Cotidiano

Lollapalooza 2017: Metallica, The xx e Rancid fizeram o sábado valer a pena

SÃO PAULO ? Longas filas nos bares para pegar bebidas, dificuldades na entrada, banheiros precários e enormes distâncias a serem percorridas: nada disso desanimou o público ? cerca de 100 mil pessoas, segundo a contagem oficial ? que foram no sábado ao Autódromo de Interlagos para o primeiro dia do festival Lollapalooza Brasil 2017. A razão? Os shows dos headliners Metallica e The xx.

Os titãs americanos do metal, em mais uma visita ao Brasil, privilegiaram o repertório de seu mais novo álbum, “Hardwire… to self-destruct”, do ano passado, e não decepcionaram o público de sábado, que, em sua grande maioria, estava lá para vê-lo. “Hardwired” abriu a apresentação, em cadência insana, com a banda mostrando estar no auge da forma. E ela mandou outra do novo disco, “Atlas, rise”, logo em seguida, sem receio de não atacar de cara os clássicos.

O primeiro dia de Lollapalooza Brasil 2017

XX FAZ SHOW DANÇANTE

Mas clássicos não faltaram no show do Metallica: “The unforgiven”, “Sad but true”, “Masters of puppets” e até mesmo “Whiplash” do primeiro disco, “Kill’em all”, dedicada aos amigos do Rancid, que tocaram no mesmo palco pouco antes. Apesar do rolo compressor do metal, durante o show ainda sobrou algum público para a dance music adrenalizada e pouco exigente do duo The Chainsmokers, que trouxe para outro palco um som sem personalidade, mas adequado à balada de sábado.

Dançante também foi o show do xx, um expoente do rock melancólico que voltou ao Brasil transformado para o Lollapalooza. O trio centrou o seu show no repertório de “I see you”, seu terceiro álbum, que lançou em janeiro. Desse disco foi a música de abertura, “Say something loving”, que estabeleceu o tom da apresentação: um belo trabalho vocal de Romy Madley Croft e Oliver Sim e os beats envenenados de Jamie Smith.

Bem mais desenvoltos no palco do que quando se apresentaram pela primeira vez no Brasil ? Romy até arriscou uma música sozinha na voz e guitarra, “Performance” ? os três deram nova vida para canções dos seus outros discos, como “VCR” e “Crystalized”. O show, que aos poucos caminhou para a celebração na pista, com “I dare you” e “Dangerous”, desembocou na esperada “On hold”. Mas foi com uma antiga, “Angels”, que a noite do xx terminou, com a banda aclamada pelo público e visivelmente emocionada.

RANCID FINALMENTE NO BRASIL

65968384_SC - São Paulo SP 25-03-2017 - RANCID - LOLLAPALOOZA BRASIL 2017 - Show do Rancid no pr.jpgGrupo californiano que existe desde 1991 e nunca tinha vindo ao Brasil, o Rancid também proporcionou um dos grandes momentos da primeira noite de Lollapalooza, com seu punk tingido de ska e tocado com muita garra. Liderado pelos guitarristas-vocalistas Tim Armstrong e Lars Frederiksen (o canhoto de longa barba), o Rancid adiantou uma música do novo disco, “Salvation” e brindou o público com hits em alta voltagem, como “Roots radicais”, “Time bomb” e “Ruby Soho”.

Já o The 1975 teve seu show salvo por sua sequência final. Os dois hits, um de cada álbum, “Chocolate” e “The sound”, deram um encerramento digno para uma apresentação morna daquela que é considerada uma das revelações do indie rock inglês. Lollapalooza crítica Rancid

O polêmico vocalista Matt Riley, que até ensaiou um status de rockstar entrando com um blazer pomposo e fumando um cigarro, ia da empolgação da estreia ao tédio como uma Ferrari vai de 0 a 100km/h. A sorte dele é que o público da banda é majoritariamente jovem é muito devoro, então engoliu um show aquém do potencial da banda. Em alguns momentos, o 1975 até ensaiou momentos maduros, como em “Girls” e “Somebody else”, mas sempre voltava a postura adolescente e descartável para garantir a resposta desejada.

Pouco antes do The 1975, os americanos do Cage The Elephant, a banda que mais tocou no Lollapalooza Brasil (três vezes, mais do que atrações nacionais, inclusive) fez um dos grandes shows do dia ? estava em seu ápice, pouco depois de ganhar o Grammy de melhor álbum de rock, com o público que a melhor recebe. Se em 2014 o grupo dos irmãos Matt e Brad Shultz tinha garantido o posto de boa surpresa do festival, 2017 foi o ano da consolidação. Lollapalooza: Luccas shows da tarde

BAIANASYSTEM É DESTAQUE NACIONAL

O som sujo de sempre, as desafinadas de Matt, a microfonia causada por seus exageros, mas uma empolgação e uma entrega pouco comuns no rock de hoje. E a resposta não podia ser melhor: angariaram um público ainda maior do que o tradicional e inédito Rancid. Destaque, claro, para “Come a little closer”, inspirada na primeira passagem da banda por São Paulo.

O encerramento do show dos ingleses do Glass Animals, com “Pork soda”, o hit que levou o público a fazer um flashmob com abacaxis nas mãos, garantiu o momento de comunhão que o grupo ameaçou proporcionar ao longo de uma hora de show morno. Antes, tinham ensaiado tal momento na boa sequência dançante de “Youth” e “Gooey”, mas a turma não respondeu à altura. Emocionado pela pequena multidão que arrastou, o vocalista Dave Bayley desperdiçou a boa “Season 2 episode 3” com presepadas com o público e arriscou até um rap – mal-sucedido.

E no começo da tarde, o BaianaSystem reforçou o status de melhor (ou uma das melhores) banda(s) em atividade no país. Contou com a participação do rapper baiano Vandal e do padrinho e longo colaborador BNegão, de bota ortopédica e tudo.

Apesar do horário pouco favorável, acumulou um bom público e fez a festa não só daqueles que já curtem a mistura de ritmos caribenhos e guitarra baiana do grupo, mas também daqueles que não conheciam o som de Russo Passapusso, Roberto Barreto e SekoBass. Destaque pra “Lucro: Descomprimindo”, “Jah Jah revolta pt. 2”, “Terapia”, a nova “Invisível” e a sempre certeira “Playsom”. Lollapalooza crítica BaianaSystem