A visita de Barack Obama ao Vietnã, na segunda-feira, foi mais um passo na construção de seu legado histórico. A visita reforçou a continuidade de uma política de reaproximação iniciada há mais de 20 anos. Nesse período, o número de turistas americanos no país saltou de menos de 60 mil para cerca de meio milhão; e as trocas comerciais bilaterais, que eram de US$ 450 milhões, cresceram mais de cem vezes.
Em Hanói, o presidente americano anunciou o fim do embargo à venda de armas ao país, em vigor desde o fim da guerra entre as duas nações. A medida foi interpretada como um recado a Pequim, cuja postura expansionista no Mar do Sul da China tem incomodado tanto os EUA como os vizinhos do gigante asiático.
Por este prisma, a visita de Obama se soma à repactuação de acordos militares com as Filipinas e à aproximação com Mianmar, à proporção que o regime se move na direção de reformas democráticas, além do reforço dos laços com velhos aliados, como Japão e Coreia do Sul. São movimentos que endossam as intenções de Washington na região. Segundo analistas, o estratagema é insuficiente para interromper a expansão chinesa, mas pode fortalecer a soberania de pequenas nações asiáticas, à medida que se alinhem com Washington. Tal contraponto a Pequim se torna ainda mais crucial num momento em que, confrontada por uma crise financeira, a China reforça o discurso nacionalista do presidente Xi Jinping.
Mas a presença de Obama em Hanói vai além do aspecto geopolítico. Obama aproveitou o evento para reforçar as virtudes econômicas e políticas da Parceria Transpacífica (o acordo de livre comércio entre os EUA e outras 11 nações do Pacífico, à exceção da China, conhecido pela sigla em inglês TPP). Obama aposta numa negociação mais equilibrada com os chineses à medida que as pequenas nações da região se unirem em acordos multilaterais, como a TPP.
Mas o presidente americano também tem desafios internos. Hillary Clinton, provável candidata democrata a suceder a ele ? depois de afirmar em novembro de 2012, pouco antes de deixar o Departamento de Estado, que a TPP reforçava não apenas a parceria entre as nações, mas igualmente a estabilidade e a segurança na região ? tem falado contra o acordo. Isto sem mencionar as incertezas em relação à política externa do rival republicano, Donald Trump.