Cascavel – Janeiro é considerado pelos lojistas um mês em que tradicionalmente o movimento no comércio é mais fraco e, por isso, as grandes redes realizam suas famosas liquidações de queima de estoque. Contudo, neste ano, o movimento foi bem menor que o esperado, segundo empresários.
O presidente do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Cascavel e Região), Leopoldo Furlan, observa que, mesmo que a liquidação não dê o retorno esperado para quem vende, agrada quem compra. “Esse período pode não ser lucrativo, mas, se o lojista não vender, pode ter outro tipo de prejuízo se o produto estiver perto do vencimento ou sair de linha, por exemplo. Esse tipo de liquidação beneficia muitas vezes o consumidor, que precisa de determinado produto, adquire-o por um bom preço dentro das suas necessidades”.
As promoções costumam se concentrar nos primeiros dez dias do ano, até para aproveitar alguma sobra do 13º salário, ajuda a fechar alguma meta do ano e já abre espaço para renovação do estoque. Só que, sem poder permitir aglomerações, até mesmo chamar o consumidor está mais difícil neste ano.
Gerente de uma loja de roupas femininas no Centro de Cascavel, Anderson dos Santos conta que o movimento foi bem menor que o esperado. “Começamos nossa liquidação na mesma data de todos os anos: 2 de janeiro, mas, apesar dos descontos de até 50% nos produtos, o movimento foi bem menor do que esperávamos”. O jeito, segundo ele, foi estender a liquidação: “Vamos manter alguns preços mais baixos nas próximas semanas na esperança de que o movimento melhore”.
Nem os preços da última Black Friday repetidos agora despertaram o interesse dos clientes em uma ótica da cidade. “Começo do ano é tipicamente mais parado no nosso ramo, então fizemos a promoção para atrair o público. Estamos ainda com descontos nos óculos, incluindo armações, e em algumas peças de óculos de sol selecionadas. Estão com o mesmo preço da Black Friday do ano passado, só que, mesmo assim, a procura está pequena”, conta a vendedora, que acrescenta: “Está sendo frustrante.”
As esperadas placas de 70% de desconto ainda são encontradas em algumas lojas de departamento, mas, em uma delas, o gerente contou que o movimento nas duas lojas físicas do grupo na cidade foi baixo. “As pessoas realizaram grande parte das suas compras em dezembro e começaram o ano se preocupando em quitar contas que ficaram pendentes de 2020 por causa da pandemia. Outros preferem guardar o dinheiro para pagar o IPVA [Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores] e reajustes [de aluguel, escola etc]”, explica o funcionário. Segundo ele, o movimento deste ano foi 50% menor do que havia sido em janeiro de 2020.
On-line
Os empresários apostaram também em vendas nos sites e nos aplicativos, mas mesmo assim sobrou produtos.
Segundo o gerente de uma loja de eletrônicos, o fluxo de vendas pela internet não foi o esperado, especialmente no setor de informática. “Muitos clientes da região compraram on-line e retiraram aqui, no estabelecimento, porque tiveram mais opções, tempo reduzido de espera do produto e preferiram não enfrentar fila para efetuar o pagamento, mesmo assim, não vendemos metade do que foi disponibilizado no nosso site. Ano passado, a procura pelos mesmos produtos nessa época do ano foi muito maior”.
Sem desânimo
Para o presidente do Sindilojas, Leopoldo Furlan, toda tentativa de aquecimento das vendas para a retomada financeira das empresas é válida e deve continuar: “Os lojistas devem apostar ainda em outras liquidações para atrair a atenção dos clientes e conseguir garantir o movimento até aas datas mais importantes, como o Dia das Mães, em maio”, projeta.
Reposição de estoque com cautela
Leopoldo Furlan analisa, que mesmo vendendo muitos produtos que estavam nas prateleiras, a reposição de estoques em alguns segmentos ainda deve ser lenta nos próximos meses. “O estoque das empresas já era menor, porque o investimento dos empresários ano passado foi baixo. Os estoques estavam mais baixos do que o habitual devido à pandemia e essa cautela na reposição deve continuar. Até mesmo as lojas maiores não devem apostar em compras muito volumosas, pelo menos até março”, comenta.
Um dos motivos, segundo ele, é a própria falta de muitos produtos, insumos e materiais. “O que acontece é que várias indústrias programam férias coletivas para os meses de dezembro, janeiro e até começo do mês que vem e isso reflete na fabricação de materiais ou de confecções, que sentem a falta de um ou outro item para finalizar o produto. Também tem quem prefira começar a fazer os pedidos só em fevereiro, já pensando no começo do inverno”, acrescenta.
Consumidor que aproveitou as promoções diz que valeu a pena
Muitos consumidores deram uma segurada no fim do ano e deixaram para gastar dinheiro neste início de ano para tentar economizar. O professor de artes marciais Júnior Souto Oliveira foi um deles: “Os preços estavam muito altos em dezembro. Deixei para comprar o presente de Natal do meu filho agora, em janeiro, e economizei mais de R$ 200 em uma bicicleta”, comemora.
As oportunidades de compras são diversas, inclusive de produtos de mostruários. O vendedor Rodrigo Mello explica que itens como eletrodomésticos e móveis costumam ter preços mais acessíveis por ficarem expostos nas lojas e que, por isso, a durabilidade ou a qualidade pode ficar comprometida. “Às vezes, continua impecável, mas, por estar fora da caixa, custa menos, o desconto é maior. Isso é comunicado ao consumidor e, por isso, qualquer tipo de defeito, diferença, arranhado, é descrito na nota fiscal”, esclarece o vendedor.
Juliana Dalmontte, de 24 anos, é estudante de fisioterapia em Guarapuava e aproveitou as férias na casa da família para visitar lojas e dar “uma olhadinha” nas promoções. “Eu sempre falo que são os meus achadinhos de janeiro. Dá para aproveitar e comprar até casacos ou botinhas e trocar algumas peças do guarda-roupa. Pode ser que não seja ‘da moda’, mas a gente usa a criatividade e economiza para o resto do ano”.