Reportagem: Cláudia Neis
Cascavel – A movimentação de compra e venda de imóveis, durante a pandemia da covid-19, surpreendeu até mesmo os especialistas do setor. “O mercado imobiliário sentiu nos primeiros 30 dias da pandemia. O clima de insegurança e as medidas adotadas deixaram a população mais cautelosa. Por isso, acreditávamos que, além de uma redução nos preços dos imóveis, a situação econômica incerta do País iria dificultar as vendas. Entretanto, para nossa surpresa, nesse período já registramos um aumento em torno de 15% nas vendas se comparado ao mesmo período do ano passado”, revela o presidente do Sistema Secovi (Sindicato da Habitação e Condomínios) Paraná, Luiz Antonio Langer.
Segundo ele, o aumento foi impulsionado pela queda de juros (a básica e a do crédito imobiliário) e, especialmente na região oeste, pela supersafra e pelos preços recordes das commodities, principalmente a soja. “As taxas de juros baixaram significativamente e são as menores dos últimos 20 anos. Por causa disso, as pessoas estão tirando dinheiro de aplicações que não estão rendendo e investindo em imóveis. Há também aquelas pessoas que têm empregos mais estáveis, como servidores públicos, que aproveitaram os juros baixos para se livrar do aluguel, pois é mais vantajoso. Na região oeste, o aumento do comércio deve ser ainda maior, pois a base da economia é o agronegócio e eu sempre digo que ele vai ser o grande impulsionador do mercado imobiliário. O preço da soja e do boi está excelente, a soja principalmente, os produtores estão vendendo a soja da próxima safra para garantir o preço e esse dinheiro está, em grande parte, sendo investido em imóveis”, ressalta.
“Migração” de apartamento para casas
Já no setor de locação, o que ocorreu foi uma onda de migração. “Com a pandemia, a população permaneceu mais em casa, muitos trabalhando em casa e, com isso, iniciou-se uma onda de migração de moradores de apartamentos que buscam por casas. Tem muita gente deixando a segurança que os prédios oferecem em virtude do bem-estar que uma casa, mais ampla, com jardim e afins, oferece”, ressalta Luiz Antonio Langer.
Ele acredita que esse movimento vá pressionar para baixo os aluguéis de apartamentos, e, em contrapartida, aqueça segmentos como segurança e monitoramento, jardinagem e manutenção.
Já os imóveis comerciais tiveram uma debandada, especialmente de escritórios que muitas vezes ocupavam andares inteiros. Também houve a devolução de salas grandes e de aluguéis elevados. Segundo Langer, isso ocorreu pelo aumento do home office e pela mudança para espaços menores e mais baratos.
Por outro lado, ele já avistou um movimento contrário, de empresas em expansão que precisam de espaços maiores. “Com o tempo, o mercado tende a se adaptar. Algumas salas podem ser divididas em duas e voltar a serem ocupadas”, resume.
Preços nas alturas, falta de material e obras paradas
Mas nem tudo são flores no setor imobiliário. Quem está com obras em andamento ou em vias de iniciar vem sofrendo com a falta de materiais de construção no mercado e com aumentos de até 90% no valor dos produtos. “Muita gente aproveitou o período que está mais em casa para fazer aquela reforma ou construção que vinha planejando. Com isso, o consumo de material, especialmente no varejo, aumentou bastante. Ao mesmo tempo, ante a iminência de uma crise, a indústria reduziu e até paralisou a produção, e o resultado agora é a falta de material e o aumento significativo de preços”, explica o vice-presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) Paraná Oeste, Ricardo Parzianello.
Os valores elevados dos materiais atingem principalmente as obras públicas. “Pra se ter uma ideia, o cimento aumentou cerca de 30%, o aço 20%, os canos de PVC chegam a 70% de aumento e os materiais elétricos, muitos com base no dólar, sofreram reajuste de 90%. Isso trouxe um problemão para as obras em andamento ou mesmo aquelas que estavam programadas para começar. Grandes construtoras geralmente pegam obras com preço fechado e não têm como absorver esse aumento todo. No caso das obras públicas é a mesma situação. Uma série de empresas que iam iniciar obras públicas preferiu rescindir os contratos porque seria impossível executar a obra com os valores de materiais que constam em contrato”, ressalta Parzianello.
Segundo ele, o setor está em grande parte paralisado, pois não há como absorver os preços dos materiais. “Quem ia começar obras agora vai esperar a situação se normalizar, o que deve ser lá pelo fim de novembro, início de dezembro, já que as indústrias estão voltando a produzir e têm um período até que o material volte a ficar disponível. Até lá, a expectativa é de que os valores tenham uma redução e que essas obras sejam iniciadas, mas, com relação à que já estão em curso, isso deve impactar em um acréscimo ao valor final dos imóveis”, prevê Parzianello.
Procon pede providências
Devido ao aumento nos preços de materiais de construção, o Procon-PR comunicou a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) para que providências sejam tomadas.
A chefe estadual do Procon, Claudia Silvano, explicou que uma pesquisa realizada pela Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) com 462 empresas de 25 estados constatou alta significativa nos preços. “Por se tratar de situação que não atinge somente o Paraná, comunicamos a Senacon para que, de maneira rápida, possa agir e assim minimizar os impactos para o consumidor”.