Um ano depois de sua maior crise, provocada por um esquema que desviou cerca de R$ 18 milhões dos cofres públicos, o Teatro Municipal de São Paulo terá menos verbas, salários mais enxutos, programação adaptada à nova realidade e a promessa de mais fiscalização. Em 2016, o teatro recebeu R$ 129 milhões. Neste ano, a previsão seria de R$ 123 milhões, mas o valor sofrerá cortes por causa da crise e do contingenciamento de 25% de todas as despesas da secretaria de Cultura. No ano passado, o orçamento total da Cultura foi de R$ 647 milhões (com correções).
O GLOBO apurou, ainda, que o novo diretor artístico da casa, Cleber Papa, e o novo regente titular da orquestra do teatro, Roberto Minczuk, ganharão, juntos, menos de R$ 100 mil, enquanto John Neschling, que acumulava a regência e a direção artística, recebia cerca de R$ 150 mil.
Ontem, o secretário municipal de Cultura de São Paulo, André Sturm, anunciou que, no primeiro semestre, duas óperas serão apresentadas no Municipal em versão de concerto, sem os custos de cenários e figurinos, por exemplo. Também não haverá participações de artistas estrangeiros.
? Temos artistas muito bons aqui, não precisamos pagar um monte de dinheiro para participações de poucos minutos em uma montagem ? disse Sturm. ? E também não vamos gastar dinheiro com passagem, estadia e alimentação desses convidados.
O secretário prometeu ainda aumentar a fiscalização sobre os contratos do teatro para evitar desvios como os que ocorreram na gestão anterior. O escândalo resultou no afastamento do então presidente da Fundação Theatro Municipal, José Luiz Herencia, e do diretor da organização social Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), William Nacked, que confessaram participação no esquema e assinaram acordo de delação. John Neschling também foi afastado, acusado de conflito de interesses por contratar artistas empresariados por seu agente. Neschling, porém, negou as acusações, alegou ter sido ?traído? e entrou com ação contra o IBGC. O caso resultou, ainda, em duas investigações no Ministério Público e uma CPI instalada no fim do ano passado pela Câmara de Vereadores de São Paulo.
? Vamos criar uma coordenadoria para fazer um acompanhamento quantitativo e qualitativo desses contratos. O que aconteceu anteriormente foi uma demora na identificação dos desvios. Garanto que isso não vai se repetir na nossa gestão ? prometeu Sturm, que estava acompanhado do prefeito João Doria, de Papa e Minczuk e do novo diretor do Balé da Cidade, Ismael Ivo.
?DEMISSÕES PONTUAIS?
Sturm contou que abordou Minczuk de modo incomum:
? Eu disse que tinha uma boa notícia e uma má notícia. A boa era o convite, e a segunda era que ele não ganharia o mesmo que o Neschling ? disse o secretário. ? Ele vai ganhar menos da metade que isso, um valor que ainda estamos acertando. Mas há regentes de outras sinfônicas pelo país que vão ganhar mais do que ele.
Sturm anunciou ainda que a prefeitura vai concluir a regularização dos contratos de trabalho dos funcionários do Municipal, processo iniciado na gestão anterior, de Fernando Haddad.
? Teremos apenas demissões pontuais ? afirmou Papa.
O diretor artístico do teatro disse que, a partir do segundo semestre, a programação deve ser ampliada, com a realização de óperas e outras atividades, que necessitam de patrocínio da iniciativa privada. Doria e Sturm anunciaram que estão em contato com dois bancos e uma empresa que já sinalizaram interesse em colaborar.