Os produtores de mel de Cerro Azul estão na expectativa de o município formalizar o SIM (Serviço de Inspeção Municipal), que cria as condições para a certificação que garante a qualidade do produto. Com isso, o mel do Vale do Ribeira e seus derivados ganharão mais mercados, podendo ser comercializados em estabelecimentos de grande porte como supermercados da Capital e Região Metropolitana.
Já foram assinados a lei e o decreto municipais que criam o SIM. Agora, falta a formalização efetiva, quando for contratado o médico veterinário que se responsabilizará pelo trabalho de orientação e fiscalização junto aos produtores. O próximo passo será o município aderir ao Susaf – Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agroindustrial Familiar e de Pequeno Porte no Estado do Paraná (Susaf-PR).
O núcleo da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento em Curitiba está empenhado em ajudar as prefeituras da RMC em aderir aos sistemas do SIM e Susaf. Segundo o chefe do núcleo, João Carlos Rocha Almeida, dos 29 municípios de sua regional, 17 já estão prontos a aderir esses sistemas.
“Os demais vão vendo os resultados obtidos e serão apoiados à medida que fizerem a solicitação”, disse. Almeida destacou ainda que vêm acontecendo muitas reuniões com prefeitos e secretários municipais de Agricultura sobre as vantagens para o setor produtivo dos municípios que aderirem ao SIM e ao Susaf em função do mercado consumidor.
A Prefeitura de Curitiba comunicou que tem R$ 300 milhões em caixa para comprar produtos de origem animal e que prioriza os municípios da Região Metropolitana, desde que os produtos sejam regularizados e tenham a licença para comercialização. Eles serão direcionados aos programas municipais, como feiras e mercados.
SABOR CÍTRICO – O mel do Vale do Ribeira tem um diferencial – com sabor mais cítrico é muito apreciado pelo consumidor. E segundo produtores possui mais propriedades medicinais. Ele é obtido pelas abelhas através das flores da tangerina Ponkan, cultivada na região com pouco agrotóxico.
“Não fosse a aplicação de herbicida, necessário para controlar a mosca da fruta, poderíamos dizer que a tangerina Ponkan do Vale do Ribeira é orgânica porque não entra nenhum outro insumo químico”, garantiu o presidente da Associação dos Produtores de Mel do Cerro Azul, Rafael de Almeida Monteiro Cropolato. “Trata-se de um mel muito utilizado por quem tem bronquite e problemas respiratórios”, disse.
ORGANIZAÇÃO – A Associação dos Produtores de Mel de Cerro Azul foi criada há cerca de cinco meses e conta com 10 produtores associados que somam uma produção em torno de 30 a 40 toneladas por ano. Os associados são dos municípios de Cerro Azul, Rio Branco do Sul e Itaperuçu.
A campanha por mais sócios teve que ser interrompida por causa da dificuldade de fazer reuniões por conta da pandemia do coronavírus. “Queremos agregar os produtores de Tunas, Doutor Ulisses e Adrianópolis”, disse o presidente da associação.
“Estamos otimistas com mais essa possibilidade de melhoria para o nosso agricultor e para as pessoas da agricultura familiar do município”, disse Cropolato. “Com a formalização do SIM e do Susaf, nosso mel vai fazer sucesso Brasil afora”, destaca. Ele acredita na valorização do produto, beneficiando não só os produtores como a região, uma das menos desenvolvidas do Estado.
Atualmente, o mel de Cerro Azul é vendido no pequeno varejo de dos municípios do Vale do Ribeira e da Grande Curitiba. Por falta de certificação que atesta sua qualidade, é vendido em torno de R$ 15,00 o quilo. Com a certificação abrindo mais mercado, Cropolato acredita que poderá ser comercializado entre R$ 22,00 e R$ 25,00 o quilo.
Segundo o produtor, o mel de Cerro Azul tem boa aceitação. Além do sabor peculiar, tem um processo de produção com tecnologias mais modernas. “Ele é centrifugado, filtrado e decantado por dois a três dias antes de ser embalado. Esse processo é mais adequado que o antigo, ainda utilizado em muitas regiões onde se espreme a cera para obter o mel e pode vir com resíduos inaproveitáveis, situação que pode contribuir para azedar o mel. Essa técnica não é mais recomendada”, explica.
Os produtores de mel de Cerro Azul estão empenhados em conseguir apoio para a construção da Casa do Mel, onde equipamentos como centrífuga, filtros e decantador em inox, além de embalagens adequadas, estarão à disposição dos produtores associados para o processamento do produto. “Precisamos disponibilizar essa tecnologia para reforçar a qualidade da produção da região”, disse o produtor.
CONTROLE BIOLÓGICO – Os produtores de tangerina Ponkan do Vale do Ribeira fazem pouco uso de agrotóxicos nos pomares, o que favorece muito a produção de mel de alta qualidade, livre de resíduos químicos. Segundo Cropolato, no cultivo da tangerina Ponkan eles utilizam herbicidas em nível mínimo para o controle da mosca dos citros, cujo hábito é furar a fruta para reprodução, o que inviabiliza a produção de frutas de qualidade e tamanho padrão aceito pelo consumidor.
Esse controle, feito predominantemente com defensivos químicos, não é aplicado no Vale do Ribeira. Os produtores da região optaram pelo método biológico, com garrafas PET instaladas ao longo dos pomares. Elas são preenchidas com água em que é fervida a cera produzida pelas abelhas que, levemente doce, exerce atração sobre os insetos. A mosca é atraída para as garrafas pet, que têm uma pequena abertura, e não vai para as árvores com frutos. Nas garrafas elas acabam morrendo.
Fonte: Agência Estadual de Notícias