Cotidiano

Dívidas milionárias expõem hospitais e saúde ao colapso

Defasagem da tabela é desafio para que unidades se mantenham funcionando

Toledo – Não é de hoje que hospitais públicos e privados da região acumulam dívidas milionárias e precisam tomar atitudes extremas para sair do vermelho. O caso mais recente no Oeste afeta uma tradicional unidade hospitalar, em Toledo, o Hospital Bom Jesus.

O montante a ser pago pela instituição ultrapassa a casa dos R$ 16 milhões, entre plantões médicos, empréstimos bancários, procedimentos clínicos e manutenção, já que é o único hospital da 20ª Regional de Saúde que atende como porta de entrada a 18 municípios ligados ao Ciscopar (Consórcio Intermunicipal da Costa Oeste do Paraná).

Sem dinheiro, a insuficiência financeira, que acumula todo o déficit do SUS (Sistema Único de Saúde), faz com que o hospital, como muitos outros do Paraná, peça socorro a quem também está à beira de um colapso.

Como uma das alternativas para evitar a falência, o superintendente do HBJ, Thiago Stefanello, solicitou apoio dos municípios vinculados ao Consórcio para que paguem a diferença de 20 leitos de UTI Adulto, cerca de R$ 322 a cada um deles, para completar os R$ 800 que deveriam ser pagos pelo governo federal. Hoje, o total encaminhado pelo Ministério da Saúde a cada leito é de R$ 478. Além disso, o Governo do Paraná injetará R$ 100 mil no valor do Hospsus, e complementará os valores da UTI Neonatal a partir de março.

Por sua vez, a habilitação da portaria 2395/2011 para a região Macro-Oeste, que está em vigor há cinco anos, é o principal anseio do setor. Com isso, hospitais e Santas Casas da região e também do Sudoeste receberiam R$ 8,5 milhões a mais todos os meses.

Segundo a administradora do Hospital Policlínica de Pato Branco, Gabriela Izidro, essa é uma discussão antiga da sociedade médica.

“Com a portaria, por exemplo, os valores das diárias das UTIs Adulto e Pediátrica passariam dos atuais R$ 478,72 para R$ 800”, diz. No entanto, o repasse ainda não é suficiente, já que o custo médio de cada leito é de R$ 900. “Não cobre 100% do nosso custo, mas melhoraria o cenário atual”, ressalta.

O Hospital Policlínica realiza constantemente cirurgias cardíacas pediátricas de pacientes de Cascavel, e possui ao todo 97 leitos gratuitos, com 25 vagas em UTIs, 70% delas pelo SUS.

Para tentar driblar a crise na saúde tornou-se, desde agosto do ano passado, uma unidade filantrópica, e mesmo assim precisou de crédito bancários para quitar dívidas de 13º salário de funcionários.

“Quem depende de SUS passa com certeza por dificuldades”, lamenta Gabriela.

Defasada

O discurso dos hospitais da região que atendem pelo SUS é o mesmo. A defasagem da tabela, que há dez anos não é reajustada, é mais um desafio para que as unidades consigam se manter em funcionamento. Desde 2006, a remuneração do sistema público aos hospitais é baixíssima.

Para se ter uma ideia, em relação a exames laboratoriais e de imagens, o SUS repassa ao hospital R$ 1 no caso do teste para detecção do HIV. Exames de sangue, por exemplo, rendem à unidade hospitalar a bagatela de R$ 1,53 cada. O subfinanciamento do sistema, conforme a superintendência do Bom Jesus, é crônico, visto que mais de 80% das Santas Casas e hospitais filantrópicos estão sufocados em dívidas. Somente com estas instituições, o montante devido chega a R$ 21 bilhões em todo o País.

Em Foz do Iguaçu, situação também é grave

Há dez anos, Foz do Iguaçu perdeu a Santa Casa, que amargava dívidas de R$ 15 milhões. O problema é antigo e era apenas a ponta do iceberg da derrocada dos hospitais. Com poucos recursos e com atendimentos acima do faturamento, a solução foi fechar as portas.

Na fronteira, os hospitais Padre Germano Lauck, que é municipal, e o Costa Cavalcantti – privado – possuem leitos gratuitos. No primeiro caso, a situação financeira também não é nada boa. A demanda de brasiguaios – brasileiros e seus dependentes estabelecidos no Paraguai – que utilizam a saúde pública é um dos gargalos enfrentados há anos pelo município. O controle fica difícil quando a unidade hospitalar é referência em atendimentos de urgência e emergência.

A administração do hospital, desde novembro de 2015, está a cargo de uma comissão estabelecida pela Prefeitura de Foz. Levantamento feito pela própria comissão aponta uma dívida de até R$ 45 milhões, além da falta de infraestrutura.

A reportagem de O Paraná procurou a assessoria de imprensa do hospital para esclarecimentos, mas não obteve retorno.