Cotidiano

Oeste: De terra “abandonada” à “menina dos olhos” do Paraná

Oeste: De terra “abandonada” à  “menina dos olhos” do Paraná

Já foi terra de espanhóis, argentinos e paraguaios. Anexado ao Brasil após um tratado com a Espanha, o Oeste do Paraná foi emancipado politicamente em 1853. Contudo, de acordo com o livro História do Paraná: séculos XIX e XX, a região ficou “abandonada” e “esquecida” pelo governo brasileiro durante muitos anos. Enquanto isso, argentinos e paraguaios desenvolviam alguns pequenos negócios de erva mate na região.

Foi a partir de 1930, com o Governo Getúlio Vargas e com o programa “Marcha para o Oeste”, que a região passou a ser integrada aos centros de decisão política e econômica do Estado. Nesse período, o governo emitiu decretos fazendo retornar ao poder do Estado as concessões das empresas argentinas e paraguaias.

Na década de 1940, o governo passou a fomentar as empresas privadas para lotear e organizar as terras do Oeste. O território, então, começou a receber descendentes de italianos e alemães vindos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que passaram a moldar o Oeste como conhecemos atualmente.

Apesar de ser uma das regiões mais novas do Estado no quesito colonização, hoje, o Oeste é considerado uma das principais potências do Paraná em muitos setores e é “a menina dos olhos” do Estado. Isso é resultado do trabalho e organização dos “oestinos” que hoje colhem os frutos do protagonismo da região.

 

Terra de cases de sucesso

Não obstante as conquistas do passado, hoje, a região contribui profundamente para decisões políticas e econômicas do Estado e também do Brasil. O Oeste é exemplo de alguns desses cases de sucesso que deveriam ser reproduzidos em muitas regiões. O POD (Programa Oeste em Desenvolvimento), é um destes exemplos. Fundado dentro da Caciopar há mais de 10 anos, o conselho de desenvolvimento regional já caminha com as próprias pernas e possui um grau de reconhecimento e respeito em todo o Estado.

O vice-presidente do programa, Alci Rotta Junior, explica que o trabalho do Conselho visa defender pautas regionais e a pensar o futuro da região. “Nosso objetivo é unir as forças e os atores da região Oeste, forças públicas e privadas, empresas, cooperativas, desenvolvendo o trabalho por meio de câmaras técnicas e defender pautas estratégicas. Esses conselhos trabalharam a médio e longo prazo, então, isso tudo acaba dando um norte com mais planejamento para as cidades e região. A gente prepara o nosso território para o futuro, melhorando o ambiente”.

 

Indústria e gestão

Em que pese à região Oeste possuir base econômica na produção de alimentos, houve avanço para ter excelência em outros processos, como a potencialização de uma proposta tecnológica de inovação e também da indústria já fixada na região.

O empresário do ramo de fios de algodão, Rainer Zielasko, afirma que as práticas em gestão da indústria são referências para outros ecossistemas. “A visão sistêmica na forma de administrar tem sido um diferencial, tanto é que a Fiasul, com a inauguração dessa nova fábrica deve estar figurando entre as dez maiores fiações do Brasil. O diferencial que se tem é que quando se produz commodities, tem que ser muito bom para conseguir sobreviver em um setor tão competitivo como é esse”, explica.

 

Oeste fez Governo Federal repensar pedágio

Exemplo desse protagonismo que teve o cordão umbilical no Oeste foi a luta pela alteração do modelo da nova concessão das rodovias do Paraná. O movimento iniciou dentro do POD e o reconhecimento regional da organização aumentou o tom da voz do setor produtivo. Isso fez o Governo Federal repensar um modelo de pedágio exclusivo para o Paraná.

