Cotidiano

Uma história de amor que começou "errada" e que acabou no altar

globo-6pzssl0o63oq0aggico_original.jpgRIO – No dia 2 de fevereiro de 2017, Claude Troisgros e Clarisse Sette Troisgros fazem
uma década juntos. A data já está, como em todos anos, bloqueada na agenda do
chef. Neste dia, curtem um jantar a dois e dormem no Copacabana Palace. Mas
Clarisse lembra, rindo, que eles começaram errado. E segue contando a história
dos dois:

? Eu era gerente do GNT e ele fazia parte do
casting, como ainda faz. Eu negociava contratos e a parte comercial. Teve o
episódio de uma viagem para a África do Sul que gerou um mal-entendido e eu bati
o pé e disse que iria cancelar a viagem. Naquele momento, ele começou a me
detestar. Mas, à tarde, Claude me ligou, revendo sua posição.

O capítulo seguinte foi uma reunião com a equipe do
programa para planejar a tal viagem. Clarisse, 43, disse que Claude, 60, mal
conseguiu disfarçar o desconforto quando soube que ela também embarcaria:

? Eu, ato contínuo, relaxei quando resolvemos aquele mal-entendido. Só que
ele foi super frio ao descobrir que eu ia. Acho que ficou com vontade de
desistir de novo!

No dia do embarque, Claude se manteve educado, mas distante. Clarisse conta
que chegou toda fofa porque a situação do trabalho, afinal, já havia sido
resolvida. Passaram uma semana juntos.

? O Claude é muito fácil de lidar e eu também. Não tínhamos mais motivos para
brigar. Tudo funcionou e a gente ficou muito próximo. Quando voltamos, ele me
procurou. Foi tinhoso, insistente. Como Claude é muito sedutor, foi muito
difícil não me envolver .

Apesar de sedutor, o chef não sabia dizer ?Eu te amo?. Ele mesmo conta que
foi com Clarisse que aprendeu a dizer essas palavras tão mágicas para qualquer
relacionamento, seja amoroso ou familiar.

? Por uma questão cultural, na França a gente não se
abre muito para os outros. Até meus 20 e poucos, meus pais nem deixavam eu me
abrir. Nunca tinha dito ?Eu te amo? nem para o meu pai, nem para minha mãe, nem
para os meus filhos. Já a Clarisse, até por conta dos anos de terapia, fala isso
o tempo todo e pra todo mundo. Outro dia, escrevi ?Eu te amo? no final de uma
mensagem para a minha filha e ela respondeu perguntando se eu tinha bebido! ?
ri.

Terapia de casal os dois já fizeram. Mas o inusitado é que foi antes do
casamento, que aconteceu em 2009. Claude é pai de Thomas, de 34, e Carolina, de
32. Clarisse tem Julia, de 25, e Bento, de 14.

? Foi fundamental. Como as coisas aconteceram muito
rápido com a gente, era normal fazer de tudo pra se adaptar ao outro. Só que aí
os defeitos ficam escondidos. Foram só três sessões, mas elas criaram um vínculo
que nos deixou muito seguros para o movimento que estavámos fazendo ? afirma
Clarisse.

Para os dois, o papo de ?preservar a individualidade?
não é lugar comum. Vivem isso de uma forma bem natural.

? Saio para jantar com amigos homens e não tem nenhuma questão. O Claude, por
outro lado, não tem uma vida social tão individualizada. Só que ele ama viajar.
Se não posso ir junto, ele pega a moto e vai pra Búzios. Além disso, todo ano,
faz uma viagem de um mês com algum amigo.

? Uma das melhores coisas é liberdade com respeito. Cada um pode fazer as
suas coisas, sem se sentir preso ? ele diz.

Quando não combinam em algo, negociam. Claude é organizadíssimo. De Clarisse,
já não se pode dizer o mesmo.

? É o jeito dela, mas me acostumei. Eu coloco tudo no mesmo lugar: chave,
óculos, celular. Vejo um esforço grande da parte dela para melhorar.

E aí Clarisse admite que tem mesmo tentado mudar:

? Sou o contrário dele, mas me esforço para ser mais
organizada. Fico atenta para não mudar nada de lugar. Quando a gente viaja, ele
chega ao ponto de querer saber a hora que vou acordar no dia seguinte.

? Gosto de me programar. Mas a única coisa que me irrita
mesmo é atraso, porque francês é todo certinho nisso ? diz ele.

Enquanto Claude continua com o programa ?Que marravilha?, no GNT, e com os
restaurantes do grupo que leva seu nome, Clarisse fez, há seis anos, um mudança
brusca na vida profissional. E o chef foi fundamental para isso:

? Trabalhava com TV e mudei para o Terceiro Setor. Não
seria possível se o Claude não tivesse atento à minha angústia. Fui ficando
desconfortável com esse novo modelo de mercado corporativo e foi ele quem me
mostrou o que eu não estava conseguindo ver ? lembra Clarisse, que hoje é
diretora voluntária do abrigo Lar Luz e Amor, em Bonsucesso, e diretora
administrativa da ONG Movimento Humanos Direitos.