Omar Mateen, um americano de 29 anos e origem afegã, invadiu na madrugada de domingo passado uma boate gay em Orlando, na Flórida, e, em quase três horas de fúria, matou a tiros 49 pessoas e feriu 53, antes de ser morto pela polícia. Motivado por fanatismo, intolerância religiosa e homofobia, o caso se configura como o maior massacre a tiros já ocorrido nos EUA e o pior atentado terrorista em solo americano desde o 11 de Setembro. Enquanto a opinião pública reage com horror e perplexidade, evidencia-se mais uma vez o óbvio: a facilidade de aquisição de armas, inclusive rifles automáticos de uso militar, faz desta uma tragédia anunciada.
E outras, infelizmente, virão.
Pouco antes de iniciar o ataque, Mateen ligou para a polícia e jurou lealdade ao Estado Islâmico, e o massacre foi reivindicado posteriormente pelo grupo extremista, que classificou o jovem como um ?soldado do califado?. Até agora, porém, as evidências sugerem um ato isolado do que se convencionou chamar de ?lobo solitário?. O jovem, filho de um simpatizante do Talibã, estava na lista de vigilância do FBI e foi interrogado pelas autoridades americanas em duas oportunidades: para esclarecer comentários a colegas de trabalho de que possuía laços com extremistas; e a segunda por ter conversado com um suspeito. Também foi acusado de violência doméstica pela ex-mulher, além de ter um conspícuo comportamento homofóbico. E, apesar deste histórico, Mateen não teve qualquer dificuldade para adquirir legalmente, nas boas casas do ramo, as duas armas usadas no massacre, um rifle de assalto AR-15 e uma pistola 9mm.
Analistas dizem que o ataque de domingo poderá favorecer a campanha eleitoral de Donald Trump, que tem se valido do discurso do medo, por meio de bravatas xenófobas e racistas, para atrair uma faixa menos escolarizada do eleitorado americano, mais suscetível a esse tipo de retórica. Outros, no entanto, ponderam que o descontrole no comércio de armas pode dar, sem jogo de palavras, munição à provável candidata democrata Hillary Clinton. Argumentos não faltarão. Pois, independentemente das motivações de Mateen, terrorismo ou homofobia, ele se valeu de uma legislação frouxa e inconsequente para se armar.
Atualmente, há um ataque a tiros por dia no país. Nos 16 casos mais recentes, inclusive o de Orlando, as armas foram compradas legalmente, e pelo menos oito dos atiradores tinham antecedentes criminais ou histórico de perturbações mentais. A cada massacre, o presidente Barack Obama volta a defender um controle mais restrito e rigoroso do comércio de armas, mas esbarra na firme oposição da maioria republicana no Congresso, apoiada pelo poderoso lobby das empresas do setor. O argumento, ao qual faltaria lógica se não faltasse, antes, honestidade, é que, armada, a população pode se defender melhor. Apoiada numa cultura beligerante, esse tipo de premissa, infelizmente, ainda prevalece.