Cotidiano

Akihito, o imperador mais próximo de seu povo

JAPAN-EMPEROR_ (2) TÓQUIO – Marcado por uma alta popularidade, o imperador japonês, Akihito, de 82 anos, acumula uma trajetória que tem entre os principais legados a aproximação com o povo e o reconhecimento oficial de marcas deixadas pela atuação militar japonesa. Entre os episódios mais recentes que marcaram sua imagem, estão a forte atuação no apoio às vítimas do terremoto e da tsunami que abalaram o Japão em 2011 e a superação de problemas de saúde.

No trono há 27 anos, a notícia de que ele manifestara o desejo de abdicar e passar a coroa a seu filho mais velho, o príncipe Naruhito, de 56 anos, veio à tona pela primeira vez em junho deste ano. Único monarca no mundo a manter o título de imperador, e descendente da mais antiga monarquia hereditária do planeta ? que remonta ao século VII a.C. ? Akihito tornou-se, em 1959, o primeiro membro da família imperial a se casar com uma plebeia, Michiko Shoda. Em 2001, às vésperas da Copa do Mundo no Japão e na Coreia do Sul, ele reconheceu sua ascendência coreana, tema tabu nas conturbadas relações entre os dois países.

Filho do imperador Hirohito e da imperatriz Nagako, Akihito nasceu em 23 de dezembro de 1933, em Tóquio. Aos 5 anos, foi separado de seus pais, sendo criado e educado por camareiros e tutores, conforme a tradição japonesa. Ainda criança cruzou o expansionismo japonês e a derrota do seu país na Segunda Guerra Mundial.

No Japão ? uma monarquia constitucional onde quem governa é o primeiro-ministro ?, o papel do imperador é, na maior parte, cerimonial. Mesmo assim, Akihito perseguiu questões como a modernização do país e se esforçou para superar marcas deixadas pelo militarismo japonês antes e durante a Segunda Guerra Mundial.

Um marco em sua trajetória foi o pedido de desculpas pela colonização da Coreia entre 1910 e 1945, feito oficialmente pelo imperador em 1990. Dois anos depois, ele foi o primeiro imperador japonês a visitar a China. Na ocasião, reconheceu o “grande sofrimento” causado pela ocupação nipônica.

SAÚDE FRÁGIL

Numa entrevista coletiva no fim do ano passado, Akihito já havia sinalizado que sentia os efeitos da idade avançada. As provações no que diz respeito à saúde não foram raras nos últimos anos. Ele lutou contra um câncer na próstata e foi submetido a uma cirurgia em 2003. Em 2012, voltou aos hospitais para uma ponte de safena. Já este ano foi surpreendido por uma forte gripe.

? Farei 82 anos e começo a me sentir com a minha idade ? chegou a afirmar o imperador, às vésperas de seu aniversário no ano passado.

20160806-202716.jpgEm 2011, analistas chegaram a comentar que a saúde do imperador provavelmente fora afetada por altos níveis de estresse. Questões como não ter um herdeiro do sexo masculino para suceder o príncipe Naruhito, o crescente debate sobre mudanças constitucionais para que mulheres possam governar e rachas na família foram especulados como a causa desse quadro.

MAIS PERTO DO POVO

Desde que ascendeu ao trono, Akihito aproximou a família imperial do povo japonês. Ao lado de sua esposa, ele visitou todas as províncias do Japão, o que rendeu-lhe forte popularidade. O imperador também cruzou as fronteiras do país, com visitas oficiais a inúmeras nações ao redor do mundo, algumas para receber importantes condecorações. Em 1998, por exemplo, ele foi investido Cavaleiro da Ordem da Jarreteira no Reino Unido e recebeu o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique em Portugal.

Em uma das atuações mais marcantes nos últimos anos, Akihito fez uma aparição inédita ao vivo na TV para comentar a crise gerada pelo terremoto e a tsunami que abalaram o Japão em 2011.

– Do fundo do meu coração, espero que as pessoas se deem as mãos e mostrem compaixão umas com as outras para superar esses tempos difíceis – afirmou o monarca, na ocasião.

VISITA AO BRASIL

Em 1997, o imperador veio ao Brasil acompanhado pela esposa para uma visita de 10 dias. A comitiva imperial desembarcou em Belém, e o roteiro incluiu passeio de barco pelo Rio Guamá, afluente direito do Amazonas. A comitiva também vistou outras cidades brasileiras, seguindo para Argentina na sequência.