PARATY ? Entre exposições de autores renomados e debates sobre tendências, expressões artísticas e processos criativos, a Flip também reserva relevante espaço para discussões de mercado. Nesta quinta, na primeira mesa do ciclo “Retratos do Leitor e do Não Leitor”, realizada na FlipMais em parceria entre o Instituto C&A, o Instituto Pró-Livro e o jornal O Globo, foram apresentados dados de pesquisas sobre o nicho de leitura do Brasil. Entre aumento no número de leitores brasileiros, e queda de vendas de exemplares e de faturamento das editoras, a explicação, concluíram os palestrantes, está na importância do segmento religioso para a indústria. Links Flip Mesas Dia 2
Com o objetivo de traçar um perfil do leitor brasileiro e as dificuldades no processo de educação, que culminam na formação de analfabetos funcionais, os palestrantes Luis Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro, Marcos Pereira, presidente do Instituto Pró Leitura (IPL), Zoara Failla, coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil do IPL, e Mariana Silveira Bueno, coordenadora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), apresentaram dados das pesquisas “Produção e Vendas do Mercado Editorial”, da Fipe, e da “Retratos da Leitura no Brasil”, do IPL. A mediação da mesa foi feita pelo jornalista do GLOBO, Leonardo Cazes.
Zoara Failla lembrou que o principal motivo da pesquisa do IPL, realizada a cada quatro anos, é orientar políticas públicas e ações da sociedade civil. Em comparação com 2011, houve aumento no número total de leitores no Brasil, de 50% da população (considerado os maiores de cinco anos que leram algum livro, ou partes, nos últimos três meses), para 56%. Em 2007, porém, a quantidade era de 55%. Ao apresentar microdados específicos, como relações com escolaridade, hábitos e influências para leitura, a pesquisa foi traçando o perfil do leitor brasileiro.
? O gênero mais lido é a Bíblia; em segundo “livros religiosos”. Muitos autores religiosos também são citados como os preferidos ? destacou Zoara, em relação ao segmento mais relevante do mercado ? há outros dados importantes, como a falta de tempo como principal motivo para a não leitura, o crescimento de leitura em meios de transporte, devido aos smartphones e tablets, a redução de dificuldades citadas para a não leitura, o uso ainda baixo de e-books, e a visão de que a biblioteca é um espaço somente para estudantes. Apesar de melhora nos números de uma forma geral, é preciso pensar em políticas públicas para melhorar o panorama.
Na sua pesquisa, a Fipe detectou uma aparente incoerência: o aumento no número de leitores, mas a queda na quantidade de vendas de exemplares, de 8,19%, e no faturamento das editorias, de 4%. Na tentativa de entender esse quadro, Mariana Bueno explicou que a fundação cruzou dados e levantou algumas hipóteses, como o governo ser um grande comprador, abastecendo bibliotecas públicas, o que não se sustentou.
? Percebemos, então, que a Bíblia lidera ranking de leituras. Resolvemos considerar, nos dados, um novo indicador exclusivo para leitura religiosa. Nessa nova leitura dos gráficos, concluímos que esse subsetor foi o único que apresentou crescimento considerável. E faz sentido não influenciar tanto na venda de editoras ao pensarmos que a Bíblia, citada mais lida, raramente tem um exemplar novo comprado pelas pessoas. Links Flip Serviço
‘MERCADO SOBREVIVENTE’
Perguntado por Leonardo Cazes sobre as explicações para os fenômenos de público nas bienais, apesar do momento de desvalorização das editoras, Marcos Pereira classificou o mercado editorial como um “mercado sobrevivente”.
? De 2004 a 2015 o mercado de produção editorial perdeu 40% de valor. A indústria pode comemorar o aumento de seis pontos percentuais de leitores, mas a verdade é que precisamos de ajuda. Aí a a gente vê uma Bienal lotadíssima e não entendemos o segredo de tanto sucesso. Às vezes quero perguntar para o visitante aonde ele vai no resto do ano. Nosso papel é tentar aumentar essa procura, criar volume maior, e mais interesse. Meu avô dizia que Brasil é país do futuro e estou cansado. Quero dizer aos meus filhos e netos que Brasil é o país do presente ? disse Pereira.
Dentro dessa questão, Zoara também lembrou que cerca de quatro milhões de jovens se declaram leitores, número suficiente para abastecer um mega evento. Luis Torelli ainda citou fenômeno de audiência de blogueiros, que atraem muito público, e concluiu que as pesquisas apresentadas são “importantíssimas para atendermos melhor o desafio de democratizar o livro”:
? Precisamos trabalhar muito para que brasileiros possam comprar mais livros. Dependemos de políticas públicas de educação e inclusão, e também da retomada do crescimento econômico. O Brasil tem uma das mais plurais produções editoriais do mundo. Nas numerosas inscrições do premio Jabuti, por exemplo, vemos a quantidade de talento que existe aqui. O mercado também precisa fazer sua parte para que o Brasil seja redimido pela leitura. O livro pede passagem.
O ciclo “Retratos do Leitor e do Não Leitor”, realizada em parceria entre o Instituto C&A, o Instituto Pró-Livro e o jornal O Globo, tem prosseguimento nesta sexta, às 14h30m, na Casa de Cultura, com a mesa “O X da questão”, em que estarão presentes o colunista do GLOBO Antonio Gois, Marcilio França Castro e Neca Setubal.