Finalizando a série de entrevistas com os vereadores de Cascavel que cumpriram em 2021 o primeiro ano de mandato, o jornal O Paraná conversou com o vereador Edson Souza (MDB).
Pedagogo por formação e com origem política no movimento estudantil, Edson Souza já exerceu importantes cargos na direção do Hospital Universitário do Oeste do Paraná. Em 2020 Edson disputou a primeira eleição e conseguiu se eleger com 1.762 votos, ocupando a primeira das duas cadeiras do MDB na Câmara de Cascavel.
Vindo de família de pequenos agricultores, nasceu em Boa Vista da Aparecida, próximo a Cascavel. Ainda jovem, veio para a cidade de Cascavel após a família “perder” o comércio que tocava em Boa Vista, por conta do alagamento do lago que se formou para a construção da Usina Salto Caxias. E, segundo ele, foi desde essa época que passou a entender a política e saber que isso poderia mudar a vida das pessoas. “Sou filho de pequenos agricultores, a minha família saiu de Boa Vista da Aparecida por uma intervenção pública. Em Boa Vista quando foi feita a usina de Salto Caxias, alagou vários terrenos, esses terrenos que alagaram foram indenizados, mas as pessoas que moravam próximas a esses terrenos não tiveram indenização. As terras da minha família não alagaram, mas todos os vizinhos alagaram e a gente tinha um pequeno comércio, e como as pessoas saíram, não tinha para que vender, então minha família saiu de Boa Vista para Cascavel. Essas coisas todas que vão te levando a disputar a eleição, compreender que a política é uma maneira de você mudar a vida das pessoas e, você pode mudar para melhor e para pior.”
Segundo Edson, a entrada dele na política foi decorrência de inúmeros fatores. Entretanto, de acordo com o parlamentar, o objetivo era um só: tentar mudar a vida das pessoas. “Eu fiz a escolha de entrar na política e usar essa experiência toda, tanto a adquirida em movimento estudantil, experiência administrativa, quanto as experiências de vida para tentar mudar a vida das pessoas. É isso que a gente tentou implantar nesse primeiro ano de mandato. Você se preocupar com as coisas que não são tão vistas, como por exemplo a situação dos catadores aqui no Município de Cascavel. Você fazer enfrentamentos a grandes projetos, a grandes discussões como foi a questão do lixo, do transporte, se preocupar na questão do dia a dia, ter um gabinete funcional, receber as pessoas, discutir os problemas centrais das pessoas.”
Dificuldades
Segundo Edson, a maior dificuldade encontrada nesse primeiro ano de mandato foi a questão da burocracia do Poder Público. “A maior dificuldade é compreender que você precisa dialogar muito para as coisas acontecerem. Há diferença grande entre o Legislativo e o Executivo, porque a hora que você está nessas funções, como aquelas que tive no HU (diretor, diretor de obras), é que você tem esse poder de fazer. Eu era diretor administrativo, mas acumulava outras direções e responsabilidades. Então eu chagava lá e dizia: quero construir um projeto x, era eu que decidia, eu ia lá, eu conseguia o recurso para implementar e tal. Um vereador não tem isso. Eu quero fazer isso, mas tenho que conversar com a secretaria, tenho que discutir com não sei quem. Essa é a grande diferença, esse foi o maior impacto que senti, você sente que não tem o poder de resolver, por mais de que a tua ideia seja boa. É sempre uma briga muito grande para conseguir resolver os problemas.”
Contudo, o parlamentar avalia que é possível se adaptar a esse tipo de situação. “Mas a gente vai adaptando também, você tem uma independência maior, tem um poder de fala maior, o púlpito da Câmara te dá um poder grande de fala. Então você pode falar dos grandes problemas da cidade e tal e vai conseguindo resolver. Mas a diferença central é essa, o Poder Legislativo ele é muito diálogo, é o parlamento, ele fala muito, mas o poder de executar, mesmo, não é tão grande.”
Produção Legislativa
Em um balanço do primeiro ano de mandato, o vereador analisa que conseguiu representar os segmentos que se propôs durante a campanha. “Eu estou entre os vereadores que mais fez indicação, mais fez projetos também, não conto muito isso também, vou fazendo mais por necessidade. Mas acho que na parte administrativa a gente foi bem, a gente conseguiu se estruturar bem. Na parte política o nosso mandato representou o que a gente veio representar. Então, nesse sentido de representar as pessoas, de representar os segmentos que me propus, a gente foi bem, a gente conseguiu fazer. No sentido de plenário acho que a gente conseguiu se desenvolver bem dentro do plenário, estou entre os vereadores que mais fala, mais se posiciona, mais tem esses posicionamentos.”
De acordo com ele, o mandato serviu para discutir tanto grandes questões como pequenas questões. “A gente pegou um mandato que foi para discutir grandes questões a pequenas questões, ao dia a dia da votação do plenário. Então a gente tentou misturar tudo isso e acredito que a gente conseguiu dar conta parcialmente.”
Para o vereador, apesar da produção do mandato nesse primeiro ano, era possível realizar mais ações. “Sempre tem aquele sentimento de que você poderia fazer mais e deveria ter feito mais. Sempre tem aquilo que você não fez. Como, por exemplo, na agricultura familiar, eu tenho certeza eu poderia ter feito mais e deveria ter feito mais nessa área. Por mais que eu esteja feliz e acho que a gente tenha dado uma intensidade boa nesse primeiro ano de mandato, a minha expectativa era de fazer mais, de conseguir executar mais. Eu tenho o entendimento de que a gente deveria ter articulado melhor a questão da emenda impositiva, que foi algo que não passou. Faltou esclarecimento também da nossa parte de explicar o que é a emenda impositiva, o que isso dá de impacto real no trabalho do vereador, na representação do vereador. São várias ações que talvez a gente pudesse ter feito um pouco mais. Tem um sentimento assim, não é de frustação, porque o mandato foi bom, mas de que a gente poderia fazer um pouco mais.”
