Cotidiano

Preços do trigo e do leite disparam e tendência é para novas elevações

Para não perder mais clientes, panificadores têm achatado margens e absorvido perdas

Cascavel – Os reflexos dos dez dias de paralisação dos caminhoneiros continuam sendo sentidos pelos consumidores nas prateleiras dos supermercados e, consequentemente, no bolso, já que menos oferta está associada ao aumento nos preços. Esse tem sido o caso do leite e dos seus derivados.

Devido à greve, os laticínios ficaram com os estoques zerados, e só conseguirão repor o produto em sua totalidade nas próximas semanas. Casado com a sazonalidade do produto, com aumento no consumo no inverno, diminuição das pastagens e elevação no custo de produção, um aumento de preços já era mesmo esperado, mas os quase 50% de reajuste pegaram até o gerente de supermercado Dario Pereira de surpresa: “Antes da greve estávamos vendendo leite a R$ 2,39 o litro [in natura], hoje [ontem] o mais barato está R$ 3,49”.

O reajuste de 46% não deve parar por aí. “Como os laticínios não conseguem repor o produto, até entrar na chamada normalidade de abastecimento a tendência é seguir em elevação”, completou.

A cobrança de R$ 4 por litro já é uma possibilidade bem próxima. E o consumidor também terá nos próximos dias mais uma surpresa: o aumento no preço do pão e dos derivados de trigo.

Isso porque o melhor momento vivido por esse cereal está fora das lavouras, ao menos para o triticultor. Ontem a cotação da saca de 60 quilos chegou a R$ 46 para um produto que há pouco mais de 60 dias estava cotado a cerca de R$ 33, ou seja, elevação de 39%.

A disparada nos preços está diretamente associada à falta de estoques nacionais, uma vez que o Brasil produz cerca de 5,5 milhões de toneladas, mas consome 12 milhões de toneladas. O outro fator de interferência nos preços é o dólar muito valorizado perante o real, o que torna a importação da Argentina e do Canadá muito mais cara.

Na ponta, os supermercadistas afirmam já ter notado elevação de 12% no produto somente nos últimos dias.

Para o presidente do Sindicato de Panificadoras e Confeitarias de Cascavel, Gilberto Bordin, está cada dia mais difícil e ficará impossível o panificador absorver tudo sozinho. “Vai chegar uma hora que o aumento dos produtos derivados será inevitável, como o caso do pão. Por enquanto estamos absorvendo, achatando as margens para não reduzir ainda mais a clientela, mas está muito difícil. Vai depender de cada empresário o quanto poderá absorver. Talvez neste mês ainda seja possível, já no mês que vem não sabemos o que vai acontecer. O preço do trigo está impraticável”, afirma.

Como a expectativa de mercado é de que o dólar se mantenha valorizado nos próximos meses e o Brasil está com suas lavouras de trigo ainda em desenvolvimento vegetativo, a tendência é para que os preços sigam em alta até o mês de setembro, pelo menos, quando a safra brasileira será colhida.

O gerente de supermercado Dario Pereira reforça ainda que, além dos pães, bolos, biscoitos e macarrão estão na lista dos produtos reajustáveis. “A gente vem sentindo o aumento do trigo semana após semana, então uma hora os derivados tendem a ter elevação no preço também”, considerou.

Chuva começa a causar preocupação no campo com a chegada de doenças oportunistas Foto: Aílton Santos 

Em quatro dias já choveu quase o acumulado do mês passado

Depois do mês de maio mais seco dos últimos dez anos, junho começou com uma cara diferente. Enquanto no mês passado inteiro o volume de chuvas foi de 47 milímetros na região oeste – o ideal seria pelo menos 150 -, em junho, do dia 1º até o meio da tarde de ontem, já havia chovido 40 mm e essa condição de precipitação deverá se manter até amanhã, com a promessa de pelo menos mais 10 mm de água. Depois disso o tempo deverá firmar com a expectativa de avanço da frente fria trazendo, claro, mais frio.

Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Especial), o amanhecer desta quarta-feira pode ser bem gelado no oeste, mínima na casa dos 4ºC e a máxima de 17ºC e há um risco, apesar de pequeno, de formação de geada.

Na quinta a mínima deve ser de 9ºC e a máxima de 17ºC. Na sexta o frio promete se repetir, com variação nos termômetros de 4ºC a 14ºC e com um pequeno risco de geada.

Toda a secura de maio que trouxe prejuízos irreversíveis às lavouras de milho na região, média de perda de 20%, está contribuindo para a recuperação de parte dessas áreas e para a germinação e o desenvolvimento do trigo que foi semeado com um mês de atraso, também em decorrência da estiagem.

Segundo o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) no Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel José Pértille, o volume de precipitação começa a preocupar. “O registrado até agora [ontem] não é extremamente elevado, então é benéfico para o milho e para o trigo. Mais do que isso começa a preocupar, porque o trigo gosta de frio e tempo seco. O milho vai intensificar a recuperação e formação dos grãos e o excesso de umidade daria espaço às doenças oportunistas”, reforça, ao lembrar que a colheita desse cereal começa no fim deste mês com a promessa de produção, só no núcleo de Cascavel com cobertura em 28 municípios, de 1,9 milhão de toneladas.

Hoje 65% das lavouras de milho estão em floração e 35% em frutificação.

Quanto às plantações de trigo, elas estão todas em desenvolvimento vegetativo na região.

Perdas de 70% no feijão

O feijão é o cereal mais prejudicado com a chuva. As lavouras, em 15 mil hectares, que já tinham sido danificadas por conta da estiagem dos meses de abril e maio, agora sofrem com a chuva no momento da colheita. “A chuva chegou bem no momento de colher e isso preocupa bastante. Esperávamos colher, no início do ciclo, 30 sacas por hectare e caiu para 17 por conta da estiagem. Agora, a chuva poderá reduzir ainda mais a produtividade”, alerta o técnico José Pértille, ao lembrar que na região a quebra pode ultrapassar 70%.

Apesar desse percentual elevado de perdas, o produto no supermercado não promete ter grandes variações de preços, pelo menos por enquanto. Isso porque a produção regional é praticamente insignificante perto da produção de outras regiões do Estado, onde a quebra não deve ser tão elevada. São essas regiões que abastecem prioritariamente os supermercados do oeste do Paraná.