“Estudei na Faculdade de Direito de Lisboa e depois me especializei em relações internacionais. Fui também ministro no governo Machel (1975-1986). Hoje, aos 70, sou secretário da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, idealizada e fundada pelo brasileiro José Aparecido de Oliveira (1929-2007).”
Conte algo que não sei.
Há em Moçambique uma Organização da Mulher Moçambicana que há anos tenta levar Roberto Carlos para fazer um show lá. E eu sempre digo a elas: deixem Roberto Carlos para lá, ele é muito caro…
A música popular brasileira ainda faz muito sucesso em seu país?
A cultura brasileira sempre teve grande aceitação em Moçambique. Em minha juventude, as nossas festas eram ao som de um gaúcho chamado Teixeirinha, ouvíamos Lindomar Castilho, e Roberto Carlos já fazia sucesso a partir daí. Hoje ainda há muito interesse em gente como Martinho da Vila, Maria Bethânia e Adriana Calcanhotto.
Qual é o seu maior orgulho nesses quatro anos em que o senhor é secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa?
Meu maior orgulho foi ter lançado o debate à comunidade a fim de que repensássemos a organização, que completou 20 anos. Obriguei os estados-membros a iniciarem essa redefinição e finalmente neste ano chegamos a uma declaração da nova visão estratégica.
E no que consiste essa nova visão estratégica?
Consiste numa maior cooperação entre os países, de forma a trabalharmos juntos com uma maior visão econômica e empresarial, permitindo que as relações comerciais fiquem mais integradas e, com isso, se acelere um maior desenvolvimento a nossos países.
Que medidas práticas essa nova visão acarreta?
Estamos trabalhando para que os nacionais tenham livre entrada nos países-membros sem que haja qualquer necessidade de visto. Hoje, só seis grupos estão livres: homens de negócio, professores, jornalistas, artistas, desportistas e estudantes, por exemplo.
Quando falamos de países de Língua Portuguesa, falamos de crise econômica em Portugal e Brasil, instabilidade política em muitos dos países africanos ? e também no Brasil. Como é possível que países com tantos problemas internos possam ajudar seus irmãos lusófonos?
É um trabalho a ser desenvolvido, em que há necessidade de uma visão empresarial aberta às oportunidades. Temos enorme potencial turístico, ambiental e científico.
Então façamos um jogo. O que o senhor diria a fim de atrair empresários brasileiros para… Moçambique?
Eu diria que há espaço para investimento em turismo, sobretudo nas praias do arquipélago das Quirimbas.
E em Guiné-Bissau?
O Brasil poderia ajudar na promoção da estabilidade política e na reconstrução das Forças Armadas locais.
Angola?
Ali a oportunidade é no desenvolvimento da agricultura, principalmente nos cereais.
E em Cabo Verde?
Ali há principalmente uma questão de infraestrutura no fornecimento de água, que pede investimento em barragens. Do lado, em São Tomé e Príncipe, um porto, como o feito em Mariel, Cuba.
E em Timor Leste?
Ali a necessidade é na educação. Ali é preciso restabelecer a língua portuguesa, que perdeu muitos falantes durante a dominação indonésia.