Cotidiano

Padilha será operado nesta segunda e tem retorno ao governo incerto

201605131412252591.jpg

BRASÍLIA. O presidente Michel Temer se refugiou na Bahia para passar o Carnaval, mas não
tirou ?folga? da crise política e da situação em torno do ministro da Casa
Civil, Eliseu Padilha, que atingiu diretamente o Planalto. Segundo
interlocutores, Temer manteve contato com Padilha, que pediu afastamento. O
ministro se submeterá nesta segunda-feira a uma cirurgia de próstata em Porto Alegre. Padilha tem dito que
voltará no dia 6 de março, mas entre políticos e até integrantes do governo o
sentimento é de que, no mínimo, a licença será ampliada. O retorno de Padilha é
incerto, dependendo dos desdobramentos das declarações de José Yunes, amigo e
ex-assessor de Temer, de que recebeu um pacote a pedido de Padilha.
A suspeita é
de que o pacote seria de dinheiro para uso em campanha eleitoral do PMDB.

José Yunes 24/02

Em delação premiada, o ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho contou aos
procuradores da Lava-Jato que esteve com Temer em um jantar no Palácio do
Jaburu, no qual o então vice-presidente pediu apoio financeiro para campanha do
PMDB. De acordo com Cláudio Melo, o acordo previa o repasse de R$ 10 milhões,
dos quais R$ 4 milhões ?foram realizados via Eliseu Padilha, e um dos endereços
de entrega foi o escritório de advocacia do Sr. José Yunes?.

YUNES CONTOU EPISÓDIO A TEMER

Em depoimento, Yunes disse que, em 2014, recebeu um
pedido de Padilha para que recebesse documentos em seu escritório. Ele contou
que foi surpreendido com a chegada de Lúcio Funaro ? apontado como operador do
PMDB e doleiro de Eduardo Cunha ? trazendo um ?pacote?. Yunes disse que não se
preocupou em esclarecer o fato nem com Funaro e nem com Padilha, mas revelou que
contou o episódio a Temer no mesmo ano. O presidente, segundo Yunes, reagiu com
?aquela serenidade de sempre?. Após a história vir à tona, a Procuradoria-Geral
da República divulgou que quer investigar Padilha.

Eliseu Padilha passará por uma cirurgia de próstata, no
Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Esse tipo de procedimento requer,
segundo médicos, uma recuperação de 12 a 15 dias. Amigos médicos de Padilha já
disseram isso ao ministro e ao próprio Temer. Esse poderá ser o argumento para
um afastamento maior do ministro.

Padilha é do grupo seleto de colaboradores de Temer. Articulador político,
operador, Padilha não tem hoje substituto à altura ? segundo os próprios
peemedebistas ?, e essa instabilidade pode comprometer o futuro das reformas,
sobretudo da Previdência.

Para os aliados, Temer vive um momento complicado. A
preocupação é não perder a base parlamentar de mais de 300 deputados e mais de
60 senadores.

? O risco é o Temer perder a maioria da base. Algo que nenhum outro
presidente teve como tem Michel ? disse um senador aliado.

O Ministério da Fazenda tem pressa em aprovar a reforma
da Previdência, até julho na Câmara e no Senado. Esse calendário era considerado
irreal por aliados antes mesmo da crise política aberta com as declarações de
Yunes.

No Senado, o primeiro teste de Temer será apenas no dia 7, com a votação da
proposta que trata de novas regras para repatriação de recursos no exterior. Na
Câmara, a questão da reforma da Previdência será retomada logo depois do
carnaval. Antes do feriado, o clima era de insatisfação no PMDB com a forma da
escolha de Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça e o
fortalecimento junto a Temer da dobradinha Moreira Franco (Secretaria-Geral) e
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. Para peemedebistas, todo o desenho
da articulação política na Câmara está sendo acertado com Rodrigo Maia e Moreira
Franco. Atingido pelas revelações de Yunes, Padilha acaba perdendo ainda mais
espaço no Planalto para Moreira Franco.

As declarações de Yunes geraram apreensão e reações diversas dentro do
governo e do PMDB. De um lado, a perplexidade de aliados com a atitude de Yunes,
tão próximo de Temer. De outro, alguns avaliam que as declarações acabam
afetando Padilha diretamente e blindando o próprio Temer.

O enfraquecimento de Padilha neste momento deixa Moreira
Franco como único remanescente do núcleo de colaboradores de Temer. Na última
sexta-feira, Temer foi conversar com o presidente do Senado, Eunício Oliveira
(CE), a quem fez uma visita no hospital. Eunício foi operado na quinta-feira
para a retirada da vesícula e deixou o hospital no sábado.

PRESIDENTE VEM PERDENDO MINISTROS

Ao comunicar sua alta hospitalar, Eunício disse em
mensagem no Twitter que o Brasil precisa de ?ponderação? neste momento. Ele
afirmou ainda que voltará ao Congresso depois do carnaval, e que o Brasil ?está
precisando de muita ponderação e segurança para trabalhar?. O Senado só terá
votações a partir do dia 7.

Temer vem perdendo seus principais colaboradores ? a
chamada ?cozinha? do Planalto ? devido principalmente às investigações da
Lava-Jato. Nos últimos dias, Temer conversou com parlamentares e ministros sobre
o estado de saúde de Padilha, considerado vital na composição do governo. Não
haveria nome político capaz de substituí-lo, e a saída seria manter o atual
subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha.

Os estragos na condução política podem comprometer o
momento de respiro na economia. O próprio anúncio da liberação de recursos de
contas inativas do FGTS ? que tinha causado boa reação na população ? e a nova
queda da taxa de juros viraram notícias de menor importância.