Policial

Áudios revelam planos de detentos ligados ao PCC

Assustados, agentes que trabalham na unidade temem uma nova rebelião

Cascavel – Quatro áudios recebidos pela reportagem de O Paraná demonstram a união e as intenções dos presos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) que estão detidos na PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel).

São gravações feitas por agentes penitenciários que trabalham na unidade e que, assustados, temem uma nova rebelião na penitenciária.

“Eles estão cada dia mais unidos e o aumento constante de detentos que aderem ao PCC”, disse um dos agentes.

Segundo ele, a partir da rebelião de 2014 os detentos se uniram ainda mais. Em um dos áudios os presos contam, aos gritos, quantos ligados ao PCC estão em cada cela da unidade.

“Só aí três, né? Mas lá embaixo com o Estrela tem quatro, já são sete. […] Mas tem o Laser, que ai são oito. Daqui uns dias vai ter uns 50, pode ter certeza”, grita um dos detentos.

Eles comentam ainda que o “Laser” veio de Toledo e já passou pela 15ª SDP (Subdivisão Policial). Em outra gravação, os faccionados comentam que estão em Cascavel e que lá [na PEC] é a “casa deles”.

“Enquanto estivermos dentro dessa cadeia, da nossa casa, vocês vêm aqui só pra trabalhar para nós, entendeu? Porque aqui dentro quem manda é nós e vocês têm que passar o trabalho pra nós”.

Em outro trecho eles citam que os novos detentos precisam fazer “da nossa forma, na inteligência, na democracia”.

“Vocês não dão atenção pra nós, vamos mostrar como que funciona”, ameaçam.

Um dos pontos que merece destaque em outra gravação é quando um detento pede a união de todos os ligados ao grupo criminoso.

“Como que vai ser na rua? Vai ser a mesma coisa. Agora, se nós tivermos união na rua vai ser daquele ‘jeitão’”.

Um preso conta aos outros que, caso eles precisem, em sua casa existe armamento para ser usado.

“Eu mesmo tenho arma em casa, se precisar tá na mão. É só ligar que a minha guerreira arruma. Não tá lá pra rato, pra ser enferrujado, tá lá pra ser usado”.

Mas, para isso, ele ressalta que é preciso ter união.

“Se não tiver união na cadeia, se tiver desse tipo aí, como que vai ter união na rua? Vai ser só polícia matando ladrão e ladrão matando outro aí”.

 “Hinos”

Conforme um agente, cotidianamente “hinos” do PCC são entoados nas celas e a segurança é bastante deficitária.

“Os agentes fazem o que podem, tentam evitar que algo de pior aconteça, mas enquanto não tivermos uma direção pulso firme, os presos da facção continuarão dominando a penitenciária”.

Questionado a respeito das mudanças citadas pelo diretor Valdecir Gralick para melhorar a estrutura na unidade, o servidor ri.

“Isso é um absurdo. Se a pessoa está aqui dentro, ela fez algo de errado e tem que pagar por isso. Não é certo dar conforto a quem não merece. Os agentes que estão no dia a dia lidando com os presos são os que mais sofrem, mas mesmo assim lutam para manter a casa em ordem”.

Direção admite “lideranças” na unidade

O diretor da PEC, Valdecir Gralick, no entanto, negou a existência de presos faccionados na unidade.

“Eles citam o comando, mas o que temos são lideranças, assim como existem em todos os lugares. Eles pedirem união e falarem das mudanças que aconteceram ao longo deste ano, é algo normal. Não significa que são ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital)”.

Segundo Gralick, o que os detentos citam como “conquistas” foram melhorias necessárias na unidade.

“Um dos exemplos são as celas de visita íntima. Como um preso vai ficar aqui sem ter contato com a esposa, por exemplo? E as mudanças não foram tão grandes, só coisas simples como uma lâmpada, por exemplo”.

Outro ponto destacado pelo diretor é a instalação de televisores dentro das celas.

“Em cada cubículo temos em média seis pessoas. Elas ficam lá dentro o dia todo, só saem para o pátio de sol. Imagine quando fica uma semana chovendo, como aconteceu esses dias. É desumano não permitir que eles possam assistir televisão”.

Gralick ressaltou que, quando assumiu a PEC, a unidade possuía uma gestão ultrapassada.

“Tudo no mundo evoluiu nos últimos anos, menos aqui. O que estamos tentando fazer é mudar isso, manter a segurança, mas oferecer o mínimo de dignidade aos presos”.

Ouça os áudios dos detentos:

(Com informações de Tissiane Merlak)