BRASÍLIA ? Os advogados do PSDB querem que os cinco executivos da Odebrecht que vão prestar depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esclareçam se a empreiteira abasteceu com propina a campanha de Dilma Rousseff e Michel Temer. Os depoimentos, marcados para depois do Carnaval, vão integrar o processo que pede a cassação da chapa vencedora da eleição presidencial de 2014. A defesa do PSDB, que é o autor do processo, acredita que a inclusão dos novos interrogatórios não vai atrasar o desfecho do caso. O partido aposta que o julgamento poderá acontecer em abril deste ano.
? Vamos ter dificuldade para planejar as perguntas, porque como a gente não conhece o teor das colaboração premiada. Vamos para os depoimentos no escuro. Mas será importante saber se o dinheiro que a empresa pagou de propina foi ou não para a campanha eleitoral _ disse o advogado José Eduardo Alckmin, defensor dos tucanos no processo.
Alckmin afirmou que, depois de prestados os depoimentos, não pedirá nenhuma diligência complementar. No entanto, pode ser que os advogados do PT e do PMDB tenham interesse em fazer isso.
O advogado Gustavo Guedes, do PMDB, também disse que tem dificuldades em elaborar as perguntas, já que não tem conhecimento do que os delatores dirão nos depoimentos. No entanto, ele aposta que os novos depoimentos vão contribuir para o atraso no julgamento. Para Guedes, o mais provável é que o caso seja encerrado somente no segundo semestre deste ano
? Sem dúvida vai atrasar, porque estão abrindo uma nova frente, uma nova produção de provas. Não tenho dúvida de que vai atrasar o final do processo. Não vejo mais perspectiva de ser julgado no primeiro semestre, deve ficar para o segundo _ opinou.
O advogado Flavio Caetano, do PT, também afirmou que será complicado elaborar as perguntas, porque ainda não teve acesso à delação da Odebrecht. Ele disse, no entanto, que está tranquilo em relação aos depoimentos, já que não teria vazado nada até o momento que comprometesse a campanha de Dilma em 2014.
? Nesse caso, a preparação da defesa vai ser prejudicada, porque não temos acesso às delações. Com isso, nossas perguntas vão ser feitas com base no que já foi veiculado na imprensa. Como ainda não surgiu nada sobre a minha cliente na campanha de 2014, não tenho nenhuma preocupação ? disse o advogado do PT
Segundo Flavio Caetano, ainda é cedo para dizer se os novos depoimentos vão atrasar ou não o processo:
? Nesse momento, não dá para saber o que vai acontecer. O processo está na fase final da produção de provas. Esses depoimentos podem se bastar, ou podem trazer outros fatos que vão desdobrar novos depoimentos e a análise de documentos. É prematuro dizer se o processo vai ou não se alongar.
Os três advogados devem acompanhar os julgamentos, agendados para o início de março. O ministro Herman Benjamin, relator do processo no TSE, decidiu ouvir o depoimento de cinco executivos da Odebrecht sobre os mesmos fatos que eles abordaram na delação premiada da Lava-Jato ? ou seja, suspeita de que a empreiteira irrigou de forma ilegal a campanha presidencial de 2014.
O primeiro a ser ouvido será o dono da empreiteira, Marcelo Odebrecht, em Curitiba, onde está preso. O depoimento será prestado no dia 1º de março. No dia seguinte, Benedicto Barbosa da Silva Junior e Fernando Reis prestarão depoimento no Rio de Janeiro. No dia 6, Cláudio Melo Filho e Alexandrino de Salles Ramos serão ouvidos em Brasília.
Em parecer, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, concordou com os depoimentos, desde que eles sejam mantidos em sigilo. Isso porque a delação dos executivos da Odebrecht ainda está mantida em sigilo, para garantir a integridade dos colaboradores e para não prejudicar essa fase das investigações.
Os novos depoimentos podem complicar a situação de Temer, que foi citado por delatores da Odebrecht. Na esfera penal, o presidente não pode ser processado por fatos ocorridos antes de ele assumir o cargo, sem ligação direta com o mandato. No entanto, ele não está livre de ser investigado pelos mesmos fatos na esfera eleitoral. Se condenado, Temer poderá perder o cargo e também ficar inelegível. Dilma, que também foi citada pelos delatores, corre o risco de ficar inelegível em caso de condenação.