiário nos últimos tempos, é o nome dado a contas e empresas abertas em territórios conhecidos como “paraísos fiscais”. A última offshore que foi notícia foi a de Eike Batista, uma conta no Panamá usada para o pagamento de U$16,5 milhões de propina para o governador Sérgio Cabral, o que acabou levando o antigo homem mais rico do país para a prisão. Só que a história do empresário com a palavra é mais antiga.
No começo dos anos 90 Eike foi atleta, entusiasta e campeão brasileiro e mundial de offshore, um esporte que não envolve nada ilícito, só lanchas caríssimas em alta velocidade. E pilotos famosos como Chuck Norris.
A primeira vez que o nome “Eike Batista” apareceu em O GLOBO foi na página de esportes, no primeiro dia do ano de 1989, quando Eike, na sua lancha “Alfabarra”, tentou mas não conseguiu vencer a segunda etapa do campeonato brasileiro de offshore disputada em Angra dos Reis. O esporte, corridas de embarcações com motor de explosão, é chamado motonáutica, e já foi até modalidade olímpica, em 1908, nos Jogos de Londres. Quando é disputada em águas oceânicas é chamado de offshore, categoria na qual Eike acreditava que poderia se tornar uma “Fórmula 1” de barcos em questão de popularidade, como afirmou ao jornal, ainda em 1989.
No ano seguinte, de coadjuvante, Eike Batista virou um astro do esporte. Venceu várias etapas, incluindo uma na praia de Ipanema, e acabou se tornando campeão brasileiro, ganhando destaque nas manchetes ao lado de ídolos do esporte da época, como Ayrton Senna.
DUELO COM CHUCK NORRIS
Já tendo vencido no Brasil, Eike foi disputar o campeonato americano da categoria ainda em 1990. O elenco de pilotos contava com atores famosos para popularizar o esporte. Eike chegou na última bateria disputando o título com Don Johnson, o famoso detetive de “Miami Vice”, e o lendário Chuck Norris, que dispensa apresentações. Don venceu a corrida, Eike ficou em segundo, mas quem levou o título foi Chuck Norris, que chegou em quarto lugar, somou mais pontos no total e reafirmou sua condição de mito em tudo que faz.
Norris se aposentou das lanchas depois do triunfo, Johnson voltou aos estúdios, e o caminho ficou livre para Eike se tornar campeão no “Offshore Professional Tour”, o mundial da categoria, disputado no fim do ano na Flórida. Contratou os melhores mecânicos, o melhor co-piloto e, para sempre, pôs no currículo, que hoje está manchado pela prisão e pelo escândalo da propina de sua offshore, o título de campeão mundial de um esporte.
Foi pelo triunfo, e não por qualquer realização de suas empresas, que Eike foi destaque pela primeira vez no New York Times. Com o título ?Piloto brasileiro de superboat tira sua velocidade do sangue?, a reportagem mostra o empresário se comparando a Senna e Piquet e explicando o motivo de brasileiros irem bem em esportes de velocidade: falta de fiscalização.
?A velocidade está no sangue da maioria dos brasileiros. As pessoas dirigem o mais rápido que podem. Existem limites oficiais de velocidade, mas pouca fiscalização. É uma cultura diferente?, declarou na época o campeão mundial de offshore.