“O Governo Federal elaborou um projeto de concessão de rodovias que seria aplicado em todo o Paraná. Contudo, o setor produtivo analisou o projeto e a gente sabia que a outorga onerosa iria limitar a questão do desconto e não teríamos uma tarifa baixa. Nasceu aqui [oeste] a proposta da alteração do modelo do pedágio, posteriormente a ideia foi encampada pelo Governo do Paraná. O então ministro da Infraestrutura, Tarciso Gomes de Freitas, veio para cá, apresentamos a nossa sugestão e o Paraná foi o único estado onde teve a alteração no modelo. É claro que ainda não terminamos a luta, continuamos vigilantes”, disse Rotta.

 

 

Maior produtor de alimentos do Paraná

O Oeste concentra hoje o maior VBP (Valor Bruto da Produção) paranaense. Em linhas gerais, isso significa que a região é a maior produtora de alimentos do Paraná.

Os valores e números expressivos são fruto de trabalho e gestão das iniciativas públicas e privadas. Na avaliação do prefeito de Toledo, Beto Lunitti, o processo que transformou o município no maior VPB do Estado foi longo e iniciou ainda na colonização do território.

“Esses valores expressivos vêm de um trabalho importante de algum tempo. Eu diria que tudo isso começou já no processo de colonização do município, quando a empresa Maripá fez todo o processo de divisão agrária por pequenas propriedades e, a partir daí, todo o empenho do nosso produtor e um processo importante de colaboração no sentido de construção se desenvolveu na forma de cooperação, de trabalho em conjunto com organizações de classes e cooperativas, isso tudo foi construindo um ambiente de afetividade”, relata o prefeito.

O prefeito destaca o papel do Poder Público, porém, faz questão de ressaltar a importância de quem coloca a mão na terra. “É importante dizer que sempre o Poder Público esteve apoiando, mas o grande protagonista disso foi o homem e a mulher do campo que se dedicaram, colocaram a mão na terra, que criaram os seus filhos e os incluíram dentro dessa proposta da produção de alimentos”, completa.

 

Paraná livre da aftosa

Em 2021, o Paraná foi reconhecido como área livre da febre aftosa, sem vacinação, pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal). O selo sanitário foi concedido após uma longa batalha, que teve o embrião exatamente na Região Oeste. A iniciativa do POD também foi abraçada posteriormente pelo Governo do Paraná.

O resultado da longa batalha já traz retorno para o produtor paranaense.  “Agora podemos participar de mercados que até então só Santa Catarina vendia. E o mesmo produto agora é comercializado com o valor de 30% superior em outros países. Essa foi uma das maiores conquistas do programa”, avalia vice-presidente do POD, Alci Rotta Junior.

 

A “menina dos olhos do Paraná”

A região não se limita em ser uma potência reconhecida apenas entre os “oestinos”. A força motriz também é orgulho para todo o Paraná. O vice-governador do Paraná, Darci Piana, destaca a importância dessa terra como sendo um dos braços fortes do Estado.

“O Estado enxerga o Oeste como uma joia. O Paraná é campeão em algumas cadeias do agronegócio e o Oeste é quem nos ajuda a ir mais longe. Toledo é o maior produtor de carne suína do Brasil, Cascavel lidera em volume de frangos e Nova Aurora reúne a maior quantidade de peixes do País. Assis Chateaubriand está construindo o maior frigorífico da América do Sul, fruto de uma conquista internacional, que foi a área livre de febre aftosa sem vacinação”, destaca.

O Governo do Paraná também reconhece as importantes lutas que iniciaram nas terras “oestinas”. “O Oeste é um protagonista em vários sentidos e está presente nas políticas públicas do Governo. As lideranças políticas e empresariais do Oeste são fundamentais para o Paraná, porque nos ajudam a pensar o Estado de maneira organizada e planejada”, afirmou Darci Piana.

Para o vice-governador, “a conquista de área livre de febre aftosa sem vacinação e área livre de peste suína clássica são marcos que nasceram de uma vontade imensa do setor produtivo e da administração pública de transformar os negócios. Com a nova concessão rodoviária aconteceu a mesma coisa. A sociedade se engajou junto com o Estado na batalha pela disputa pela menor tarifa e pela garantia das obras necessárias ao nosso desenvolvimento, como a duplicação integral da BR-277”.