Cotidiano

Rebeldes anunciam ofensiva total a Aleppo após romperem cerco

TOPSHOT-SYRIA-CONFLICT-ALEPPO-G132RJ9AG.1.jpgDAMASCO – A coalizão rebelde Exército da Conquista (Jaich al-Fateh) anunciou na noite de domingo o lançamento de uma batalha para retomar completamente a cidade de Aleppo, palco de confrontos entre o governo sírio, extremistas e grupos opositores. As forças do regime de Bashar al-Assad tiveram de assumir a defensiva após sofrerem duras derrotas diante da coalizão de rebeldes islâmicos e extremistas nessa cidade-chave.

“Anunciamos o início da nova fase para a libertação do conjunto de Aleppo e anunciamos que vamos dobrar o número de combatentes para que eles possam participar dessa batalha”, declarou a coalizão, em um comunicado. “Vamos parar de lutar apenas quando erguermos a bandeira da conquista sobre a cidadela de Aleppo”. ALEPPO

Durante todo o tempo, os aviões do governo de Assad e da Rússia, seu principal aliado, bombardearam os bairros rebeldes dessa cidade, segundo um correspondente da AFP. Outras áreas rebeldes ao sul de Aleppo foram alvo de dezenas de ataques aéreos das forças sírias nas últimas horas, de acordo com uma fonte militar citada pela imprensa estatal.

No sábado (6), os rebeldes, apoiados pela Frente Fateh al-Sham (antiga Frente al-Nusra, que renunciou a seu vínculo com a rede terrorista al-Qaeda), romperam o cerco imposto desde 17 de julho aos bairros do Leste de Aleppo. Eles cercaram as zonas controladas pelo regime ao oeste da cidade.

O regime reconheceu a ameaça aos bairros pró-governo, onde os moradores começam a armazenar alimentos.

“Nossas forças reassumiram suas posições após absorverem o choque do ataque de milhares de mercenários e encontraram uma rota alternativa para o fornecimento de alimentos e de combustível”, divulgou a emissora pública.

O Exército sírio e seus aliados “sofreram uma séria derrota”, afirmou o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.

No sábado, a aliança de grupos rebeldes e extremistas havia anunciado que conquistou o bairro governamental de Ramussa, na periferia sul de Aleppo. Desde então, os combatentes conseguiram abrir uma rota com os bairros rebeldes do Leste, onde o regime havia cercado 250.000 habitantes.

Nervosismo no setor pró-governo

De acordo com um vídeo divulgado nas redes sociais, os rebeldes retiraram um pequeno grupo de civis, a maioria mulheres e crianças, de um lugar apresentado por eles como Ramussa. Também divulgaram fotos de sete caminhões cheios de frutas e verduras, entrando em seus bairros de Aleppo.

A rota aberta pelos rebeldes continua sendo perigosa para os civis, destacou Abdel Rahman. Segundo ele, são os bairros pró-regime que estão cercados.

“Não há caminho seguro para os civis que se encontram nesses bairros para entrar, ou para sair da cidade”, apontou.

Moradores dessa área indicaram neste domingo à AFP que uma multidão se apressava para comprar comida e água antes de um eventual sítio.

? O preço do pão quadruplicou, passando de 200 (0,36 euro) para 800 libras sírias (1,40 euro). Temos medo do que pode acontecer, se o caminho continuar fechado por muito tempo ? disse à AFP Walaa Hariri, de 48 anos. ? As crianças foram para a escola, mas estavam muito nervosas. Em vez de aulas normais, o professor as ensinou como reagir em caso de bombardeios.

Segundo a agência de notícias oficial síria, Sana, dez civis morreram no sábado em bombardeios dos rebeldes contra dois distritos controlados por Damasco.aleppo.jpg

‘Inaceitável’

Pelo menos 130 civis morreram desde que a aliança de grupos islâmicos e extremistas lançou uma contraofensiva no sul de Aleppo em 31 de julho passado, segundo o OSDH.

O Papa Francisco denunciou na Praça São Pedro, em Roma, o número “inaceitável” de vítimas civis em Aleppo.

? É inaceitável que tantas pessoas indefesas – e tantas crianças – paguem o preço deste conflito.

Outro exemplo do nível de violência no local é a batalha para ambos os grupos. Em uma semana, mais de 700 combatentes morreram, acrescentou o OSDH.

Em outra frente, os combatentes árabes e curdos das Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiados pelo Ocidente, conseguiram uma importante vitória diante do Estado Islâmico, ao reconquistar seu reduto de Manbij, a 60km ao nordeste de Aleppo.

A guerra na Síria começou em 2011, após a sangrenta repressão por parte de Damasco a manifestações pacíficas pró-reformas. Desde então, mais de 280.000 pessoas morreram, e milhares de sírios se viram obrigados a abandonar seu lares.