Cotidiano

Pesquisador divulga obra inédita de Ernesto Nazareth, que faria 154 anos nesta segunda

40366747_500 ANOS - BRASIL 500 ANOS - SAMBA - ERNESTO NAZARETH UM DOS NOSSOS MAIORES MÚSICOS 1925 CD.jpgRIO – Um dos compositores mais pesquisados do Brasil, Ernesto Nazareth ainda reserva descobertas para seus admiradores 154 anos depois de seu nascimento ? que, aliás, é celebrado neste 20 de março. Uma peça inédita foi revelada hoje pelo pianista Alexandre Dias em um post no site do Instituto Moreira Salles, instituição que guarda o acervo do músico.

Trata-se de uma “Ave Maria” nunca registrada em listagens feitas pelo próprio Nazareth ou pesquisadores que vieram depois. Tal “segredo” se explicaria pela constatação de que a obra, ao que tudo indica, não está terminada. Encontrada a partir de pesquisas nos manuscritos da Biblioteca Nacional, que estão disponíveis para consulta on-line há poucos anos, a peça estava grafada na mesma partitura de outra composição: a polca-tango “Cuéra”.

“Nazareth costumava fazer isto: aproveitava uma mesma folha pautada para escrever mais de uma peça, às vezes uma sobreposta à outra”, escreveu o pesquisador no post. Dias explicou que vislumbrou uma outra ali obra porque ela tinha começo, meio e fim. “A confirmação disto veio nos últimos compassos da linha do canto, que apresentavam o final da letra ?pecadores agora e na hora de nossa morte? ? o final da oração da Ave Maria! Fazendo-se o caminho inverso, foi possível encaixar toda a letra à parte do canto.”

Por telefone, o pesquisador deu mais detalhes: a descoberta aconteceu na realidade no segundo semestre do ano passado. Era necessário, no entanto, fazer diversas checagens para comprovar que a obra era mesmo de Nazareth, que também realizava trabalhos de transcrição para outros compositores.

? Existe uma margem de erro, claro, inclusive fomos procurar outras “Ave-Marias” registradas naquele período para não restar dúvida de que não era de outra pessoa. Mas há outros elementos que ajudam a comprovar: é possível identificar a escrita como dele, inclusive com digitação (indicação de que dedo usar em cada nota no piano), e ele só botava digitação em suas próprias partituras – explica Alexandre Dias.

Em outubro de 2016, uma gravação informal chegou a ser feita pela pianista Marília de Alexandria e a soprano Denise Tavares. Eles optaram, entretanto, em deixar a divulgação para agora, a fim de celebrar os 154 anos do autor, já com todas as checagens feitas. Ave Maria, de Ernesto Nazareth

EXPECTATIVAS DE NOVAS REVELAÇÕES

Mas afinal, se Nazareth é tão pesquisado, como pode restar novidade até hoje? Se o caso da “Ave Maria” demorou para ser constatado por causa desta espécie de “pegadinha” causada por trechos de duas músicas numa só pauta, uma delas nunca registrada, há situações praticamente inversas. Como a polca ?As gracinhas de nhonhô?, listada no catálogo de 1963 como ?peça desaparecida?.

? A partitura chegou a ser editada, temos nome, gênero e editora, mas nunca mais foi encontrada.