RIO – Quando você tem um negócio, firmar os pés no mercado brasileiro já é um grande desafio. Mas muitos empresários querem mais. Empreendedores de diferentes tamanhos e segmentos estão de olho nas praças internacionais, numa busca por mais rendimentos e até por diminuição de riscos.
A marca carioca de roupas femininas Zinzane é um desses casos. Lançada em 2002, na Babilônia Feira Hype, a empresa já tem 94 lojas espalhadas pelo Brasil e acaba de abrir uma unidade em Amsterdã, que funcionará por seis meses. A expectativa é vender um milhão de euros nesse período e abrir espaço para uma cruzada internacional da grife.
? O mercado externo é importante porque, como temos quase cem lojas no Brasil, ficamos sujeitos a todo tipo de crise que o país enfrente. Quando a gente se espalha por outros continentes, ganha mais segurança. O sonho da internacionalização tem a ver com o nosso desejo de dividir os riscos ? conta o sócio da grife, Renato Villarinho.
Entre os planos futuros da marca estão, por exemplo, a expansão para países asiáticos. Mas cada passo é extremamente calculado.
? Para abrir essa loja na Europa, foram anos de observação e planejamento. Fiz, pelo menos, quatro viagens de 15 dias para lá por ano e, nessas visitas, observei muito os hábitos de compra das pessoas, os preços praticados e os pontos que faziam mais sucesso ? detalha ele.
Foi assim que Villarinho percebeu como as lojas de rua fazem mais sucesso em cidades como Amsterdã e como as pessoas que circulam pela cidade, incluindo um número enorme de turistas, gostam de comprar roupas com estampas alegres durante o verão. E isso, segundo ele, está no DNA da marca.
PLANEJAMENTO
Segundo a coordenadora de produtos e serviços da Firjan Internacional, Rachel Brasil, em situações de crise ou retração da demanda interna, como a atual, muitas empresas se voltam para os mercados externos como forma emergencial. Da mesma forma, quando o câmbio se estabelece de maneira favorável à exportação, as companhias se lançam para fora.
? Nesse momento, as empresas conseguem perceber a importância de se internacionalizar. A médio e longo prazo, teremos mais companhias se preparando para isso ? prevê ela.
Mas, assim como mostra experiência de Villarinho, não há espaço para saltos no escuro. Rachel chama atenção para o planejamento, que deve ser minucioso.
? O primeiro passo é se capacitar, pois o comércio exterior tem procedimentos diferentes do mercado interno. A empresa precisa ter em mente como é difícil começar a exportar em uma semana e que existe uma série de obstáculos que são vencidos apenas com cuidado e preparo nos procedimentos ? alerta ela.
Também é muito importante, segundo Rachel, estruturar a exportação priorizando a manutenção ou a expansão das redes de compradores nos mercados de destino:
? Ou seja, em vez de o negócio ser meramente reativo a algum interesse de comprador estrangeiro em produto brasileiro, o empresário tem que se preparar para projetar sua empresa no mercado internacional de forma estratégica e, se possível, regular.
Diante da realidade global do mercado, há negócios que já surgem com uma visão internacional. Segundo o coordenador adjunto do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, Marcelo Aidar, são as chamadas micromultinacionais.
Aidar reconhece que o número desses empreendedores ainda é restrito. Segundo ele, os brasileiros normalmente esbarram em problemas como a língua estrangeira e a própria dimensão continental do país.
? Mas há muita oportunidade lá fora para quem consegue olhar além das fronteiras ? avisa o especialista.
A designer de joias Paola Vilas teve essa visão. Ela lançou, em abril do ano passado, uma marca de joias que leva o seu nome e tem inspiração no mundo das artes. Como ela observou, os produtos dialogam com o público de grandes centros urbanos, onde a vida cultural é agitada. Então, logo após o lançamento, Paola viajou a Nova York para apresentar suas criações a algumas lojas.
? Esperava encontrar uma concorrência de produtos melhores ou similares. Mas, quando apresentava as peças, as pessoas viam que era algo único e com muita qualidade ? conta ela.
Pouco depois, Paola já ganhava espaço em multimarcas e hoje tem representantes na Ucrânia e no México, e se prepara para chegar à França e ao Reino Unido.
Além das visitas às lojas, ela investe no Instagram, ferramenta que lha dá visibilidade internacional, e está finalizando um novo site em inglês. A marca já fatura cerca de R$ 60 mil por mês, dos quais cerca de 40% vêm das vendas internacionais.
´Para o professor Antonio Carlos Morim, coordenador do MBA Big Data e Inteligência de Mercado da ESPM Rio, as novas tecnologias ajudam muito essa turma.
? O mundo digital, onde uma grande parte dos negócios ocorre, facilita as transações ? afirma ele, citando que isso acontece especialmente entre aqueles que já são conectados aos mercados digitais.
ATENÇÃO COM OS DETALHES
Morim lembra, porém, que cada setor tem seus meandros e é importante buscar apoios específicos nas etapas de análise, estruturação e implantação.
? É preciso entender como cada país tem sutilezas que devem ser analisadas no início dos planos. As diferenças de normas, regras econômicas e operação precisam ser avaliadas ? diz ele.
A TM, marca de moda das irmãs Maria e Isabel Teixeira de Mello, é um caso onde esses cuidados foram tomados. A dupla criou a grife em 2011 e, desde o começo, pensava no mercado internacional. Mas isso só se concretizou há cerca de um ano.
? Primeiro, foi preciso ter certeza de que as peças teriam qualidade para funcionar lá fora. Depois, nos planejamos muito. Além de toda a burocracia, procuramos um bom showroom, montamos um comercial internacional, fizemos feiras e contratamos uma assessoria de fora ? detalha Maria.
Entre as conquistas da marca estão a presença no site Moda Operandi e na multimarcas internacional Anthropologie. Para Maria, os esforços valem a pena:
? É um sucesso em maior escala. Nunca pensamos regionalmente. Queremos ver nosso produto circular. É o que nos traz prestígio. Além disso, funciona como um efeito dominó: se você conquista lugares estratégicos, como Europa e Estados Unidos, você conquista o mundo todo.