Cotidiano

Shakespeare Remix: projeto digital do GLOBO permite criar histórias

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RIO – Quatrocentos anos após sua morte, William Shakespeare de um jeito nunca visto. Literalmente. É o projeto Shakespeare Remix, que entra no ar hoje no site do GLOBO, e permite aos leitores criar suas próprias narrativas shakespearianas. A partir de um banco de dados composto por 30 mil falas de 200 personagens de 34 peças do bardo, os usuários escolhem dez falas e escrevem suas próprias histórias com até dois atores virtuais. Para ajudar a encontrar a fala que melhor se adeque à trama, há uma ferramenta de busca por palavras. Todas as traduções são de Barbara Heliodora. Os direitos foram cedidos, sem custos, pelas filhas da crítica.

Com o texto pronto, os usuários são informados de qual personagem e de qual peça vieram cada uma das falas utilizadas no seu remix. Em um clique, é possível acessar uma pequena descrição e um vídeo no qual os colaboradores do projeto interpretam uma cena representativa da obra em questão, como ?Hamlet? ou ?Ricardo III?. Todo o conteúdo pode ser compartilhado através das redes sociais dos usuários. Alguns dos remixes feitos pelos usuários serão escolhidos para serem encenados em vídeo.

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Shakespeare Remix foi idealizado por Gabriela Allegro, jornalista do Núcleo de Dados do GLOBO. Gabriela conta que colocar o projeto de pé sozinha seria impossível. Por isso, há três meses foi lançado um convite público para quem quisesse colaborar, e 500 pessoas toparam participar. A primeira missão era fazer a curadoria e a edição das falas que seriam incluídas no banco de dados. Alguns solilóquios muito longos, por exemplo, foram divididos em várias partes menores. Em alguns casos, o nome de um personagem citado foi excluído para que os usuários não identificassem de que peça pertencia o texto.

? Nós formamos um tecido, um bazar colaborativo que é uma outra maneira de pensar, produzir e, assim, viabilizar o projeto ? afirma a jornalista, especialista em projetos digitais coletivos e que já comandou iniciativas semelhantes nos centenários de Jorge Amado e Graciliano Ramos.

A segunda etapa foi a gravação dos 200 vídeos, um para cada personagem. Os colaboradores puderam escolher os seus favoritos e fizeram as suas próprias gravações. Entre os participantes, há gente de todas as regiões do Brasil, de atores a um professor de matemática. O diretor Sérgio Módena foi um dos entusiastas do projeto.

? É uma ideia excelente porque aproxima Shakespeare de muita gente. Dessacraliza a imagem de ser algo distante ou de que apenas poucos podem usufruir ? diz Módena.

Liana Leão, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e criadora do portal Shakespeare Digital Brasil, foi consultora do projeto e destaca a atualidade do bardo:

? O autor clássico, como diz Italo Calvino, passa pelo teste do tempo. Shakespeare já passou pelo teste de quatro séculos, pois fala da condição humana: ira, orgulho, paixão. Ele não falou apenas para a época dele, mas para todas as posteriores.