RIO, 29 (AG) – Logo na primeira das 140 páginas, imagens dos atores Domingos Montagner e Umberto Magnani e um breve texto deixam clara a homenagem: “Com amor e em memória dos queridos e grandes artistas Domingos Montagner e Umberto Magnani. Em tudo e por tudo”. A declaração abre “Pequena sanfona da memória”, encadernação que funciona como uma espécie de álbum de memórias e que será distribuída ao elenco e à equipe técnica da novela “Velho Chico”, nesta sexta-feira, dia em que a trama chega ao fim. Ela destaca os dois atores, que morreram em momentos distintos do folhetim.
Magnani, que vivia o padre Romão, foi vítima de um acidente vascular encefálico em 27 de abril e substituído por Carlos Vereza. Já Montagner, intérprete do protagonista Santo, morreu afogado após um mergulho no Rio São Francisco, no último dia 15. A presença do ator na trama continuou pela lente da câmera, como se o olhar dele se fundisse ao do telespectador.
A homenagem em formato de livro partiu do diretor artístico da novela, Luiz Fernando Carvalho, em julho, logo após a comemoração do centésimo capítulo da história de Benedito Ruy Barbosa escrita por seu neto Bruno Luperi.
– É uma homenagem a todos nós, à relação dos artistas e da equipe com seu ofício, tão forte e ao mesmo tempo tão frágil, por isso tão sagrada. É isso que estou expondo e oferecendo – explica o diretor, em entrevista por e-mail.
Ele diz que não se trata somente de um “livro de fotos”, mas de “milhões de afetos que seguirão ressoando na sanfona da nossa memória”.
– Somos pessoas que resistem na caminhada, dia a dia, independente da luz ou da sombra, lá estaremos nós, caminhando no limite tênue entre a queda e o voo mais luminoso – reflete Carvalho, que volta à TV na minissérie “Dois irmãos”, prevista para janeiro do ano que vem.
O processo de preparação da publicação começou em agosto e durou cerca de 30 dias, organizado pela jornalista Melina Dalboni com pesquisa da assistente de cenografia Mariana Villas-Bôas e projeto gráfico de Tomás Biagi. Para compor a lembrança, foram quase 800 imagens pessoais enviadas pela equipe, além de cartinhas, bilhetes, e-mails, selfies, frames e até capturas de telas de conversa via WhatsApp. Algumas gravações mostram o show de Mariene de Castro, Lucy Alves e Tom Zé na festa do centésimo capítulo.
Entre os afetos há desenhos feitos à mão de cenários e figurinos, anotações da direção e da continuidade, um poema escrito pelo ator Marcelo Serrado (o Carlos Eduardo da história) sobre a trama e o e-mail enviado pela mãe do ator Lucas Veloso (que interpreta o personagem Lucas) pedindo uma chance para o filho a Luiz Fernando, além de muitos registros de filmagens na Bahia e em Alagoas feitos por atores como Camila Pitanga, Irandhir Santos e pelo próprio Domingos Montagner, que surge em várias delas.
– É uma espécie de rolo de câmera de celular, em que você passeia pelas centenas de imagens e vai lembrando exatamente cada momento que viveu. É o retrato de um grupo coeso que trabalhou intensamente, sempre com muito entusiasmo e amor, por acreditar numa entrega profunda ao ofício e ao trabalho que fez de “Velho Chico” uma novela tão especial, com questões fundamentais do nosso tempo, como a sustentabilidade e a política – explica Melina.