Cotidiano

'Um belo verão' é um retrato da geração que criou o feminismo

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RIO – Gay assumida, a cineasta francesa Catherine Corsini sempre se interessou pelo movimento feminista da Paris dos anos 1970. E esse período histórico é justamente o pano de fundo de seu novo trabalho, ?Um belo verão?, em cartaz nos cinemas cariocas. No longa, a jovem camponesa Delphine (Izïa Higelin) se muda para a capital da França, onde se envolve com protestos pela libertação feminina e com a ativista Carole (Cécile de France). O relacionamento entre as duas mulheres logo passa da amizade para uma ardente paixão.

? Assim como Carole, eu vivi com um homem por muito tempo. E eu também tinha algo de Delphine, aquele medo de assumir minhas escolhas e minha homossexualidade. Há um pouco de mim em ambas ? diz Catherine, que assina o roteiro com Laurette Polmanss.

Lembrada por ter vivido a espevitada lésbica Isabelle no filme ?Albergue espanhol?, de Cédric Klapisch, Cécile recusou o primeiro convite para participar de ?Um belo verão?.

? Eu já havia interpretado personagens gays cinco vezes. Não queria ficar marcada por um tipo de papel. Eu ainda não tinha feito uma reflexão sobre o fato de que há uma infinidade de personagens homossexuais, que eles não são a mesma pessoa. Depois de ler o roteiro, fiquei emocionada ? conta a atriz.

O ambiente de efervescência do engajamento feminista permite que as protagonistas se sintam mais seguras para debater temas que eram tabus, como aborto e contraceptivos.

? Aquelas pioneiras abriram o caminho para que nós tivéssemos o direito de tomar decisões sobre nossos corpos. Houve uma grande evolução, mas há muito a ser feito ? afirma Cécile.

A diretora concorda com a atriz:

? Muitos intelectuais apreciam apenas obras feitas por homens, dizem que a arte feminina não lhes interessa. Mas aquelas mulheres eram politizadas, fortes e cheias de de vida. É isso que quero mostrar ? comenta Catherine.

Apesar do ambiente libertário que o casal encontra na cidade, Delphine decide voltar ao campo quando seu pai adoece, para cuidar da fazenda da família. No interior, com o preconceito dos parentes e dos vizinhos à flor da pele, o amor entre as duas passa por altos e baixos.

? Há um momento em que elas aparecem dançando com a mãe de Delphine, Monique (Noémie Lvovsky), e parece que ela pode compreender e aceitar a situação. É uma utopia do filme. Acho que a mensagem é que devemos ser fortes e otimistas. É necessário tempo para se aceitar e se libertar ? analisa a realizadora.

Após atuar em filmes de diretores como Clint Eastwood (?Além da vida?, de 2010) e os irmãos Dardenne (?O garoto da bicicleta?, de 2011), Cécile diz que se sentiu encorajada ?como mulher? a trabalhar com Catherine:

? Ela fala de si mesma, do dilema de lidar com as pressões sociais e familiares. Trabalhar com diretoras me estimula.