RIO ? Com a Olimpíada batendo à porta, é bem possível que quem gosta de esporte mas ainda não se animou a praticar um encontre o estímulo que faltava para começar a se movimentar. Mas só vontade não basta. É preciso tomar alguns cuidados e contar com acompanhamento especializado para evitar lesões e frustrações. O GLOBO-Barra ouviu especialistas que ensinam a escolher a melhor atividade, que na região pode ser praticada ao ar livre, na praia, em escolas e em clubes, como o Marina Barra, que oferece treinamento em várias modalidades.
O ortopedista José Luiz Runco trabalhou com a seleção brasileira de futebol por 16 anos. Agora ele se dedica às clínicas que mantém em Ipanema e na Barra, onde inaugurou em março um centro de medicina esportiva. Ele explica que, antes de iniciar uma modalidade, a pessoa deve fazer uma avaliação médica, verificando as condições musculoesqueléticas e cardiovasculares:
? Essas avaliações é que permitem que a pessoa faça atividade física com segurança ? diz Runco.
O clínico geral Luis Fernando Correia, chefe da unidade de emergência do Hospital Samaritano, atuou como coordenador médico geral da Copa das Confederações e da Copa do Mundo no Brasil. Ele acrescenta que também é necessário fazer uma preparação antes de se iniciar um esporte propriamente:
? É preciso um reforço muscular específico para evitar lesões e uma preparação física, quase como numa pré-temporada de jogador de futebol.
Runco destaca que a prática de esporte tem que ser regular e constante, sob pena de se sofrer lesões ou até complicações cardíacas:
? A pessoa não pode ficar parada a semana inteira e jogar dez partidas de futebol num fim de semana.
Os médicos também concordam que a natação é a modalidade mais indicada para quem pensa em começar a praticar esportes, principalmente para crianças e adolescentes, cujos corpos estão em formação.
? A natação é uma atividade aeróbica que movimenta todos os membros e não causa impacto nas articulações como a maioria das outras modalidades ? explica Runco.
Correia salienta que nem mesmo as doenças respiratórias são uma contraindicação para a natação:
? O esporte é ótimo também para quem está acima do peso, e trabalha a condição cardiorrespiratória.
Além da natação, eles indicam o remo como modalidade que não causa impacto nas articulações e trabalha vários grupos musculares. O atletismo, apesar de causar impacto, é outra boa opção, dizem, pois apoia-se em movimentos naturais e serve de base para a maioria dos esportes.
Apesar da admiração causada pelo desempenho dos atletas, também costuma ser consenso entre especialistas que o esporte de alto rendimento, aquele praticado em competições de nível elevado, como a Olimpíada, não representa ganho de saúde. Ao contrário, é comum ver atletas jogando à base de remédios e tratamentos fisioterápicos.
? Os esportes de alto rendimento são atividades estressantes, com grande índice de lesões. O atleta paga um preço muito alto no fim da carreira ? observa Correia.
? Alto rendimento sem dor não é alto rendimento ? sentencia Runco.
O que não deve ser opção é o treino de alto rendimento na infância, o que, segundo Runco, tem causado um grande número de lesões em crianças, principalmente no futebol:
? A meninada está participando de campeonatos cada vez mais cedo. Com isso, observamos que houve um aumento de lesões como a do ligamento cruzado anterior. Isso, inclusive, é tema de discussão em congressos em todo o mundo.
O professor Rogério Melo, que tem doutorado em Educação Física e Cultura e publicou o livro ?Esportes e jogos alternativos?, diz que não há uma idade certa para a iniciação ao esporte. Existem, sim, atividades adequadas para cada idade.
? O importante é respeitar a vontade da criança e ver se ela sente prazer ? diz.
Melo entende que a escola é o melhor lugar para o jovem começar a conhecer as atividades esportivas, pois já está inserido num ambiente de aprendizagem:
? Mas o esporte na escola precisa ter um viés diferente daquele que forma atletas. É importante aumentar o acervo motor da criança, com foco na saúde, principalmente agora, que elas já não brincam tanto na rua. Defendo que só aos 14 ou 15 anos a criança comece a trabalhar uma modalidade que se baseie em movimentos repetitivos.
Fora do colégio, em escolinhas especializadas, Melo entende que a iniciação esportiva pode ser mais precoce, desde que respeitadas as vontades e os limites físicos e psicológicos das crianças. O médico Sérgio Mauricio, membro titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, concorda.
? É fundamental que até os 12 anos não seja estimulada a competição, pois a cobrança extrema pode causar danos psicológicos de difícil tratamento. Atendo pacientes que sofreram grande pressão na infância, muitas vezes porque os pais tinham o sonho de praticar um esporte, e hoje sentem aversão a qualquer atividade física ? revela o médico.
Para quem busca números, Mauricio explica que a natação pode começar a ser praticada por bebês após os 6 meses. Para as outras modalidades, é preciso uma série de cuidados:
? De 5 a 8 anos, o recomendado é que se pratiquem jogos simples, para que a criança comece a entender as regras de forma lúdica e recreacional. Quando possível, os pais devem participar. Dos 8 aos 12, o objetivo é que a criança comece a se identificar com algum esporte, deixando as competições para a faixa dos 12 aos 14 anos, momento em que aprende a lidar com a vitória e a derrota.
Um mito é achar que a atividade física molda o biotipo do atleta. Correia explica que muita gente pensa, por exemplo, que o ginasta é baixo porque faz ginástica, ou que o jogador de basquete é alto porque treina o esporte.
? Não é a modalidade que cria um determinado shape no atleta; é o shape que se adapta a cada modalidade. Ocorre uma seleção natural. Por exemplo, se a criança faz ginástica e cresce muito, naturalmente não ficará na modalidade ? explica Mauricio. ? Pessoas de menor estatura serão mais bem-sucedidas na ginástica, no hipismo e no salto ornamental, enquanto os mais altos terão mais facilidade com basquete e vôlei.