Política

“Nunca vão tirar nossa democracia”, promete Biden no discurso da posse

Biden promete “escrever uma história americana de esperança, não de medo, de unidade, não de divisão”

“Nunca vão tirar nossa democracia”, promete Biden no discurso da posse

Washington – Em cerimônia no Congresso dos Estados Unidos, Joe Biden tomou posse nessa quarta-feira (20) e se tornou o 46º presidente dos Estados Unidos. Em seu discurso, o democrata buscou enfatizar a força da democracia dos Estados Unidos. Ao lembrar a invasão do Capitólio há duas semanas, ele reafirmou a vitória da democracia, demonstrada na transição pacífica de poder ontem, e pediu o fim “desta guerra incivil”.

“Aqui estamos apenas dias depois que uma turba pensou que poderia usar a violência para silenciar a vontade do povo, para parar o trabalho da nossa democracia, para nos tirar do solo sagrado. Não aconteceu, nunca vai acontecer. Não hoje, nem amanhã, nem nunca. Nunca!”

Biden disse que a democracia é preciosa e frágil, mas prevaleceu: “Este é o dia dos Estados Unidos, é o dia da democracia, um dia de história e esperança, de renovação e determinação. Os Estados Unidos foram testados, e um novo país ergueu-se perante o desafio. Hoje celebramos o triunfo não de um candidato, mas de uma causa. Da causa da democracia”.

O presidente citou a ascensão do extremismo e do terrorismo interno, além do racismo que o país “precisa confrontar e vai derrotar”. “Neste lugar sagrado, onde, há apenas alguns dias, a violência tentou sacudir a fundação da capital, nos unimos como uma nação, sob Deus, indivisível, para levar adiante a transferência pacífica do poder como fazemos há mais de dois séculos”.

Assim como tem feito em seus discursos desde a campanha, Biden reiterou a necessidade de unir a nação e disse que “a unidade é o caminho adiante”. “Precisamos acabar com esta guerra incivil que coloca vermelho contra azul, rural contra cidade, conservadores contra progressistas. Nós podemos fazer isso se abrirmos nossas almas ao invés de endurecer nossos corações”.

Biden prometeu defender os Estados Unidos para o “bem público”. “Defenderei a Constituição. Defenderei nossa democracia. Defenderei os Estados Unidos (…) E, juntos, vamos escrever uma história americana de esperança, não de medo, de unidade, não de divisão. De luz, não de escuridão. Uma história de decência e dignidade, amor e cura, grandeza e bondade”.

E terminou o discurso com uma promessa de estar à altura do momento histórico: “Sabemos qual é o momento. A democracia e a esperança, a verdade e a justiça não morreram à nossa vista, mas prosperaram. Que os Estados Unidos garantam a liberdade em casa e permaneçam como um farol para o mundo. Isso é o que devemos aos nossos antepassados, uns aos outros e às gerações a seguir. Com propósito e determinação, nos voltamos para as tarefas de nosso tempo, sustentados por fé, movidos pela convicção e devotados uns aos outros e ao país que amamos de todo coração”, disse Biden. “Meus concidadãos, encerro hoje onde comecei, com o juramento sagrado diante de Deus e de todos vocês, dou minha palavra. Sempre serei sincero com vocês”.

Ao fim do discurso do presidente, o ícone da música country Garth Brooks cantou o hino cristão “Amazing Grace”. Antes do juramento de Biden e seu discurso, Lady Gaga cantou o hino nacional, Kamala Harris fez o seu juramento como vice-presidente e Jennifer Lopez cantou o clássico folk de Woody Guthrie “This land is your land” (Esta terra é sua terra).

A fala de Biden, centrada na necessidade da união dos americanos diante dos desafios, como o novo coronavírus, contrastou de forma extrema com a fala de Donald Trump em 2017. Na época, o republicano usou um tom populista, nacionalista e que para muitos analistas soou quase absolutista.

 

Biden interrompe construção de muro e volta à OMS; veja lista de decretos

Depois de tomar posse como presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden assinou pelo diversos decretos para desfazer diretamente políticas instituídas por Donald Trump e corrigir o que ele considera “falhas do legado” do republicano, ou, nos limites do Poder Executivo, instruir órgãos e agências do governo a implantarem mudanças de rota.

A série de ordens executivas foi dividida em quatro principais áreas classificadas como “crises convergentes”: pandemia de coronavírus, crise econômica, meio ambiente, e questões de imigração e diversidade.

Dentre as principais medidas, estão a revogação da declaração de emergência que ajudou a financiar a construção de um muro na fronteira dos EUA, a suspensão do processo de saída da OMS (Organização Mundial da Saúde) e o restabelecimento de um conselho na Casa Branca para coordenar a resposta ao coronavírus. Na terça-feira (19), os EUA ultrapassaram a marca de 400 mil mortos pela covid-19.

Além do muro na fronteira e da OMS, os decretos preveem a obrigatoriedade do uso de máscaras no controle à pandemia: Biden vai determinar a obrigatoriedade do uso da proteção facial e o distanciamento físico em todas as viagens interestaduais e nas instalações federais, assim como para todos os funcionários do governo; nova resposta coordenada à pandemia: Biden deve restabelecer uma divisão do Conselho de Segurança Nacional dos EUA que tinha a função de se antecipar a emergências na área da saúde pública; retorno ao Acordo de Paris, do qual os EUA deixaram oficialmente em 4 de novembro: Biden deve reverter a decisão e reassumir o compromisso dos EUA com o tratado que busca formas de frear as mudanças climáticas no mundo todo; alívio econômico na pandemia: Biden pedirá aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças e a diversas agências federais que prorroguem as moratórias sobre despejos e as execuções hipotecárias que têm o governo como garantidores até pelo menos 31 de março; política de imigração: medida do Governo Trump que será revogada e Biden também pedirá o acesso à cidadania para cerca de 11 milhões de imigrantes sem documentos que já vivem nos EUA, incluindo aqueles em situação temporária e os chamados “dreamers”, que vivem no país desde que eram crianças; igualdade racial e de gênero: após um ano marcado pelo escancaramento do racismo estrutural nos EUA, Biden deve assinar decreto exigindo que todas as agências federais tornem a equidade racial um fator central em seu trabalho e deve encerrar a “Comissão 1776”, um conselho consultivo criado e propagandeado por Trump como fonte de “educação patriótica” que “celebra a verdade”, mas que historiadores apontam que alguns relatórios produzidos pela comissão distorcem a história da escravidão nos EUA e tentam apagar as cicatrizes da segregação racial no país. Outra demanda do novo governo é o fim da discriminação com base na orientação sexual ou na identidade de gênero, uma política que reverte, por exemplo, a proibição de pessoas transgênero servirem as Forças Armadas dos EUA.

 

Foto: Patrick Semansky | Reuters