PARIS – Apenas quatro dias após o presidente da França, François Hollande ? um dos mais impopulares da História do país ? anunciar que não iria disputar as eleições de 2017, o companheiro do Partido Socialista (PS) e primeiro-ministro, Manuel Valls, lançou sua candidatura na segunda-feira. Com um discurso de reconciliação e união, o premier tenta juntar os cacos de uma esquerda francesa absolutamente dividida, diante de pesquisas de opinião que preveem um segundo turno, no ano que vem, entre o candidato de centro-direita, François Fillon, do partido Os Republicanos, e a representante da extrema-direita, Marine Le Pen, concorrendo pela Frente Nacional.
? Sim: sou candidato à Presidência da República ? afirmou Valls, num comício em Evry, cidade onde foi prefeito e bastião eleitoral dele, ao sul de Paris. ? Dizem que a esquerda não têm nenhuma oportunidade, mas não há nada definido sobre isso. frança
O premier afirmou que deixa o cargo para, assim, participar das primárias socialistas, que serão realizadas em 22 e 29 de janeiro, em primeiro e segundo turno respectivamente. Para o lugar dele, os principais nomes especulados pela imprensa francesa são os dos ministros do Interior, Bernard Cazeneuve, e da Economia, Michel Sapin. Mas também são cogitados os titulares das pastas da Defesa, Jean-Yves Le Drian; da Agricultura, Stéphane Le Foll; da Saúde, Marisol Touraine; e da Educação, Najat Vallaud-Belkacem.
? Quero dar tudo pela França. Hoje, tenho uma responsabilidade: unir. A primária que se abre é uma maneira formidável para recriar a unidade. Minha candidatura é de conciliação, de reconciliação ? discursou Valls, na presença da mulher, Anne Gravoin, entre aplausos dos presentes.
Usando palavras como ?laicidade?, ?igualdade?, ?fraternidade? diante de um modelo social que ?tem que se preservar e modernizar?, o premier, de 54 anos e origem catalã, tenta contornar a catástrofe de popularidade do governo Hollande ? a desistência do atual presidente é inédita na História recente da França, o primeiro mandatário a não se candidatar à reeleição desde a instauração do novo regime constitucional no país, em 1958.
? Me sinto indignado diante da ideia de que a esquerda possa ficar de fora dessas eleições ? afirmou Valls, favorito, segundo as pesquisas, nas primárias socialistas, mas ainda muito atrás dos candidatos da direita na corrida presidencial. ? Devemos nos unir, todos os franceses que rechaçam a ultradireita e a regressão social. A França não deve reviver o trauma de 2002, com uma extrema-direita no segundo turno.
Porém, o discurso do premier parece distante da realidade que o Partido Socialista atravessa. O líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, e o ex-ministro da Economia Emmanuel Macron ? ex-membro do PS que optou por se lançar à Presidência de forma independente, com o movimento En Marche! ? avisaram que não vão participar das primárias socialistas. E o próprio discurso de Valls, em defesa das empresas, aliado a uma personalidade considerada inflexível, encontra resistência dentro das próprias fileiras no partido.
? François Hollande e Manuel Valls fizeram a mesma política. E não se sabe qual dos dois, se Hollande ou Valls, é a lâmina ou o cabo do punhal que rasgou a esquerda ? atacou, no domingo, Arnaud Montebourg, ex-ministro de Indústria do governo socialista, do qual saiu após severas críticas ao Executivo, e futuro adversário do premier nas primárias da legenda.
Em contraste com as divisões da esquerda, a direita se mobiliza em apoio a François Fillon, um ex-primeiro-ministro de 62 anos com propostas de mexer em temas caros aos franceses, que dispõem de uma das maiores redes de seguridade social do mundo: cortar gastos, acabar com meio milhão de empregos no setor público e reformar a Previdência do país.