A cena é comum: você tem uma dor de cabeça ou gripe, pega a caixa de remédios e toma um medicamento sem prescrição. A automedicação, muitas vezes vista como uma solução para o alívio imediato, pode trazer consequências mais graves do que se imagina. De acordo com a Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), a prática é comum entre os brasileiros. Uma pesquisa realizada pela associação apontou que 80 milhões de pessoas tomam remédios sem consultar um médico.
Paulo Eduardo Pertsew, médico do Hospital Dona Helena, explica que a automedicação pode piorar doenças pré-existentes: “Vários medicamentos podem fazer com que a pressão arterial suba, agravando um quadro de hipertensão, por exemplo. Corticoides podem aumentar os níveis de glicose, devendo ser evitados por diabéticos. E pacientes com lesões renais não devem usar anti-inflamatórios, pois podem piorar a função renal”.
Ele ressalta que toda medicação tem efeitos colaterais. Por isso, o acompanhamento médico é importante, pois o profissional capacitado saberá o histórico do paciente, podendo receitar o melhor tratamento. “A medicação errada pode protelar o diagnóstico correto ou agravar ainda mais uma doença que esteja em curso”, alerta.
Para tentar coibir o uso inadequado de medicamentos, em março de 2007, o Ministério da Saúde criou o Comitê Nacional para Promoção do Uso Racional de Medicamentos (CNPURM). O grupo tem como objetivo orientar e propor ações, estratégias e atividades para a promoção do uso racional de medicamentos.
A coordenação do Comitê Nacional é realizada de forma conjunta pelo Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Box
Brasil é recordista
O Brasil é recordista em automedicação. A pesquisa O Comportamento da Dor do Paulista, realizada em 2014 pelo Instituto de Pesquisa Hibou, apenas 8% dos entrevistados nunca se automedicaram. Segundo o estudo, as dores que mais afetam os cidadãos são a de cabeça (42%), a da lombar (41%), a da cervical (28%) e a nas pernas (26%).
O grande problema no uso indiscriminado de medicamentos é a intoxicação. Nesse caso, o problema afeta os brasileiros desde 1994, segundo o Conselho Federal de Farmácia. Pesquisa do Ministério da Saúde mostra que a automedicação levou para o hospital mais de 60 mil pessoas entre 2010 e 2015.
Outra preocupação se refere à combinação inadequada dos produtos. Ou seja, o uso de um remédio em concomitância com outro pode anular ou potencializar o efeito ou, em situações mais graves, a ingestão incorreta ou irracional dos medicamentos também pode levar à morte.