Cotidiano

Grupo vende terrenos em área invadida no Melissa

Enquanto prefeitura tentava “esvaziar” Gramado, nova invasão ia se formando

Cascavel – Os primeiros terrenos foram invadidos ainda ano passado, mas nos últimos meses, depois da reintegração que pôs fim à invasão de 18 anos no Jardim Gramado, houve uma explosão de famílias sem-teto no fundo de vale no Jardim Melissa, às margens de um rio. E um novo problema se formou.

No local há pelo menos 60 famílias, mais de 200 pessoas, e uma preocupação de quem mora por perto: a ação de aproveitadores e traficantes.

Mas se instalar no local não é tarefa fácil e custa caro. A reportagem de O Paraná apurou que um grupo formado por três rapazes está vendendo terrenos da área de preservação às margens do rio. “Chegam a cobrar R$ 5 mil por um pedaço de chão para que as pessoas montem seus barracos. Tem gente que paga com carro velho, até com drogas tem quem paga. Também vimos famílias pagando parcelado”, conta uma moradora, que pediu para não ser identificada.

Em uma das áreas, onde as famílias montaram acampamento nos últimos dias, a reportagem encontrou pessoas que viviam na área invadida do Jardim Gramado e até gente da região e outras vindas do Paraguai. “Ficamos sabendo dessa área porque a minha tia mora em Cascavel, mas chegamos do Paraguai há duas semanas, em cinco pessoas. Compramos as madeiras para fazer o barraco e estamos morando aqui, mas ninguém está trabalhando ainda”, revela a mesma invasora.

Ela contou que “foi feito um acordo” para ocupar o espaço, mas não quis detalhar a forma de negociação nem identificar o “vendedor”.

ACORDOS VERBAIS

Outra família ouvida pela reportagem contou que, para os dois pequenos terrenos onde está a moradia do casal e de uma das filhas, foram pagos R$ 12 mil para “uma mulher”. “Eu paguei e moro no que é meu. Ela disse que a prefeitura não vai vir aqui para tirar a gente”, disse.

Mas ao ser questionada se recebeu algum documento pelo terreno, a mulher que sobrevive recolhendo recicláveis afirmou que o acordo “foi apenas verbal”.

Mesmo já instalado na área invadida, outro morador lamenta a situação como vive, mas diz não ter alternativa. “É como se a gente não existisse. Não temos água encanada, a luz é gato e nunca sabemos que dia a prefeitura vai chegar e derrubar tudo”.

Tolerância zero

Para o prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos, a situação é bastante delicada. Ele já tem conhecimento da situação no Melissa, mas reforçou não ser complacente com a invasão de áreas. “Entendemos que as pessoas precisam de moradias, estamos firmando mais um convênio com a Cohapar, mas não vamos tolerar a invasão de áreas”, anunciou.

“Terra de ninguém”

A invasão já muda a rotina de quem mora legalmente no Melissa. É o caso de um morador, cuja casa fica perto da área invadida. Ele afirma que há pelo menos mais um problema com a invasão: o tráfico de drogas. “Quando anoitece isso aqui vira um inferno. É racha toda noite e muito tráfico, muito tráfico mesmo”, conta, pedindo anonimato, pois “o que vale agora é a lei do silêncio”. “Se souberem que a gente fala, vêm incomodar, ameaçar, amedrontar. Isso aqui virou terra de ninguém”.