NOVA YORK ? Não há nada mais americano que super-heróis. E quem é o mais americano dos super-heróis? Capitão América. Em tempos de promoção de intolerância, o Capitão América vai às ruas dos Estados Unidos para combater esse mal. Só que, em vez da máscara, ele usa um turbante. Quando não está lutando contra o inimigo, o super-herói assume a identidade de Vishavjit Singh, um cartunista natural do estado de Maryland, filho de imigrantes indianos, e praticante do sikhismo, uma religião monoteísta da Índia com mais de 20 milhões de seguidores espalhados pelo mundo.
?Meu superpoder é minha capacidade de alterar percepções, destruir estereótipos e fazer com que as pessoas reavaliem o que é ser americano?, diz Singh.
Ele exerce seu superpoder ao fazer apresentações em escolas e universidade, além de ir a eventos como a Marcha das Mulheres, em Washington, realizada em protesto ao novo presidente americano, Donald Trump. A mensagem de Singh é simplesmente mostrar as diferentes caras da América.
Por causa de sua aparência física e roupas que não se enquadram no padrão americano convencional, o ativista disse que sempre foi vítima de intolerância, especialmente depois do atentado de 11/9. Mas ele sabe que o preconceito não é algo novo na sociedade americana.
?Todas as gerações têm medo de quem consideram ser ?ou outro?. Nos EUA mesmo, irlandeses, judeus e católicos já sofreram discriminação no passado.?
No entanto, Singh acredita que a última campanha presidencial piorou a situação. ?Um presidente como Donald Trump faz com que as pessoas se sintam mais livres para mostrar seus preconceitos.? capitão
LUTA CONTRA DISCRIMINAÇÃO
Singh, que já foi analista de software graduado pela Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, resolveu se dedicar à luta contra a discriminação depois do atentado de 11/9 criando quadrinhos com o Capitão América sikh. Mas a ideia de ir às ruas como o super-herói só foi colocada em prática em 2012, alguns meses depois de um supremacista branco matar a tiros seis membros da comunidade sikh, no estado de Wisconsin. Desde o atentado de 11/9, os praticantes do sikhismo têm sofrido mais agressões de pessoas que os confundem com muçulmanos, pois muitos dos homens seguidores da religião usam barba comprida e turbante.
O ativista conta que a maioria dos insultos que ele sofre vem de homens negros e hispânicos.
? É comum me chamarem de Osama Bin Laden e terrorista. Então tento um diálogo e pergunto se eles também são vítimas de preconceito.
Singh diz que, quase sempre, a troca é positiva e as pessoas que o atacaram pedem desculpas.
? As pessoas tendem a achar que só os brancos são preconceituosos, o que é um estereótipo. Todos nós somos produtos de preconceito ? acrescenta o cartunista.
O objetivo de sua arte é fazer com que as pessoas fiquem cientes de seus próprios preconceitos. O ativista conta que também foi exposto aos preconceitos de sua própria cultura. Quando era criança, Singh adorava desenhar, mas a família logo o dissuadiu de se dedicar à arte, pois já estava decidido que ele teria de ser médico ou engenheiro. Hoje sua família tem orgulho do seu trabalho como artista e ativista.
Ao visitar escolas, além de conversar sobre diversidade com crianças e jovens, Singh compartilha seus quadrinhos com o Capitão América sikh, dizendo que embaixo do turbante o super-herói tem um ?dispositivo explosivo conhecido como cérebro?. A ideia é promover o poder do conhecimento. O cartunista diz que as apresentações dão resultados imediatos, pois é muito comum os alunos, no final da sessão, criarem seus próprios quadrinhos integrando personagens de turbante e barba.
?Os jovens me dão muita esperança, pois são de uma geração mais aberta, mas temos tempos desafiadores à nossa frente. Precisamos ser mais engajados e também cobrar mais dos políticos?, diz o cartunista.