Curitiba – O golpe de clonagem do WhatsApp vem crescendo de forma assustadora e já representa a metade das ocorrências registradas no Nuciber (Núcleo de Combate aos Cibercrimes), da Polícia Civil. “Por mês são registrados cerca de 600 Boletins de Ocorrência de crimes cibernéticos, e esse golpe de clonagem do aplicativo já representa a metade dos registros… média de 300 casos que chegam aqui por mês”, afirma o delegado do Núcleo, José Barreto de Macedo Júnior.
Ele afirma ainda que o aumento expressivo dos casos começou a ser registrado há cerca de quatro meses, especialmente naquele em que o golpista usa o número da vítima para pedir dinheiro aos contatos dela. “É o modo em que há mais lucro para os criminosos. Em alguns casos, eles agem em grupos e cada um tem uma função específica: um entra em contato com a vítima e clona o aplicativo, depois outro se encarrega de entrar em contato com os contatos e pedir dinheiro. Assim, uma mesma pessoa ou um grupo de criminosos pode fazer várias vítimas em um mesmo dia”, alerta o delegado.
Crime da “moda”
O delegado afirma que o golpe é considerado o crime do momento, ou da moda, porque é relativamente fácil de ser aplicado e bastante rentável para os criminosos. “O uso do aplicativo é fácil e pessoas de todas as idades e classes sociais têm acesso, por isso as vítimas podem ser as mais variadas. Antigamente havia o golpe do e-mail, mas era um público específico que fazia uso dessa ferramenta. Já o WhatsApp é muito popular, por isso é muito mais fácil o acesso dos criminosos às vítimas”, reforça.
José explica que, se comparado ao golpe do bilhete premiado, esse tipo de golpe é mais rápido e rentável: “A abordagem é semelhante: abordar a vítima e ganhar a confiança dela. Só que, no caso do aplicativo, a abordagem é bem mais rápida e usar o nome de empresas e sites dá mais credibilidade, então é mais fácil convencer a vítima. A mesma pessoa pode fazer várias abordagens por dia. Da mesma forma, o ganho pode ser maior. Se com o bilhete o criminoso conseguia R$ 4 mil de uma vítima, com o Whats, se ele pedir R$ 700 para 20 contatos de uma vítima, o ganho é muito maior”.
Como funciona o golpe?
Para a clonagem do aplicativo, o criminoso pede que a vítima insira um código no telefone, o que permite a invasão do WhatsApp. “O modo mais comum é o criminoso encontrar o número da vítima em algum anúncio de site de venda de produtos, entra em contato com a vítima dizendo que é do site ou da empresa e que precisa confirmar os dados. Em determinado momento passa um código verificador e solicita que a pessoa o digite, assim, com outro aparelho, ele rapidamente clona o aplicativo e passa a entrar em contato com os amigos da vítima pedindo dinheiro, geralmente valores de R$ 400 a R$ 700 para diminuir a possibilidade de quem está sendo abordado desconfiar do golpe e depositar na conta fornecida o dinheiro”, afirma o delegado. A vítima só fica sabendo que caiu no golpe quando um dos seus contatos lhe conta.
Outras formas de ação dos estelionatários são falsos eventos aos quais as pessoas são convidadas e precisas inserir o código verificador. E, ainda, o acesso de dados e imagens que existem nas conversas ou que são solicitadas pelo criminoso são usados para chantagem: o criminoso ameaça divulgar caso a vítima não lhe transfira quantias altas em dinheiro.
Importante: Como prevenir
O conselho que pode evitar a clonagem e o depósito de valores dos amigos das vítimas aos criminosos é desconfiar. “Nós sempre reforçamos a necessidade de que se desconfie de tudo. Os sites não ligam para os anunciantes, muito menos passam códigos verificadores. As pessoas precisam estranhar esse tipo de coisa. Já os que recebem pedidos de depósito dos amigos pelo aplicativo precisam desconfiar se realmente estão falando com a pessoa conhecida. Duvide e telefone para a pessoa, confira se a informação é real. Mas não telefone do aplicativo, porque, se não, o golpista é quem vai atender”, alerta o delegado José Barreto de Macedo Júnior.
Onde e para quem denunciar
A investigação do crime tem particularidades e precisa de grande base técnica. “A Justiça entende que o crime precisa ser investigado onde o criminoso está. Se a pessoa de Curitiba é vítima do golpe, mas o golpista é de São Paulo, a denúncia é encaminhada para lá e investigada pela delegacia local. Nas cidades do Paraná que não têm delegacias especializadas os crimes são investigados pelas delegacias locais com suporte técnico do Nuciber.
O delegado José Barreto de Macedo Júnior lembra que é importante que as vítimas levem à delegacia o número de telefone que o criminoso usou para entrar em contato e, principalmente, o número da conta bancária repassada nos pedidos de depósito. Desse modo, a equipe tenta rastrear e identificar os criminosos.
Ele orienta que a vítima, assim que perceber o golpe, precisa interromper imediatamente o acesso do criminoso ao aplicativo. “Antes mesmo de ir à delegacia, entre em contato com o aplicativo por meio do e-mail [email protected] informando sobre a clonagem, desinstale o aplicativo do aparelho e instale novamente para tentar recuperar a conta”, explica.
Pena
A pena para quem pratica esse tipo de crime pode ser de pelo menos sete anos de prisão: “Nós temos três crimes inicialmente: invasão de dispositivo, falsa identidade [criminoso se passa por outra pessoa para pedir dinheiro] e estelionato que, somados, daria sete anos de prisão. Mas o estelionato e a falsa identidade são multiplicados pelo número de vítimas. Além disso, muitas vezes eles atuam em grupos, aí já pode haver formação de quadrilha e a pena vai aumentando”, complementa o delegado.
José é titular do Núcleo há pouco mais de dois meses e o maior objetivo é conscientizar a população sobre os golpes e evitar que aconteçam.
Mais segurança: Para ativar a verificação em duas etapas do seu Whats App, basta ir até configurações do seu aplicativo, acessar “Conta” no menu e ativar a “Confirmação em duas etapas”, criando uma senha de seis dígitos que será solicitada quando o aplicativo for acessado ou instalado, impedindo a clonagem.
Reportagem: Cláudia Neis