SALVADOR – O escritório de advocacia de um primo do ministro-chefe da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) atua desde 2014 pela empresa responsável pelo edifício La Vue, empreendimento imobiliário em Salvador que o político baiano teria defendido em órgãos de proteção ao patrimônio histórico num incidente que causou a demissão do ministro da Cultura Marcelo Calero na semana passada. Em 18 de fevereiro de 2014, um sócio do escritório de Jayme de Souza Vieira Lima Filho assinou o contrato social da Porto Ladeira da Barra Empreendimento Ltda, sociedade de propósito específico criada pela construtora Cosbat Engenharia exclusivamente para administrar o empreendimento.
Registrado na Junta Comercial de Salvador, o documento que cria a empresa responsável pelo La Vue é assinado pelo advogado Igor Andrade Costa, único sócio de Jayme na firma de advocacia. Além de ser sócio do primo de Geddel, Igor defende o político baiano e o PMDB em dezenas de processos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da Bahia pelo menos desde 2012. Também são parte no documento que cria a Ladeira da Barra Empreendimento Luiz Fernando Machado Costa Filho, representante da Cosbat, e Gabriel Queiroz Abud, empresário da Viva Holding SA.
O advogado Igor aparece em outros documentos ligados ao La Vue. Em 17 de maio de 2016, a Porto Ladeira da Barra Empreendimento faz uma procuração no nome de Igor e Jayme para representá-la no processo que correu no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Também consta na procuração o nome de um estagiário do escritório: Afrísio Vieira Lima Neto, filho do deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). A nomeação dos parentes de Geddel para representar a empresa foi revelada na edição desta quarta-feira do jornal ?Folha de S.Paulo?.
Semanas antes dessa procuração, o Iphan havia embargado a obra por entender que o prédio afetaria um conjunto de bens tombados pelo patrimônio histórico na região, como a Igreja de Santo Antônio da Barra. Após deixar o cargo de ministro, na sexta-feira, Calero disse que foi pressionado por Geddel justamente para que o Iphan aprovasse a construção do La Vue. Geddel admitiu a conversa com o então ministro da Cultura e afirmou que sua família seria dona de um apartamento em um “andar alto” desse prédio desde 2015 e que ele também estava preocupado com a geração de empregos por causa da obra.
Em 16 de setembro de 2015, o escritório do primo de Geddel atuou outra uma vez pelo La Vue. Naquele dia, o advogado Igor foi nomeado secretário da primeira assembleia de condomínio e ficou responsável por redigir a ata da reunião, de acordo com documento disponível no 2º Registro de Títulos e Documentos de Salvador.
A reunião de condomínio contou com a presença de representantes de compradores de 13 unidades do empreendimento, entre eles o de uma empresa que também tem ligação com Geddel, a Upside Empreendimentos. Na Junta Comercial de Salvador, a firma está registrada em nome de Fernanda Vieira Lima Paolilo Calazans, irmã de Jayme e sócia de Geddel no restaurante Al Mare, em Salvador.
O GLOBO procurou na manhã desta quarta-feira os advogados Igor Andrade Costa e Jayme de Souza Vieira Lima Filho, mas não obteve retorno. À ?Folha?, Igor afirmou que Geddel nunca interferiu no processo e que não sabia que o ministro tinha um apartamento no La Vue. A assessoria de imprensa de Geddel não foi localizada.