Cidade do Leste – A Polícia Federal intensifica nesta semana a fiscalização à compra, à distribuição e ao uso de agrotóxicos e a demais insumos utilizados no campo contrabandeados do Paraguai. A operação ocorre com o início do cultivo da safra de verão, quando esse tipo de comércio ilegal aumenta seu fluxo de forma intensa.
Somente na região oeste serão mais de 1,1 milhão de hectares agricultáveis na lupa desse pente-fino, que promete levar contraventores à prisão.
Segundo o delegado-chefe da Polícia Federal em Cascavel, Marco Smith, a partir de agora serão deflagradas operações em parceria com a Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) e, neste ano, há pelo menos dois ingredientes extras que servem como base para ampliar essa varredura.
O primeiro foi a polêmica sobre a suspensão de produtos à base de glifosato no Brasil, que só foi liberado na última segunda-feira (3), quase um mês depois de uma juíza federal de Brasília ter suspendido a venda e o uso dos produtos.
Esse ponto por si só pode ter elevado os índices do contrabando, calcado pelo medo do produtor de ficar sem o pesticida que não tem substituto no mercado, fato que ocorreu às vésperas do plantio da soja. Além de provocar uma corrida pela compra e estocagem do produto no mercado legal, a Polícia Federal estima que esse também tenha sido um ingrediente para aumentar o contrabando.
Outro fator que promete aumentar o contrabando dos produtos agrícolas é o preço elevado do dólar, que nesta semana atingiu a casa dos R$ 4,2, elevando em mais de 30 o valor dos insumos no mercado interno somente nos últimos seis meses.
“Esse aumento do contrabando é algo que nos preocupa muito. Por isso vamos realizar operações a partir desta semana em parceria com a Adapar”, argumenta o delegado.
Levantamento
Os principais alvos também já foram mapeados. Segundo o serviço de inteligência da Polícia Federal, são pelo menos 30 grandes atravessadores que ficam responsáveis por trazer o insumo do Paraguai para o Brasil e usam a rota do contrabando de cigarros e do tráfico de drogas e armas para seguir seu caminho. Os insumos chegam ao Brasil em lanchas que atravessam a fronteira pelo Rio Paraná, e depois são distribuídos em veículos de passeio ou ainda em grandes carregamentos em caminhões.
O principal polo de distribuição, segundo o delegado federal, está em Cidade do Leste, no Paraguai, mas esses produtos vêm da China, muitos deles falsificados, e nenhum com garantia de aplicabilidade. “Além de não haver controle sobre eles, não se sabe que tipo de dano esses produtos podem causar ao meio ambiente, às pessoas, aos rios”, afirmou.
Insumos contrabandeados custam 20% do produto original
O grande atrativo para a aquisição está de fato no preço. Segundo o delegado federal Marco Smith, insumos contrabandeados custam, em média, 20% do preço dos vendidos de forma regular no mercado brasileiro. “Eles [os contrabandeados] não têm qualquer tipo de política de logística reversa, então o descarte das embalagens é outro problema que chama a atenção e que precisa ser fiscalizado”, destacou.
O mercado, que neste ano se mostra ainda mais sedento pelos insumos contrabandeados, tem na região um dos maiores consumidores e um polo de armazenagem e distribuição.
Segundo a Polícia Federal, são pelo menos sete grandes distribuidores de agrotóxicos contrabandeados que mantêm seus estoques nas cidades de Cascavel – onde existe mais do que um -, em Corbélia – onde está um importante ponto desse tipo de crime -, Palotina, Toledo, Maripá, Guaíra e Terra Roxa. Entre os principais consumidores, além do Sul e do Centro-Oeste brasileiro, há de se destacar a região de Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia, onde os insumos têm colocação garantida nas plantações.
Assim, o objetivo é fechar o cerco contra esses contrabandistas e a cadeia criminosa, que inclui a comercialização, o transporte, a armazenagem, a distribuição e até o consumo final.
Não existe um levantamento que possa indicar o volume de pesticidas contrabandeados usados nas lavouras do Paraná ou do País, mas a estimativa do sindicato que representa a categoria no mercado formal dos produtos vendidos com certificação e receituário agronômico é de que para cada quilo/litro usado dentro da lei outro é usado do mercado clandestino. “Além do contrabando dos produtos conhecidos, a fiscalização quer identificar a presença de produtos proibidos no Brasil, cujos registros já foram cassados”, reforçou o delegado.
Adapar: maior prejudicado é o produtor
O gerente de Sanidade Vegetal da Adapar, Marcilio Martins Araújo, destaca que a entidade serve como apoio à polícia e que é comum, nas próprias fiscalizações da Adapar, encontrar produtos contrabandeados no campo. “Sempre que isso ocorre chamamos a polícia porque esse tipo de crime é um caso de polícia”, esclarece.
Mas o gerente reconhece que essa não é uma fiscalização fácil de ser feita justamente por se tratar de um comércio paralelo, do qual não se tem números. “Mas quem perde é o agricultor, pois geralmente são produtos falsificados e que não funcionam. Há casos de produtos com 25 princípios ativos, entre eles herbicida que desseca a lavoura. Com quem o produtor vai reclamar se ele está usando algo que não tem garantia e nem sabe sua composição?”, alerta.