A economia chinesa ? e mundial ? vive hoje assombrada pela ameaça das firmas zumbis, como são adequadamente chamadas as empresas estatais falidas, que só sobrevivem graças a subsídios do governo. Após o estouro da crise financeira global, em 2008, a China se viu obrigada a rever sua estratégia, passando a injetar internamente bilhões de dólares na economia, além de estimular os bancos a financiarem todo tipo de negócio e consumo. E a maior preocupação do governo tem sido manter o alto patamar de crescimento, necessário para absorver a imensa mão de obra do país.
Construíram-se cidades, shoppings, estradas, entre outros projetos imobiliários e de infraestrutura ? vários entre eles ociosos ?, estimulando setores industriais. O país manteve o ritmo acelerado, porém bem acima da capacidade interna e externa de absorção. Principalmente as províncias e municípios se endividaram pesadamente, apostando numa demanda que não veio. Além de gerar um perigoso desequilíbrio fiscal e obrigar a intervenção do governo, o excesso de produtos deprimiu ainda mais os já desvalorizados preços de itens como carvão, alumínio, aço, entre outros, retardando a recuperação econômica, inclusive no mundo.
Em recente encontro entre autoridades americanas e chinesas, durante o Diálogo Estratégico China-EUA, representantes de Pequim resistiram às pressões da Casa Branca para que permita o colapso de pelo menos parte das firmas zumbis, que estão inundando os mercados, interno e externo, com produtos para os quais não há procura.
Segundo dados do Goldman Sachs revelados pelo ?New York Times? esta semana, o endividamento da economia chinesa saltou de 130% do PIB, em 2008, para 235% em 2015. O banco projeta que, em 2020, este percentual poderá chegar a 344% do PIB. No opaco campo financeiro chinês, esses números se traduzem em risco de explosão de bolhas, com efeito dominó na economia global.
A realidade apresenta a conta. Estima-se que a inevitável redução do ritmo de produção industrial poderá levar entre cinco e dez milhões de trabalhadores ao desemprego, o pior pesadelo do regime, devido ao alto potencial de conflito social. Bancos e investidores, por sua vez, terão que fazer provisões de bilhões de dólares ou reestruturar as dívidas.
O impasse econômico tem levado Pequim a não só atrasar as reformas do presidente Xi Jinping, como estimular lateralmente projetos militares no Mar do Sul da China e iniciativas de expansão geopolítica para criar empregos e valorizar uma retórica nacionalista, deslocando o problema para fora das fronteiras.
As empresas zumbis que assombram o governo chinês são apenas a ponta de um perigoso iceberg. O verdadeiro terror, para o país e o mundo, é a imprevisibilidade do efeitos de uma crise generalizada no gigante asiático.