RIO ? Quando o Solar Impulse 2 pousar nesta segunda-feira em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, a Humanidade completará um feito extraordinário. Confiando apenas na energia solar, a aeronave de fibra de carbono completa uma volta ao redor do globo, percorrendo cerca de 40 mil quilômetros, ao longo de 500 horas de voo. Mais que um desafio de superação, a aventura comandada pelos pilotos André Borschberg e Bertrand Piccard mostra ao mundo o potencial da tecnologia limpa e renovável de geração de energia.
? A volta ao redor do mundo termina em Abu Dhabi, mas não o projeto ? disse Piccard no último sábado, em entrevista à Reuters, pouco antes de embarcar para a última jornada, entre Cairo, no Egito, e Abu Dhabi.
A aventura começou na própria Abu Dhabi, em 9 de março do ano passado. Inicialmente, estava prevista para durar 5 meses, mas em julho, após a 8ª perna, entre Nagoia, no Japão, e Honolulu, no Havaí, a aeronave precisou de reparos no sistema de bateria, que duraram quase dez meses. Em abril deste ano, a jornada foi retomada.
Ao todo, foram 17 escalas, sendo a última no Cairo, no Egito, de onde o Solar Impulse 2 decolou na noite do último sábado.
Por ser pioneira, a viagem bateu algumas marcas interessantes. Entre Nagoia e Honolulu, por exemplo, Borschberg realizou um voo sem precedentes de 117 horas e 52 minutos, um recorde para uma aeronave deste tipo. Ao longo de cinco dias e cinco noites, o Solar Impulse cruzou as águas do Pacífico, provando ser viável o uso de baterias para voos noturnos.
A aeronave também foi a primeira a realizar um voo transatlântico, entre Nova York, nos EUA, e Sevilha, na Espanha, apenas com energia solar, em viagem que demorou 71 horas.
? Essa aeronave é essencialmente uma rede elétrica inteligente ? disse Borschberg, na ocasião. ? Usando a energia coletada de fontes renováveis e fornecendo de forma eficiente para os usuários em períodos diferentes de quando ela foi gerada.
O Solar Impulse 2 tem envergadura de 72 metros, maior que a de um Boeing 747, mas pesa apenas 2,3 toneladas, o peso aproximado de um carro de passeio. São quatro hélices, abastecidas por quatro baterias que armazenam a energia gerada por 17.248 células solares. A velocidade varia entre 45 km/h e 90km/h, dependendo da altitude. O cockpit tem espaço para apenas uma pessoa.
Mais que uma aventura, a volta ao mundo a bordo de um avião totalmente movido com energia solar é um marco no movimento global de substituição dos combustíveis fósseis.
?Nossa ambição para o Solar Impulse é que o mundo de exploração e inovação faça uma contribuição pela causa das energias renováveis?, diz o manifesto do projeto, escrito por Piccard. ?Nós queremos demonstrar a importância das tecnologias limpas para o desenvolvimento sustentável, e colocar sonhos e emoções de volta no coração da aventura científica?.
Em videoconferência na manhã desta segunda-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, parabenizou Piccard e toda equipe do Solar Impulse pelo feito.
? Este é um dia histórico, não apenas para você, mas para a Humanidade ? disse o secretário. ? Você pode estar terminando a sua jornada, mas a jornada para um mundo sustentável está apenas começando.