Cascavel – O Brasil é considerado um dos maiores produtores e consumidores de leite do mundo. Estima-se um consumo per capital anual de 166 litros por habitante ao ano. Mas, essa realidade vem mudando drasticamente, ao observar principalmente o preço do litro nas gôndolas dos supermercados. Ele já chega a custar mais que o litro da gasolina e do etanol.
Baseado em levantamento feito pelo IBGE, o Brasil tem, hoje, cerca 1,2 milhão de propriedades que se dedicam à atividade leiteira. Do total, 955 mil são classificadas como de agricultura familiar, com áreas entre 5 hectares e 100 hectares. Eles respondem por quase 89% de toda a produção leiteira procedente de unidades de agricultores familiares.
Pressionado pela inflação dos alimentos que no acumulado cresceu 10% desde o início do ano, a média paga pela população é de pouco mais de R$ 6 o litro. No campo, a situação começou melhorar um pouco, depois que muitos produtores abandonaram a atividade no começo do ano, por não suportarem os custos de produção. O valor dos derivados de leite também acompanha essa tendência de alta. O quilo da mussarela, por exemplo, já supera R$ 80 em alguns supermercados de Cascavel. A gastronomia sente na pele e se vê obrigada a fazer o repasse deste custo para a população.
Renda e Nutrição
Todos os dias, bilhões de pessoas consomem leite no mundo, nas suas mais diversas formas. Ele apresenta importância econômica como fonte de renda e sobrevivência para grande parte da população mundial, além de ser uma fonte vital de nutrição. No Brasil, a indústria de laticínios é o segundo segmento mais importante da indústria de alimentos.
A equipe de reportagem de O Paraná conversou com o consultor José Manuel Mendonça, membro da Câmara Técnica do Conseleite-Paraná e uma sumidade estadual em questões relacionadas à produção de leite. Ele utiliza dois argumentos para explicar o atual momento desta atividade. O mundo vive um cenário de inflação. O elevado custo dos insumos básicos reflete de maneira direta no preço pago pelo consumidor. As commodities milho e soja ainda continuam encarecendo o custo de produção. A saca da soja é vendida hoje a R$ 166 e a do milho, a R$ 76. “E não há perspectiva de baixar mais que isso”, comenta Mendonça.
O segundo ponto, conforme apontamento do membro da Câmara Técnica do Conseleite, é o fato de o Brasil e os principais países produtores, virem de um período sequencial de safras ruins e pouco produtivas. A guerra travada entre Rússia e Ucrânia também gerou reflexos negativos para a produção mundial de grãos. “E não é uma canetada que vai colocar um ponto final nesta inflação galopante”.
As safras ruins – conforme José Manuel Mendonça -, respingaram na qualidade dos grãos utilizados para silagem e alimentação dos animais. “Por isso a produção de leite está baixa e o preço ao consumidor lá em cima”. A inflação tem afetado a capacidade de consumo de toda a população, não somente do Brasil, mas do mundo. Já na porteira adentro, o produtor de leite tem usufruído de um momento mais equalizado, em um cenário bem distinto em comparação com o início deste ano, quando muitos abandonaram a atividade devido ao preço do litro pago ao produtor chegar a pouco mais de R$ 2. Hoje, a situação é um pouco mais favorável, com o preço do litro ao produtor na casa dos R$ 3,70. “O aumento do rendimento do produtor ameniza um pouco o prejuízo sentido no último ano. 2021 foi um ano terrível para a atividade. A médio prazo, não vejo perspectiva de baixar os preços nos estabelecimentos comerciais”.
Oscilação
Para os próximos meses, a perspectiva é de oscilação nos preços no mercado consumidor. “Se o comprador conseguir fazer frente à crise econômica e conseguir continuar custeando o preço do litro hoje nas gôndolas, na faixa de R$ 6, é possível alcançar uma estabilização. Caso contrário, o preço até pode baixar, mas lá na frente vai subir novamente, ante a falta de produto para abastecimento do comércio”.
Se a inflação não for contida, o litro do leite custando R$ 10 não será utopia. Os preços verificados atualmente não só por conta da falta de alimento, mas sim pelo excesso de demanda.
Crédito: Vandré Dubiela