RIO ? As altas temperaturas do primeiro semestre do ano pegaram os cientistas de surpresa, apesar do consenso acadêmico de que os eventos climáticos extremos se tornarão cada vez mais frequentes e intensos. Junho foi o 14º mês seguido de recordes de temperatura na média global, segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Em anúncio nesta terça-feira, a agência das Nações Unidas informou ainda que irá examinar as causas da temperatura de 54 graus Celsius registrada no Kuwait na semana passada, novo recorde do Hemisfério oriental.
? O que mais me preocupa é que não antecipamos estes saltos de temperatura ? disse David Carlson, diretor do programa de pesquisas climáticas da OMM, em entrevista à Reuters. ? Nós previmos aquecimento moderado para 2016, mas nada como as elevações de temperatura que estamos vendo.
De acordo com o pesquisador, as altas temperaturas, principalmente no Hemisfério Norte, nos primeiros seis meses do ano, somadas ao degelo acelerado e antecipado das geleiras do Ártico e às elevações dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera, apontam para uma aceleração nas mudanças climáticas.
? Existe uma escalada da temperatura, mas eventos extremos como enchentes se tornaram o novo normal ? disse Carlson. ? As taxas de degelo registradas no primeiro semestre de 2016, por exemplo, nós normalmente não vemos até mais para o fim do ano.
E as elevações nas temperaturas podem ameaçar pessoas, animais e ecossistemas.
? Também é crítico o fato de as pessoas sobreviverem ao calor usando mais energia para o resfriamento, esgotando ainda mais os recursos do planeta ? disse o pesquisador.
Entretanto, Carlson alerta que as incertezas em torno dos eventos extremos podem ser usadas para negar as mudanças climáticas.
? A questão está mudando de ?o clima mudou?? para ?em quanto?? ? disse Carlson. ? Estatisticamente nós precisamos nos tornar melhores em prever não apenas a frequência e intensidade desses eventos, mas quanto tempo eles vão durar.