RIO ? Por milhares de anos, povos de diferentes partes do mundo criaram técnicas de mumificação como forma de preservação e homenagem a seus mortos, mas somente agora, tecnologias modernas de escaneamento estão permitindo aos cientistas a revelação de segredos escondidos por séculos. Parte dessas novas descobertas estão expostas na mostra ?Múmias?, aberta semana passada no Museu Americano de História Natural, em Nova York.
Uma das estrelas da exposição é a múmia #30007, também conhecida como ?Senhora Dourada?. O nome se refere ao caixão, finamente decorado com detalhes em ouro e linho, e pinturas nos padrões da era romana no Egito, entre 30 a.C. e 646 d.C. Na parte da cabeça, camadas de papiro cobertas por ouro, para assegurar, segundo a crença egípcia antiga, que olhos, nariz e boca da múmia permanecessem intactos após a morte. Nunca aberta, a urna manteve seus segredos por centenas de anos até ter seu interior escaneado por modernos equipamentos de tomografia.
O trabalho, realizado no Museu Field, de Chicago, revelou alguns detalhes sobre a ?Senhora Dourada?. De meia idade, provavelmente em seus 40 e poucos anos, e tinha cabelos encaracolados. Evidências indicam que ela deve ter morrido de tuberculose, uma doença frequente entre os egípcios da época. Com as informações obtidas pelo escaneamento, arqueólogos forenses puderam reconstruir o seu rosto com uma impressora 3D.
Na exposição, os visitantes têm contato direto com as técnicas de mumificação usadas pelos egípcios, com artefatos originais. O procedimento incluía a remoção de órgãos internos, a dessecação do corpo com sal, antes dele ser envolvido por linho e colocado em caixões de madeira. Os mais ricos às vezes pagavam por segurança adicional, construindo um sarcófago de pedra.
Mas não apenas os egípcios praticavam a mumificação. Na América do Sul, os Chinchorro, que viviam na região atual do Chile e do Peru, criaram as múmias mais antigas já descobertas, alguma com mais de 7 mil anos. Os corpos eram pintados de vermelho ou preto, e recebiam uma peruca. Uma máscara fúnebre de argila, com nariz, olhos e boca, cobria o rosto do morto.
Mas diferente dos egípcios, os Chinchorro e outros povos da região mumificavam os mortos como uma forma de preservar membros da família e estabelecer uma família, não para prepará-lo para o encontro com deuses. As múmias eram empacotadas com pedaços de pano ou lã, junto a cerâmicas e itens pessoais. Os Chancay, no Peru, colocavam as múmias em poços, e elas eram retiradas durante festivais em homenagem aos ancestrais.
A exposição no Museu Americano de História Natural está aberta até janeiro do ano que vem, e conta com mais de uma dúzia de múmias raramente expostas ao público, além de inúmeras peças e artefatos relacionados à mumificação.