MADRI e LONDRES – O ministro de Relações Exteriores
britânico, Boris Johnson,
escreveu um artigo defendendo a permanência do Reino Unido na União Europeia
(UE) dois dias antes de apoiar publicamente o Brexit e se tornar um de seus mais fervorosos
porta-vozes. O artigo, reproduzido num livro do qual a edição de ontem do ?Sunday Times? divulgou alguns trechos, ainda é
inédito. O ex-prefeito de Londres havia escrito uma peça a favor e outra contra
a saída do Reino Unido para esclarecer seus pensamentos sobre o tema. Uma vez
escritos os dois artigos, ele optou pelo Brexit.
Não é segredo que o homem que com mais veemência fez
campanha para abandonar a UE, na verdade, ficou em dúvida até o último momento
sobre que lado apoiar. A própria existência dos dois artigos era um rumor que se
espalhara no meio político britânico. Mas, graças aos trechos adiantados ontem
pelo ?Sunday Times?, pode-se conhecer os argumentos que
ele escolheu para defender a permanência do Reino Unido no bloco europeu ? que
são exatamente o contrário dos que repetiu incessantemente na campanha do
referendo do dia 23 de junho.
No artigo contra a saída, Johnson adverte sobre um abalo econômico após o
Brexit e sobre o risco que a iniciativa representa
para a própria unidade territorial do país. Ele também afirma que os aportes
financeiros do Reino Unido à UE são um preço mínimo diante do acesso ao mercado
único. O mesmo mercado único que, esta semana, o agora chanceler britânico
descreveu como ?crescentemente inútil?.
?É um mercado à porta de casa, preparado para uma maior exploração pelas
companhias britânicas. A cota de sócio é relativamente pequena por todo esse
acesso. Por isso estamos tão decididos em lhe dar apoio?, escreveu Johnson, que não quis comentar a publicação.
INVESTIDORES PREOCUPADOS
Johnson faz
parte da equipe de 12 ministros selecionada por Theresa May para
conduzir as negociações do Brexit. No
grupo estão os mais enfáticos ?eurocéticos? do Gabinete da premier, um sinal de
que ela busca um rompimento total com a UE. O comitê será responsável por
?supervisionar as negociações da saída do país da UE e formação de uma nova
relação entre o Reino Unido e a União Europeia; assim como estabelecer a
política britânica para o comércio internacional?, segundo um documento obtido
pela agência Bloomberg.
O grupo conta com todos os seis membros do Gabinete de May que fizeram campanha pela saída do Reino Unido
no referendo de junho: além do chanceler Johnson; o ministro de Comércio Internacional,
Liam Fox; o ministro do Brexit,
David Davis; o ministro de Desenvolvimento Internacional, Priti Patel; o ministro de Transportes, Chris Grayling; e
Andrea Leadson,
ministra de Meio Ambiente.
A equipe de May reforça
os temores de empresas e investidores de que o governo britânico esteja
planejando uma ruptura brusca, na qual priorizará os controles de imigração em
detrimento do acesso livre a bens e serviços do mercado único da UE.
Bancos internacionais advertiram que terão que deslocar parte de suas
operações e equipes de Londres para outras cidades da UE, caso May não consiga garantir um acordo que os permitam
continuar provendo serviços nos 27 países-membros da UE. As incertezas quanto às
futuras relações com a UE contribuíram para a desvalorização da libra para seu
menor patamar em três décadas frente ao dólar.