Cotidiano

Exército reforça policiamento na Tijuca para evitar briga entre estudantes

Uma rixa entre alunos de duas das mais tradicionais instituições de ensino do Rio, que já havia ficado no passado, teve um ?revival? esta semana. Alunos do Colégio Pedro II e do Colégio Militar, ambos na Rua São Francisco Xavier, na Tijuca, chegaram a marcar hora e local para uma briga coletiva que aconteceria ao meio dia da sexta-feira passada (dia 17). Mas os ânimos arrefeceram depois de uma conversa entre os diretores das duas instituições: um acionou militares da Polícia do Exército. O outro, policiais do 4º BPM (São Cristóvão). Juntas, as polícias fizeram um cordão de isolamento e evitaram o tumulto.

Em sua coluna no Globo, o jornalista Ancelmo Gois relatou mais um episódio dessa rixa. Na terça-feira, cinco meninos alunos do Colégio Pedro II foram parados por um soldado do Colégio Militar, que ordenou que eles não passassem mais em frente ao colégio.

Fadada ao fracasso por causa da intermediação dos diretores, a nova edição de uma rixa de décadas, amortecida há mais menos dez anos, teria sido motivada virtualmente. Alguém do Colégio Pedro II teria escrito no Twitter três coisas que ele odiava em três palavras. Uma delas teria sido o Colégio Militar. A partir daí, mensagens hostis começaram a ser trocadas. Até que uma delas, postada por alguém do Colégio Militar, foi considerada machista e ofensiva demais às meninas do Pedro II: ?Recadinho: quando as meninas daí pararem de andar com os peitos e úteros aparecendo pelo uniforme vcs (sic) discutem conosco?.

Depois da tentativa de confronto na sexta-feira, alunos do Pedro II decidiram protestar de forma inusitada: na segunda-feira passada, ao meio dia, meninas e também meninos do colégio fizeram um ?saiato? em frente ao portão principal do Colégio Militar, exatamente onde fica o Largo Aluno Horácio Lucas, jovem morto durante confronto entre estudantes na década 1950.

? Foi a forma mais inteligente que encontramos de protestar contra a provocação machista e deselegante do pessoal do Colégio Militar ? explicou uma aluna de 16 anos.

O protesto contou com cartazes com frases contra a cultura do estupro e do machismo. Um deles dizia: ?O tamanho da minha saia não define o meu caráter ou o nível da instituição que eu estudo?.

Segundo o comandante do Colégio Militar, coronel Aroldo Ribeiro Cursino, uma investigação está em curso para descobrir os autores das postagens. As sanções podem ir de uma advertência até a expulsão do colégio. De acordo com ele, a Polícia do Exército já fazia o policiamento na porta da escola para coibir assaltos a alunos da instituição, que vinham crescendo nos últimos meses. Mas, agora, houve reforço de policiais do Exército para garantir a paz entre os estudantes. Nesta quinta-feira, por exemplo, alunos de ambos os colégios foram barrados para que não se cruzasse no momento da saída da escola.

? Impediram a passagem da gente. Falaram que se quiséssemos ir para o outro lado da calçada teríamos que dar a volta no quarteirão; Não queriam que fôssemos para a mesma calçada que as pessoas do Colégio Militar. Disseram que era para a própria proteção dos colégios, para evitar confronto. Foi rápido, mas irritou alguns dos alunos que não conseguiam ir para casa após serem liberados da escola.

O coronel Cursino enfatizou que a presença de policiais visa a garantir a integridade dos alunos.

? Hoje em dia temos um reforço no policiamento da Polícia do Exército e do 4º BPM na São Francisco Xavier para, principalmente, preservar a integridade física dos alunos tanto do Pedro II como do Colégio Militar. Eu acredito acima de tudo que a tolerância e a fraternidade são objetivos para duas instituições tão importantes para o estado do Rio. Um dos princípios do Colégio Militar, fundado em 1889, é a busca ética da felicidade. E de forma alguma o colégio iria jamais ofender nenhum integrante de nenhuma instituição de ensino, como, por exemplo, o Pedro II. É um colégio irmão nosso ? comentou o coronel, acrescentando que nesta sexta-feira diretores e 20 alunos do Pedro II participarão de uma formatura Colégio Militar e serão recebido por 20 alunos da instituição.

Rene Vettori, assessor pedagógico do Colégio Pedro II, enfatizou a união dos colégios:

? A manifestação de segunda-feira foi pacífica e só para destacar que elas (as alunas) não são pautadas pela crítica dos outros ou crítica de homens de onde quer que sejam. E não há nada ligado a uma rivalidade antiga, histórica entre as duas instituições. Isso não existe mais. Estou aqui desde 2009 e nunca vi nada disso. Então, na verdade, foi um caso isolado que não corresponde ao histórico dessas duas instituições.

Rene mostrou uma fotografia tirada no dia da manifestação em que duas alunas dos colégios se abraçam.

? Essa foto mostra exatamente a relação entre duas alunas dos colégios se abraçando no mesmo dia (do saiato). Inclusive, ontem recebemos a visita do major de lá convidando a direção daqui mais 20 alunos para participar de uma cerimônia de estudantes do Colégio Militar. Nós, inclusive, já trocamos espaço: já usaram nossa quadra com uma competição que fizeram, já demos palestras lá. Há uma troca muito legal e interessante entre as duas instituições ? enfatizou.