RIO – A comunidade científica está se mobilizando contra uma medida da companhia aérea Latam, que proibiu o transporte de animais destinados a pesquisas. Segundo comunicados emitidos por diferentes entidades da área, esse impedimento pode frear a produção de conhecimento no Brasil, prejudicando, inclusive, pesquisas sobre os vírus causadores de doenças como chicungunha, zika e dengue, responsáveis por epidemias em diferentes regiões do país.
De acordo com um informe datado do último dia 7 de junho, “a equipe de operações de cargas da empresa não deverá aceitar e nem transportar nenhum tipo de animal vivo cuja a finalidade de transporte seja para pesquisas e experimentos em laboratório ou qualquer outro tipo de estudo científico”. Segundo uma nota enviada ao GLOBO, a empresa informou que “atualmente, o Grupo LATAM Airlines tem como prática não transportar animais para pesquisas em laboratórios, estudos científicos ou exploração comercial. A companhia está aberta para dialogar com a comunidade científica e analisar eventuais necessidades específicas quanto aos critérios desta prática”.
Três entidades estão se manifestando contra a decisão. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Associação de Cientistas do Brasil (ABC) vão enviar uma carta ao secretário de Aviação Civil, Guilherme Walder Mora Ramalho, pedindo o empenho do órgão para reverter a medida. “O uso de animais de experimentação é de vital importância nas pesquisas das áreas biológicas e da saúde”, diz a carta, antes de prevenir que “sem esses animais serão interrompidas as pesquisas já em andamento dos vírus da Chikungunya, Zika e Dengue, que assolam o País e toda a América Latina.
Já a Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe) enviou uma carta para a própria companhia aérea, na qual relata a surpresa com a notícia sobre a restrição de transporte de animais. “Além da produção de vacinas, animais de laboratório são utilizados para geração de conhecimento e produção de tecnologias que beneficiam a todos, inclusive os diretores da Latam. Próteses ortopédicas e cardíacas, utilização de células-tronco na recuperação de lesões, compreensão dos mecanismos de centenas de doenças, produção de soros e desenvolvimento de novos medicamentos e de técnicas de medicina reprodutiva, terapias para o câncer e outras doenças debilitantes, além de tantas outras áreas da medicina humana e veterinária dependem de animais”.
Segundo o secretário da FeSBE e professor do Instituto de Biofísica da UFRJ, Marcel Frajblat, outras companhias fazem o transporte de animais, mas, como a Latam é uma das maiores do setor no país, há um risco grande de prejuízo para as pesquisas científicas. Segundo ele, os laboratórios do Brasil e do mundo trabalham em parcerias, enviando materiais, documentos e animais para estudos. Trata-se de uma grande rede de colaboração em prol do conhecimento e da saúde.
Ele explica que as principais espécies utilizadas em pesquisas são ratos e camundongos. Além disso, segundo Frajblat, existem diferentes linhagens de animais.
– Cada uma é usada para pesquisar sobre uma doença específica. Doenças cardíacas, do sistema nervoso, hormonais… Para cada mal utiliza-se uma linhagem mais adequada – diz o cientista, que critica o posicionamento da empresa. – Não sentido essa restrição. Animais de laboratório são uma necessidade. Servem para gerar conhecimento e desenvolver medicamentos. Não tem como continuar as pesquisas para buscar vacinas para o zika sem testes com animais.
O uso de animais em prol da ciência é regulamentado pela Lei 11.794/2008. De acordo com as normas, para utilizar animais em pesquisas, qualquer laboratório precisa de autorização de comissões de ética criadas no uso de animais para monitorar a prática.