WASHINGTON ? A equipe de campanha do atual presidente dos EUA, Donald Trump, conversou repetidamente por telefone com autoridades da Inteligência russa no ano anterior às eleições, segundo o ?New York Times?. As informações vieram de quatro fontes que trabalham ou já trabalharam no governo americano, segundo o jornal. As ligações telefônicas foram interceptadas por autoridades americana e agências de Inteligência enquanto aumentavam as suspeitas de que os russos tentavam interferir nas eleições americanas com ciberataques aos democratas.
Segundo três das fontes anônimas ouvidas pela reportagem, o objetivo da investigação era descobrir se a campanha republicana do Trump participava dos esforços russos para hackear os democratas e favorecer o magnata na corrida eleitoral. Por enquanto, segundo as autoridades, não foram encontradas evidências de cooperação entre as duas partes.
No entanto, chamou a atenção da Inteligência os frequentes contatos entre a chapa republicana e os russos ? sobretudo porque, enquanto isso, Trump repetidamente elogiava o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em sua campanha. Em um dos seus comícios, chegou a dizer que esperava que a Inteligência russa tivesse roubado os emails da sua então rival, Hillary Clinton, e os tornasse públicos.
Em reação, o Kremlin disse que os relatos da imprensa não são baseados em fatos concretos. Em uma conferência por telefone com jornalistas, destacou que as fontes ouvidas pelo jornal não foram identificadas, sugerindo que as informações deveriam ser colocadas em dúvida.
? Não acreditamos em informações anônimas ? disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. ? É um relato de um jornal que não se baseia em fatos.
A controvérsia vem num momento especialmente sensível na relação entre o novo governo que comanda a Casa Branca e a Rússia. Na terça-feira, o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, se demitiu por ter conversado ao telefone com um embaixador russo antes da posse do republicano. Eles teriam discutido o levantamento de sanções dos EUA à Rússia.
Pela lei americana, Flynn, como cidadão privado que ainda era antes da posse, não poderia ter tratado de diplomacia com outros países em nome dos EUA. Na carta de demissão, ele ainda admitiu que “transmitiu sem querer ao então vice-presidente eleito e a outros informações incompletas sobre suas conversas telefônicas” com o embaixador russo.
Até senadores republicanos pediram uma investigação sobre o caso, que complicou ainda mais o presidente, após o porta-voz da Casa Branca ter admitido que Trump sabia há algum tempo de que seu subordinado havia tido comunicações secretas com o governo de Putin. O episódio ainda expôs divisões importantes dentro do governo, com os principais assessores de Trump defendendo versões diferentes sobre o episódio.
De acordo com Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, Trump sabia há semanas que Flynn enganou o vice-presidente Mike Pence e outros funcionários do governo sobre o conteúdo de sua conversa com Sergey Kislyak, o embaixador russo nos Estados Unidos, durante a transição do governo. O advogado da Casa Branca, Don McGahn, havia informado a Trump num relatório de 26 de janeiro que Flynn, apesar de suas declarações em contrário, discutira as sanções dos EUA com o representante de Moscou, impostas por causa da anexação da Crimeia em 2014, e ampliadas após a espionagem russa nas eleições americanas de novembro.