Política

Quadro Negro financiaria caixa 2 de Richa, do filho e do irmão Pepe, em 2018

Curitiba – O empresário Eduardo Lopes de Souza, um dos principais pivôs do escândalo da Quadro Negro no Paraná, com desvios de mais de R$ 20 milhões da Secretaria Estadual de Educação, revelou novas informações sobre o esquema. Em audiência na 9ª Vara Criminal de Curitiba, semana passada, o dono da Valor Construtora disse que o esquema de desvios de recursos das escolas estaduais investigados pela operação também abasteceria a campanha do ex-governador Beto Richa (PSDB) ao Senado, neste ano. O vídeo do depoimento foi divulgado pela RPC.

Segundo o empreiteiro, o ex-diretor da secretaria Maurício Fanini, principal articulador do esquema, abordou-o em 2015, logo após a reeleição de Richa ao governo do Estado, cobrando mesadas de R$ 100 mil para abastecer, via caixa 2, gastos de campanha do tucano em 2018 para o Senado. O fundo também ajudaria a financiar as campanhas do irmão e do filho de Beto – José “Pepe” e Marcello Richa -, que se candidatariam, respectivamente, a deputado federal e a deputado estadual.

“Mas já, cara?”, foi a pergunta que Lopes de Souza diz ter feito a Fanini. “É, R$ 100 mil por mês. Vai ser ele senador, o Pepe e o Marcello”, teria sido a resposta, segundo o empreiteiro relatou à Justiça.

De acordo com o delator, o pagamento da mesada teria sido feito diretamente a Fanini por quatro ou cinco meses, até ele ser exonerado do cargo. Pouco depois, as fraudes na Seed vieram a público e a Operação Quadro Negro foi deflagrada pelo MP-PR (Ministério Público).

Beto sabia

À Justiça, Lopes de Souza afirmou que Beto Richa tinha sido avisado por Fanini da “ajuda” que a Valor vinha dando à campanha dele em 2014. Durante uma partida de tênis, ao ser informado pelo então diretor da Seed de que havia três empresas no esquema, o tucano teria questionado: “São de confiança?”. Ao receber uma resposta afirmativa, teria devolvido: “Então, ok, pode fazer”.

Outro lado

O ex-governador Beto Richa afirma que as informações “são falsas (…) prestadas por um criminoso confesso que não tem fundamentos ou provas”. Lembrou que foi ele quem determinou as investigações na Educação quando soube das irregularidades.

Marcello Richa afirmou que as acusações do delator são inverídicas e sem provas. Pepe Richa não se manifestou.

Esquema beneficiou toda a cúpula tucana

Pela primeira vez na condição de delator, o empresário Lopes de Souza disse à Justiça Estadual que a cúpula tucana do Governo Beto Richa se beneficiou com o esquema. O processo corre em segredo de Justiça e tem 15 réus ao todo.

Além do empreiteiro, que falou por cerca de cinco horas, também prestaram depoimento ao longo da semana o filho dele, Gustavo, e a irmã, Viviane. Os três já tinham sido ouvidos no processo, mas não haviam respondido a todas as perguntas. Lopes de Souza fechou acordo de colaboração premiada, homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no ano passado, e passou a ajudar nas investigações – daí os interrogatórios.

Agora somente um réu precisa ser ouvido no caso, o ex-diretor da Seed Maurício Fanini, preso em Brasília. Ele será ouvido por carta precatória. Fanini aguarda a homologação do seu acordo de colaboração premiada pelo STF. Preso desde setembro, Fanini foi transferido a Brasília este mês por suposta ameaça à sua integridade física.

Veja o que disse o delator Lopes de Souza sobre cada um dos políticos supostamente envolvidos no escândalo da Quadro Negro:

Valdir Rossoni (PSDB) – deputado federal e ex-chefe da Casa Civil de Beto Richa: Lopes de Souza disse que conheceu Rossoni em 2011, em Bituruna, reduto eleitoral do deputado. A Valor Construtora venceu licitações para a realização de obras na cidade e sempre venceu sem concorrência e cobrando o preço máximo. Em contrapartida, a empresa teria feito um pagamento de 10% do valor a Rossoni – o equivalente a R$ 460 mil. A defesa de Rossoni disse que o delator falta com a verdade.

Ademar Traiano (PSDB) – presidente da Assembleia Legislativa do Paraná: O delator disse que fez quatro pagamentos de R$ 100 mil a Traiano, em dinheiro vivo, para a campanha de 2014. Segundo ele, o valor teria sido acertado em uma reunião na casa do ex-governador Beto Richa, da qual participaram o parlamentar e Maurício Fanini, além do próprio Richa.

Segundo ele, as entregas de propina ocorreram nos seguintes locais: duas na sala da liderança do Governo na Assembleia, outra na sala da presidência da Casa e outra na casa de Traiano. O parlamentar disse que assegura a lisura de suas ações e que a Justiça deve agir na plenitude de suas competências.

Plauto Miró (DEM) – deputado estadual: O dono da Valor relatou que Plauto cobrou propina para autorizar aditivos aos contratos de obras nas escolas estaduais. Os aditivos eram pagos com verbas da Assembleia Legislativa do Paraná devolvidas ao Executivo. Segundo Lopes de Souza, o deputado cobrou 10% dos R$ 6 milhões, repassados a mais à construtora.

“Ele [Plauto] disse: ‘5% pra mim e 5% pro Rossoni’. Eu disse: ‘Tá bom. Da minha parte, eu topo’”, detalhou Souza. Segundo ele, foram feitos dois pagamentos de R$ 300 mil diretamente a Plauto e em dinheiro vivo. Plauto não quis se manifestar.

Tiago (PSB) e Durval Amaral – pai e filho, presidente do TCE-PR e deputado estadual, respectivamente: Lopes de Souza disse que doou R$ 50 mil, via caixa 2, à campanha de Tiago Amaral. O pai do parlamentar, conselheiro Durval Amaral, teria agradecido pessoalmente o repasse. Em contrapartida, o construtor teria pedido para que o então diretor da Secretaria de Estado da Educação, Maurício Fanini, não fosse transferido. “Ele [Durval] falou: ‘Pode deixar. Tá combinado’”, afirmou o delator.

Durval Amaral disse que as declarações são uma retaliação porque foi ele quem mandou suspender os pagamentos à construtora, no TCE. Já Tiago Amaral afirmou que o delator não diz a verdade e que, quanto mais rápido avançarem os processos, mais rápido se comprovará a inocência do parlamentar.