Futuro
Na avaliação do parlamentar o primeiro ano de mandato serviu mais para conhecer como funciona a Câmara e o processo legislativo. Apesar disso, segundo ele, foi um ano muito produtivo. Além disso, o vereador avalia que neste ano de 2022 o cenário da política nacional estará em pleno debate em Cascavel. “Esse foi um ano de conhecimento de como funciona também a Câmara, esse foi um ano para isso, acho que a gente executou muita coisa. Mas, primeiro, não mudam nossos posicionamentos, que continuam sendo em defesa do povo trabalhador, vai ser um ano eleitoral, então a gente vai ter um ano que pode definir o futuro do nosso país e não tenha dúvida que estarei posicionado. Vai ser um ano que muita pauta nacional vai estar em voga e eu gosto de discutir isso, porque eu não acho que a gente é um pinguinho separado do resto do país. A gente faz parte de um conjunto todo, então o sofrimento que o cara tem aqui, morando na periferia de Cascavel, tem morando na periferia da Bahia. Então quando você pensa em política nacional tem que ter essa lógica, que você vai ajudar a resolver as dores de uma população e não só de só um.”
De acordo com o vereador, a expectativa é que no próximo ano o trabalho seja focado em outras frentes que não foram muito exploradas. “A gente quer avançar para a área de educação, para a área de educação infantil, a gente precisa apresentar alguns projetos, a gente está escrevendo uma série de projetos que a gente precisa atuar. ”
Pautas e Bandeiras
Edson se elegeu com pautas progressistas, e a principal defesa do mandato são os servidores públicos. “O meu principal vínculo é serviço público. Eu sou defensor de mais Estado e não menos Estado. Eu sou de esquerda, meu posicionamento é de esquerda. Eu sou um vereador que vem com posicionamento. Tenho toda essa compreensão política. Por consequência tenho que defender o serviço público como um todo, e você não tem um serviço público de qualidade sem os servidores. Então você precisa ter uma defesa clara dos servidores. Você defende melhores salários, melhores condições, porque isso vai gerar um melhor atendimento para população. É um dinheiro de todos voltando para eles em forma de serviço. E, por consequência e por história de trabalho, a área de educação e área de saúde. ”
Contudo, segundo ele, no decorrer do mandato, outros segmentos, o procuraram para buscar representação. “Eu recebo muita coisa, porque a hora que você vai começando as situações vão surgindo muitas coisas. Então nós temos uma atuação na área de agricultura familiar, temos uma atuação pelo histórico, inclusive isso é um grupo que estou devendo mais atuação junto com eles. O pessoal da feirinha a gente está tentando reorganizar o estatuto deles, organizar para buscar recurso para eles montarem. A gente tem uma atuação com o pessoal da Cooperativa do pessoal da pesca aqui de Cascavel. Nós conseguimos investimentos em equipamentos para eles, estamos tentando organizar eles, tentando trazer para cá um abatedouro e uma cooperativa para comprar esse material deles. Tenho uma atuação junto ao pessoal da Cooperativa do leite. Então a gente vai pautando. Os catadores, as Cooperativas dos Catadores vieram nós procurar para a gente fazer a representação política deles nessa discussão do contrato do lixo. Essas são brigas que a gente vai pegando, vai pegando no decorrer do caminho. É muita demanda, o nosso gabinete pegou muita demanda, de todos os lados, de todos os campos. Foi um ano muito intenso, de muita intensidade em que a gente conseguiu desempenhar o trabalho.”
Da Base para a Oposição
O parlamentar que se elegeu como base do prefeito Paranhos, finalizou o primeiro ano de mandato como oposição. Segundo Edson, isso se deu por conta do relacionamento entre os Poderes Executivo e Legislativo. De acordo com Edson, a prefeitura nunca teve problemas em aprovar projetos na Câmara, e por conta disso, tudo o que vinha era aprovado sem ressalvas e justamente por essa falta de debate, Edson se afastou do governo.
“Eu comecei sendo base, fiz campanha pra caramba para o Paranhos, meu adesivo de campanha era eu e o Paranhos. Mas em virtude em uma série de desencontros, não só entre o meu mandato e o Executivo, mas o Executivo e o Legislativo, esses desencontros e tals, que era meio o Legislativo só dizendo amém, chegava do Executivo e tinha que aprovar e acabou. E não é isso o nosso papel, nosso papel é fiscalizar, a gente tem um poder independente, mas em virtude disso tudo foi gerando atritos e conflitos e esses conflitos me levaram a eu, no final desse primeiro ano de mandato estar mais próximo da oposição do que a da situação. Mas aí não é uma questão que seja somente minha, acho que é uma questão do Executivo com o Legislativo, precisa melhorar esse diálogo, precisa criar caminhos onde a gente consiga pensar a cidade a frente.”
Segundo Edson, foram justamente as duas duras derrotas que o Executivo sofreu na Câmara nas últimas sessões de 2021 que fizeram Paranhos repensar o relacionamento dos dois Poderes.