Política

O ‘fenômeno’ Bolsonaro

Militar da reserva e político, Jair Bolsonaro cumpre o sexto mandato na Câmara dos Deputados e é considerado pré-candidato à Presidência da República no ano que vem.

Enfático em alguns discursos, o deputado vem ganhando ‘fama’ e cada vez mais apoiadores, que seguem em uma onda ‘anti-PT’ ou que o buscam como uma ‘opção à parte’ de tudo que já foi visto.

Em Cascavel não é diferente, apoiadores do capitão da reserva tem dedicado tempo e dinheiro para aumentar a popularidade de Bolsonaro. Até um outdoor foi em apoio foi pago por um grupo de apoiadores que também mandaram confeccionar camisetas com a caricatura do pré-candidato.

Independente de opiniões, os seguidores de Bolsonaro aumentam em número. A reportagem do Hoje News entrevistou o mestre em Ciência Política e advogado Marcelo Navarro, que fez uma avaliação a respeito do ‘fenômeno’.

Pós-crise

“O Bolsonaro não é um fenômeno novo. É algo que de tempo em tempo ocorre. Eu atribuo o fenômeno Bolsonaro a uma fase pós-crise, ou mesmo ainda de crise nacional e internacional que estamos vivendo. As pessoas buscam a figura autoritária, destemida, como a figura de um pai mesmo. Com a velocidade da informação, as pessoas buscam soluções rápidas de um modelo que está em crise e o deputado aparece como esse modelo. Já faz tempo que ele está aí, mas nunca teve tanta representatividade desde a última eleição, quando ele não conseguiu apenas ser reeleito como levou o filho junto. E além desse papel do ‘pai’, vem que ele é contra o PT, cultura LGBT, e mantém o foco sempre tradicional, prometendo criar mecanismos onde as pessoas possam ser punidas. A classe mais baixa, principalmente, é solidária ao autoritarismo. E é o caldo que o Bolsonaro precisa para tentar se tornar o grande mito dos últimos tempos”.

A presidência

“Em momentos pós-crise aparece a figura mitológica com essas características. Mas as expectativas para poder resolver determinado problema não condizem com capital político para resolver os problemas efetivamente. Se o fenômeno Bolsonaro vai ser concreto, vai ter força ou não, ou se vai ser como o Tiririca por exemplo, que cresceu até determinado momento…se o Bolsonaro vai ter força para angariar a presidência… A política é exatamente a quantidade de poder que você carrega, então não dá para saber até que ponto o Bolsonaro acredita nessa capacidade de ficar fora dos jogos políticos, porque ele precisa ganhar força. Se me perguntasse há algum tempo se ele teria alguma chance de ganhar, eu diria com certeza que não. Hoje, eu fico em dúvida, depende de como as pessoas vão fazer uso do nome dele. Eu não descartaria ele estar pelo menos entre os três, só que ele vai ter que entrar no jogo político”.

Bolsonaro e Lula

“O fenômeno Bolsonaro se parece muito com o Lula, quando estava no auge. E é por isso que o próprio Lula renasce para 2018, porque de alguma forma representa uma figura forte. Como, por exemplo, o Trump [Donald Trump, presidente dos Estados Unidos] que venceu na tentativa de mudar o modelo e que não mudou nada até agora. Podemos comparar a chegada do Bolsonaro até como a chegada do Hittler, que surgiu nas mesmas proporções na Alemanha em 1929, numa Alemanha em frangalhos, mas que já era uma grande potência mundial, e o Hittler com um discurso salvador foi galgando os espaços políticos, usando das mídias da época como o rádio e os primeiros passos da televisão, e conseguiu o que queria. A diferença é que o Bolsonaro está pegando as redes sociais, tem feito um grande trabalho nessas mídias”.

Lula das periferias

“Apesar das acusações e das investigações, muita gente vai com Lula. E isso acontece porque quem é da periferia tem tratamento diferenciado com os políticos trabalhando no interior. E algo que tem aumentado bastante é a desigualdade social”.

Experiência política

“A presidência não é só acabar com bandido. É preciso trabalhar com economia, e ele não tem essa experiência. Precisa atender os setores minoritários aos quais ele é bastante contra, precisa atender à infraestrutura e ele nunca falou disso. Caberia, quem sabe, como um ministro, dependendo do setor e dependendo de quem está na presidência”.

Intervenção militar

“Bolsonaro na presidência não significaria intervenção militar. Aumentaria, sim, o critério autoritário, mas o Legislativo não acompanha isso. A não ser que ele conseguisse eleger a maior parte da bancada dos deputados de pessoas que pensam como ele, daí seria problemático. Acredito que ele teria que se adaptar, porque deu para ver o que ocorreu com a Dilma sem uma bancada. E com ele seria a mesma coisa. O Congresso não vai querer muita coisa que seja diferente daquilo que já é feito. A intervenção militar só ocorreu, quando ocorreu, porque teve um investimento e um interesse maciços americano. E já não há mais isso”.

Os candidatos

“Além do Bolsonaro, Lula; a não ser que ele venha com impedimento do Tribunal Regional Eleitoral e que seja cumprida a condenação dele, aí o partido terá de ver uma segunda opção que eu creio ser Fernando Haddad; temos o Geraldo Alckmin e o Álvaro Dias que entra como o azarão, que deve disputar bastante com o Bolsonaro, mas que o atual partido não tem força suficiente para levar o bolo. Já o Temer, esse é só um tapa-buraco, que está começando e foi protagonista nessa mudança toda. O Congresso está firme com ele, quem sabe para poder tentar arrumar a zona, mas não acredito que ele entre na disputa”.