Cotidiano

Enchentes na Índia impedem até funerais e cremações

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RIO – Varanasi é uma das cidades mais antigas do mundo. Fica às margens do rio Ganges, no estado indiano de Utar Padresh. A cidade é habitada, segundo registro arqueológicos, há quatro mil anos. E, nesses quatro mil anos, sempre aguentou monções de verão, quando chove sem parar em grande parte do país. Mas estea no, as chuvas estão afetando os mortos.

As chuvas chegaram bem-vindas na Índia neste verão, acabando com dois anos de seca. Mas o Ganges e seus rios tributários subiram perigosamente. Centenas de milhares de pessoas precisaram deixar suas casas no Norte e Leste do país, afirmou o governo nesta quarta-feira. Pelo menos 175 pessoas morreram desde junho devido às enchentes.

Em Varanasi, as enchentes tomaram o Manikarnika Ghat. Ghat é o termo hindu para os degraus que dão acesso a um corpo d’água, especialmente um rio sagrado. O Manikarnika é o mais sagrado da cidade, um local onde corpos são cremados e depois as cinzas jogadas no rio.

No Manikarnika Ghat, as piras nunca parão de queimar, com novas sendo feitas para cada morto. Só que agora ele está debaixo d’água. Apenas uma relativamente pequena plataforma elevada ainda está fora d’água, e só pode ser acessada de barco.

Ninguém está satisfeito com a situação, nem as famílias, nem os vendedores de madeira nem os acendedores de fogo, os dom.

“Chegam entre 75 e 100 corpos todos os dias, mas a plataforma que está fora d’água só tem lugar para seis piras de cada vez. Não temos opção exceto fazer turnos, sem parar. O resto está submerso”, diz um dos dom, Guru Prasad Chowdhary, ao jornal local Times of India.

Já que cada pira demora 2h30min para queimar completamente, há uma fila de corpos acompanhados de parentes esperando sua vez.

“Estamos esperando aqui a mais de uma hora, mas não sabemos quando vai chegar a nossa vez. Não temos nem onde sentar, por causa do rio cheio”, disse Premchand Srivastava, que acompanhava uma procissão funerária. Segundo ele, o preço da madeira e de outros itens rituais usados também subiram.

Quando a plataforma tem espaço para um corpo, ele é levado de barco por cinco familiares. Há cinco barcos fazendo transporte no local, levando corpos e madeira. Os barqueiros cobram 100 rúpias (R$ 5), o que um trabalhador braçal ganha num dia no campo.

Enquanto as águas não baixam e para evitar o acúmulo de corpos, pessoas começaram a usar tetos de casas abandonadas para a cremação.

“Como os ghats não está disponíveis, as pessoas estão usando os tetos de mansões e casas abandonadas na beira do Ganges para cremar seus parentes, mas é muito difícil”, afirma um porta-voz do governo.